Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

As cotações da soja, após se aproximarem novamente dos US$ 9,00/bushel, recuaram no final desta primeira semana de agosto. O primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (06) em US$ 8,80/bushel, contra US$ 8,91 uma semana antes. A média de julho ficou em US$ 8,95, contra US$ 8,85 em julho de 2019, e US$ 8,67/bushel na média de junho do corrente ano.

O mercado externo começa a se preparar para o novo relatório de oferta e demanda do USDA, o qual deverá ser anunciado em 12/08. O mesmo poderá aumentar o volume da nova safra dos EUA já que as condições das lavouras têm melhorado sistematicamente nestas últimas semanas.

Tanto é verdade que até o dia 02/08 o índice de lavouras entre boas a excelentes chegou a 73% do total. Outros 21% estavam regulares e apenas 6% entre ruins e muito ruins. Lembrando que a colheita da soja nos EUA começa no final de setembro próximo. No início de agosto 85% das lavouras estadunidenses estavam em floração e 59% com formação de vagens.

Neste contexto, salvo um problema climático de última hora, os EUA deverão ter uma safra cheia neste ano. Isto pode representar uma produção final entre 112 a 118 milhões de toneladas, contra a frustrada safra passada que atingiu 96,7 milhões de toneladas.

Apesar do pequeno recuo em Chicago, os preços no Brasil se mantiveram em alta, puxados especialmente pela continuidade na elevação dos prêmios nos portos brasileiros, além de um câmbio que chegou a R$ 5,35 por dólar durante a semana.

Em termos dos prêmios, os mesmos já ultrapassaram os US$ 2,00/bushel em muitos portos nacionais, caso de Rio Grande que chegou a bater em US$ 2,30 pelo lado vendedor (os compradores têm ficado entre US$ 1,40 e US$ 1,70/bushel).

A pouca oferta de soja, ligada ao alto volume exportado e à forte demanda chinesa explicam este movimento. Segundo informações, em 10 dias a China comprou 37 navios de soja no mercado mundial, sendo 25 destes aqui do Brasil. Assim, as altas nos valores dos prêmios nos portos nacionais já se repercutem igualmente sobre a futura safra de soja brasileira. (cf. Agrinvest)

Esta situação colocou novamente os preços nominais médios em recorde histórico nesta semana. A média gaúcha no balcão fechou a semana em R$ 109,12/saco, enquanto nas demais praças o produto registrou os seguintes valores: R$ 104,00/saco no norte e oeste do Paraná; R$ 97,00 em Rio Verde (GO); R$ 106,00 em Luís Eduardo Magalhães (BA); R$ 105,00 em Campo Novo do Parecis (MT) e R$ 117,00/saco no CIF Maracaju (MS).

A falta de produto no país, além de aumentar os volumes de importação, está fazendo com que muitas indústrias moageiras comecem a parar suas atividades a partir de setembro, ou seja, mais cedo do que o normal.



Em termos regionais, no Mato Grosso (cf. Imea), a área semeada com soja deverá ser maior nesta nova safra, podendo atingir a 10,2 milhões de hectares, com aumento de 2,2% sobre o ano passado. Na prática, todos os Estados produtores no Brasil deverão aumentar suas áreas com soja nesta nova safra.

Por sua vez, as exportações nacionais da oleaginosa continuam firmes. Em julho o país teria exportado 8 milhões de toneladas, contra 7,4 milhões em julho do ano passado (cf. Anec). Com isso, o total acumulado neste ano chega a 74,2 milhões de toneladas, superando de longe os volumes negociados em 2018 e 2019, quando as vendas externas nesta época chegavam a 51 milhões de toneladas.

No complexo soja (grão, farelo e óleo) as vendas, nos sete primeiros meses do ano, atingem a 85,7 milhões de toneladas, contra 62,6 milhões no mesmo período do ano passado. Para agosto, projeta-se vendas externas ao redor de 6,7 milhões de toneladas.

Hoje o Brasil já embarcou 71% de toda a safra colhida no último verão, fato que ajuda a pressionar os preços para cima já que o produto disponível está cada vez mais escasso, enquanto a demanda externa, puxada pela China, continua firme. (cf. Brandalize Consulting) No atual ritmo, o Brasil poderá fechar 2020 com exportações de grãos de soja entre 81 e 82 milhões de toneladas.

Somente o Mato Grosso deverá exportar 22,1 milhões de toneladas de soja da safra 2019/20, enquanto o esmagamento local somará 10,3 milhões de toneladas.

Em termos das exportações de farelo de soja, a Anec espera que o Brasil atinja a 11,5 milhões de toneladas nos oito primeiros meses de 2020, caso se confirmem as vendas de 1,5 milhão de toneladas neste mês de agosto.

Ao mesmo tempo, diante das dificuldades de abastecimento interno, o país poderá fechar o ano com importações de soja na casa de um milhão de toneladas.

Neste contexto, não surpreende a tendência de aumento de área semeada na futura safra. Assim, em o clima ajudando, o país poderá até ultrapassar as 132 milhões de toneladas de soja previstas. Espera-se que o plantio tenha um incremento nacional de 1,1 milhão de hectares para 2020/21, com a área total podendo chegar a 38 milhões de hectares. (cf. Agroconsult) Este movimento se dá pelo entusiasmo dos produtores diante dos atuais preços, mesmo que os custos de produção tenham aumentado. Afinal, em clima normal, a rentabilidade média tem subido significativamente nestes últimos três anos na maioria dos Estados produtores.

Assim, no Mato Grosso, maior Estado brasileiro produtor de soja, a rentabilidade em 2018/19 foi de cerca de 800 reais/hectare, subindo para 1.482 reais/hectare em 2019/20, sendo agora projetada em aproximadamente 1.700 reais/hectare em 2020/21, caso as condições de mercado permaneçam. Aliás, não se pode esquecer que cerca de 50% da futura safra já foi negociada a preços futuros nos atuais níveis, o que leva os produtores a plantarem mais.

Enfim, em termos gerais, de janeiro a julho a demanda total de soja no Brasil, somando exportações e consumo interno, saltou de 72 milhões para 93,8 milhões de toneladas entre o ano passado e este ano. Isso significa um aumento de 30,3% em um ano, em um momento em que houve quebra em torno de 50% na safra gaúcha, terceiro produtor nacional, o que diminuiu em cerca de 10 milhões de toneladas a oferta total no país nesta última safra.


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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ

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