A diferença que existe entre o potencial de produtividade (produtividade máxima que uma cultivar pode atingir sob condições ideais, sem restrições hídricas ou nutricionais e livre de estresses bióticos, como doenças, pragas e plantas daninhas) e a produtividade real obtida no campo é denominada lacuna de produtividade (do inglês, Yield Gap). Compreender e identificar as causas dessas lacunas é fundamental para orientar estratégias que visem ao aumento da produtividade e à melhoria da rentabilidade das lavouras.

As lacunas de produtividade podem ser classificadas em dois tipos principais: lacunas de produtividade por água (LA) e por manejo (LM), e são calculadas através das seguintes equações:

  • LA = Potencial de produtividade – Potencial de produtividade limitado por água
  • LM = Potencial de produtividade limitado por água – Produtividade média ou real

 A soma dessas duas componentes representa a lacuna de produtividade total (LPt). No Brasil, os valores de LA e LM para a cultura da soja foram estimados em 2020 com base na metodologia proposta pelo Global Yield Gap Atlas (GYGA) (Tagliapietra et. al., 2022).

A LA média estimada para o Brasil é de 1,2 t ha⁻¹, com variações que vão de 3,8 t ha⁻¹ em Cruz Alta (RS) até 0,1 t ha⁻¹ em algumas regiões de Mato Grosso e Goiás. Esses dados indicam que o déficit hídrico é mais acentuado no Sul do país, resultado, principalmente, das diferenças nos regimes pluviométricos regionais. Enquanto no Centro-Oeste predomina o regime monçônico, caracterizado por chuvas intensas e concentradas durante o verão, no Sul prevalece o regime isoígro, com precipitações distribuídas ao longo do ano. No entanto, essa distribuição é fortemente influenciada por fenômenos meteorológicos como o El Niño-Oscilação Sul (ENOS), que pode provocar irregularidades nas precipitações (distribuição e intensidade), contribuindo para as elevadas lacunas de produtividade por água observadas nessa região (Figura 1).

Figura 1. Lacunas de produtividade em soja no Brasil representadas pelo tamanho das pizzas e a divisão em lacunas de produtividade causadas pelo manejo (LM – cor verde) e por défi cit hídrico (LA – cor azul). Essas estimativas foram realizadas pela Equipe GYGA Brasil (www.yieldgap.org/brazil).
Fonte: Equipe Field Crops

Para o cálculo da LM, foi adotada como produtividade média o valor de 3,0 t ha⁻¹, correspondente à média nacional dos últimos 20 anos (safras 2000/01 a 2020/21), conforme dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB – https://www.gov.br/conab/pt-br ) (Figura 2). A partir dessa referência, estimou-se que a LM média no Brasil é de 2,5 t ha⁻¹. O maior valor de LM foi observado em Campo Verde (MT), com 3,8 t ha⁻¹, enquanto o menor foi registrado em Cruz Alta (RS), com 0,8 t ha⁻¹. Em conclusão, na região Centro-Oeste as lacunas de produtividade estão mais relacionado a fatores de manejo, enquanto na região Sul as lacunas de produtividade são mais associadas ao déficit hídrico. (Figura 1)

Figura 2. Potencial de produtividade (PP), potencial de produtividade limitado por água (PPA), produtividade média (PM), lacuna de manejo (LM) e lacuna de água (LA) em soja no Brasil. Essas estimativas foram realizadas pela Equipe GYGA Brasil (www.yieldgap.org/brazil).
Fonte: Equipe Field Crops

Referências Bibliográficas.

CONAB – https://www.gov.br/conab/pt-br

GYGA – www.yieldgap.org

Tagliapietra et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades, 2 ed., Santa Maria: [s.n.], 2022.

 

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