O Manejo Integrado de Pragas (MIP) consiste no controle de insetos-praga através da utilização de várias técnicas disponíveis dentro de um programa unificado, a fim de manter a população de organismos nocivos abaixo do limiar de dano econômico e minimizar os efeitos deletérios ao meio ambiente. Já o Manejo de Resistência de Insetos (MRI) engloba medidas que visam à prevenção de seleção de resistência em insetos-praga. Ambas os preceitos são fundamentais na construção de um programa de manejo de pragas eficiente e sustentável (GALLO et al., 2002).

Primeiramente, o MIP leva em consideração o ambiente (agroecossistema), o nível de controle das pragas, os programas de monitoramento, a taxonomia, biologia e ecologia da praga. Essas são as bases do MIP, enquanto seus pilares são os tipos de controle que podemos utilizar: cultural, biológico, comportamental, genético, varietal e químico. A tomada de decisão para o controle baseia-se na densidade populacional da praga, sua idade, intensidade do seu ataque, além da fase de desenvolvimento em que se encontra a planta. Essas informações são obtidas através de inspeções (amostragens) regulares na lavoura (CORRÊA-FERREIRA, 2012).

Figura 1. Bases e pilares de um programa de manejo integrado de pragas.

Fonte: Embrapa. Imagem original disponível clicando aqui



O controle cultural deve ser realizado independentemente da presença de pragas. Pode ser feito através da rotação de culturas, escolha da época adequada para a semeadura e colheita, ajuste da população de plantas, dentre outros. O controle biológico consiste em ações para preservar os inimigos naturais presentes na lavoura, ou seja, aqueles insetos que contribuem para a mortalidade natural das pragas no campo, auxiliando desta forma o equilíbrio no agroecossistema. Já o controle comportamental é a exploração de sinais químicos entre os seres vivos, como a utilização de feromônios para impedir o encontro entre machos e fêmeas e interromper o acasalamento, além do uso de armadilhas e plantas repelentes.

O controle genético envolve a supressão da população de praga mediante a manipulação de seu genoma, com o objetivo de reduzir a população de pragas através da diminuição do seu potencial reprodutivo. O controle varietal inclui o uso de plantas transgênicas que expressam proteínas inseticidas (Bt) para o manejo eficiente das pragas. E por fim, o controle químico consiste na utilização de inseticidas sintéticos preferencialmente seletivos, que atingem somente as pragas, mantendo vivos os inimigos naturais e organismos não-alvo.

As plantas geneticamente modificadas resistentes a insetos representam uma importante tática de controle dentro dos programas de MIP. Entretanto, devido à expressão contínua das proteínas inseticidas nos tecidos das plantas, estas exercem elevada pressão de seleção sobre as populações de pragas, possibilitando uma rápida evolução de resistência. Neste contexto, o manejo de resistência de insetos (MRI) torna-se fundamental por garantir que essa tática de controle permaneça viável para uso em longo prazo (BERNARDI et al., 2011).

As estratégias de MRI tem como objetivo evitar ou retardar a evolução da resistência de modo preventivo, ou seja, antes da resistência se tornar um problema econômico. No caso de plantas Bt, utilizam-se as estratégias de alta dose, refúgio e pirâmide de genes. A alta dose refere-se à expressão in planta da(s) proteína(s) Bt num nível suficientemente elevado para causar a morte de todos os insetos-praga homozigotos suscetíveis (SS) e, praticamente todos os heterozigotos (SR). As áreas de refúgio servem como um “reservatório” de insetos suscetíveis (SS). Do ponto de vista prático, os insetos da área de refúgio (cultivo não-Bt) devem dispersar para qualquer parte da área cultivada com Bt (BERNARDI et al., 2016).

Figura 2. Representação esquemática da estratégia de alta dose e refúgio sob dois pressupostos: planta Bt de alta dose – resistência recessiva (A) e planta Bt de baixa dose – resistência dominante (B).

Fonte: Bernardi et al., 2016.

O princípio básico da pirâmide de genes é que cada proteína inseticida expressa na planta deve ocasionar elevada mortalidade da sua respectiva praga-alvo, ou seja, cada proteína Bt deve matar todos ou a maioria dos insetos suscetíveis. Desta forma, os insetos resistentes a uma das proteínas da pirâmide serão mortos pela(s) outra(s) proteína(s), e vice-versa (BATES et al., 2005). Além disso, os preceitos do MRI aplicam-se também ao controle químico, preconizando a rotação de modos de ação dos inseticidas para evitar a seleção de populações resistentes.

Diante do exposto, percebe-se a importância de conciliar um sistema intensivo de cultivo com o uso de práticas agrícolas sustentáveis para o manejo de pragas. Os princípios básicos do MIP e do MRI otimizam o manejo de pragas e colaboram para a sustentabilidade e rentabilidade dos sistemas produtivos como um todo.

Revisão: Henrique Pozebon, doutorando PPGAgro – UFSM  e Prof. Jonas Arnemann, PhD. e Coordenador do Grupo de Manejo e Genética de Pragas – UFSM



REFERÊNCIAS:

BATES, Sarah L. et al. Insect resistance management in GM crops: past, present and future. Nature biotechnology, v. 23, n. 1, p. 57-62, 2005.

BERNARDI, Oderlei et al. Resistência de insetos-praga a plantas geneticamente modificadas. Borém, A.; Almeida, GD de. Plantas geneticamente modificadas: desafios e oportunidades para regiões tropicais. Visconde de Rio Branco: Suprema, p. 179-204, 2011.

BERNARDI, Oderlei et al. Manejo da Resistência de Insetos a Plantas Bt. Edição. PROMIP–Manejo Integrado de Pragas, Engenheiro Coelho, SP, Brasil, 2016.

CORRÊA-FERREIRA, Beatriz Spalding. Amostragem de pragas da soja. Soja: Manejo Integrado de Insetos e outros Artrópodes-Praga. Embrapa, Brasilia, DF, p. 631-672, 2012.

GALLO, D.; NAKANO, O.; SILVEIRA NETO, S.; CARVALHO, R.P.L.; BAPTISTA, G.C.; BERTI FILHO, E.; PARRA, J. R. P.; ZUCCHI, R. A.; ALVES, S. B.; VENDRAMIN, J. D.; MARCHINI, L. C.; LOPES, J. R. C.; OMOTO, C. Entomologia agrícola. Piracicaba: FEALQ, 2002. 920 p.

ROGGIA, S. et al. Manejo integrado de pragas. Embrapa Soja-Capítulo em livro científico (ALICE), 2020.

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