O presente trabalho objetivou determinar a matéria seca residual de plantas em sistema de produção de milho silagem com escarificação e diferentes coberturas de inverno, em área com histórico de intenso cultivo de milho silagem em plantio direto.

Autores: Letícia Conzatti Piccinini¹; Amanda Posselt Martins²; Jeniffer Berté Valer3; Luciano Pinzon Brauwers3; Mateus Westerhofer Goulart3; Gian Ghisleni3; Thamires Rodrigues de Sá Valle4.

Introdução

No subtrópico, o milho é a matéria prima fundamental para a cadeia leiteira, através de sua ensilagem. A produção de leite é fonte de renda para muitos produtores rurais, especialmente nas regiões de vale (EMATER, 2017). A silagem de milho apresenta, frequentemente, produtividade abaixo do esperado e alto custo de produção. Esses fatores estão aliados, principalmente, ao baixo potencial produtivo do solo devido à ausência ou baixa adoção de manejo conservacionista, resultando em solos altamente compactados e com baixo aporte de resíduos para manutenção dos teores de matéria orgânica do solo (MOS) (Ferguson et al., 2005). A ausência de pousio e o uso de plantas de cobertura é prática indispensável para a sustentabilidade da atividade agrícola, pois protege a superfície do solo contra a erosão e adiciona MOS (Schick et al., 2000). Além disso, a descompactação do solo com o uso de maquinário pode ser uma alternativa, influenciando a manutenção de cobertura, a densidade e o conteúdo de água no solo e, em algumas situações, até mesmo aumentando a produtividade das culturas (Giacomeli et al., 2016). Nesse contexto, o presente trabalho objetivou determinar a matéria seca residual de plantas em sistema de produção de milho silagem com escarificação e diferentes coberturas de inverno, em área com histórico de intenso cultivo de milho silagem em plantio direto.

Material e Métodos

O experimento vem sendo conduzido desde abril de 2018 na propriedade da família Piccinini (Roca Sales/RS). O solo é um Cambissolo Háplico, com declividade média de 8%, alta compactação superficial, e teores de P, K, Cu e Zn classificados como muito altos (CQFS RS/SC, 2016). O delineamento experimental é o de blocos casualizados, com 3 repetições. Os tratamentos consistem em um fatorial 4 x 2, sendo 4 coberturas de inverno (1- aveia (Avena sativa); 2- aveia e ervilhaca (Vicia sativa); 3- nabo (Raphanus sativus); e 4- pousio) e 2 manejos de escarificação (1- com; 2- sem). A escarificação e semeadura das plantas de coberturas ocorreu em maio de 2018.

Ao fim do ciclo das plantas de cobertura (setembro de 2018), foi realizada a coleta para avaliação de rendimento de MS, em áreas de 0,25 m2, com o corte das plantas. Posteriormente, foi realizada a dessecação. A cultura do milho para silagem de planta inteira foi semeada com espaçamento de 50 cm, com 70.000 sementes/ha. A adubação com P e K não foi realizada e adubação nitrogenada foi de 220 a 240 kg N/ha, de acordo com a CQFS RS/SC (2016), para expectativa de 18 t MS/ha. Ao atingir o estádio de R5.5, que ocorreu com as plantas a 30-35% de MS, foi realizado o corte de 1 m linear de plantas por parcela, a 0,6 m de altura do solo.

A produtividade média de MS de silagem do experimento foi de 24 t/ha. A MS residual de colmos e folhas do milho foi coletada após a colheita mecanizada (fevereiro de 2019), com amostras de 1 m linear por parcela. Previamente à semeadura das coberturas do inverno de 2019, foi realizada a coleta das plantas espontâneas pós-colheita do milho para avaliação de rendimento de MS, em áreas de 0,25 m2, com o corte das plantas. A MS foi determinada de acordo com Tedesco et al. (1995). Os dados obtidos foram submetidos à ANOVA e ao teste de comparação de médias de Tukey (p<0,05).

Resultados e Discussão

A produção total média de MS residual pelas plantas de cobertura, pelo milho para silagem e pelas plantas espontâneas pós-colheita do milho foi de 9,3 t/ha. Cada um dos componentes citados contribuiu com 51, 29 e 20%, respectivamente (Fig. 1). Esse valor é muito próximo daquele recomendado para sistemas de produção no subtrópico para manutenção dos teores de matéria orgânica do solo, de 10 t/ha (Bayer et al., 2006), demonstrando que sistemas de produção de silagem podem não degradar o solo, sobretudo se manejados com práticas de manejo conservacionista.

Nesse sentido, os resultados também demonstraram que, quando o nabo é utilizado como cobertura de inverno, a escarificação do solo auxilia essa cultura a aumentar sua produção de MS (Fig. 1). Com a escarificação, o nabo foi a cobertura de inverno que obteve a maior produção de MS, similar à aveia, que também foi similar à aveia+ervilhaca e ao pousio, que obtiveram os menores valores. Sem a escarificação, a aveia apresentou a maior MS, similar à aveia+ervilhaca e ao nabo, que também foram similares ao pousio, que apresentou novamente os menores valores. Em relação à MS residual do milho para silagem e pelas plantas espontâneas pós-colheita do milho, não houve diferença entre os tratamentos avaliados (Fig. 1).

Na soma total de produção de MS residual, o sistema com aveia como planta de cobertura de inverno obteve os maiores valores (mais de 12 t/ha), sendo o único sistema que se diferenciou do pousio (6,6 t/ha), independentemente da escarificação do solo (Fig. 1). A sua utilização em consórcio com a ervilhaca ou a utilização isolada da cultura do nabo apresentou valores intermediários (10 t/ha). É importante salientar que esse estudo determinou somente a MS da parte aérea das culturas; ou seja, o potencial de produção de MS pode ser ainda maior se contabilizado a MS das raízes.

Figura 1. Matéria seca residual das plantas de cobertura (período de outono-inverno), do milho para silagem (período de primavera-verão) e das plantas espontâneas pós-colheita do milho (período de outono) em sistema de produção com diferentes plantas de cobertura de inverno e escarificação do solo (safra 2018/2019, Roca Sales/RS). Letras minúsculas diferenciam plantas de cobertura de inverno em cada escarificação do solo, letras maiúsculas diferenciam escarificação do solo em cada planta de cobertura de inverno e ausência de letras indica ausência de diferença estatística (teste de Tukey, p<0,05).


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Conclusão

Independentemente da escarificação do solo, todos os sistemas com plantas de cobertura de inverno produziram matéria seca suficiente para não haver degradação da matéria orgânica do solo (10 a 12 t/ha de resíduo por ano), o que não ocorreu com o sistema com pousio. O sistema com aveia como única planta de cobertura de inverno foi o que apresentou os maiores valores.

Referências

BAYER, C. et al. A method for estimating coefficients of soil organic matter dynamics based on long-term experiments. Soil Till Res. 91, 217–226, 2006.

CQFS-RS/SC – Comissão de Química e Fertilidade do Solo – RS/SC. Manual de calagem e adubação para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. 2016. 376p.

EMATER – Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural. Relatório socioeconômico da cadeia produtiva do leite no Rio Grande do Sul. Emater/RS-Ascar. 2017. 64p.

FERGUSON, R. B. et al. Long-term effects of sustained beef feedlot manure application on soil nutrients, corn silage yield, and nutrient uptake. J. Environ. Qual. 34, 1672-1681, 2005.

GIACOMELI, R. et al. Escarificação do solo e sulcadores em semeadora para cultivo de milho em Planossolos. Pesq. Agropec. Bras. 51, 261-270, 2016.

SCHICK, J. et al. Erosão hídrica em Cambissolo Húmico alumínico submetido a diferentes sistemas de preparo e cultivo do solo. R. Bras. Ci. Solo 24, 427-436, 2000.

TEDESCO, M. J. et al. Análise de solo, plantas e outros materiais. 2ª Ed. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1995. 174 p.

Informações dos autores

¹ Engª. Agrª. da Granja Piccinini, Roca Sales/RS;

² Professora do Departamento de Solos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre/RS;

³ Grauduando(a) em Agronomia da UFRGS, Porto Alegre/RS;

Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência do Solo da UFRGS, Porto Alegre/RS.

Disponível em: Anais do II Congresso Online para Aumento de Produtividade do Milho e Soja (COMSOJA), Santa Maria, 2019.

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