O azevém (Lolium multiflorum) é uma das plantas daninhas mais importantes e de manejo mais complexo no sistema de produção de trigo. A espécie se destaca pela elevada competitividade e alta produção e dispersão de sementes, o que favorece a ressemeadura natural, especialmente em áreas previamente cultivadas com o azevém como forrageira.
Em conjunto com essas características, algumas populações do azevém apresentam resistência conhecia a herbicidas pós-emergentes, o que dificulta ainda mais o controle efetivo dessa planta daninha. No Brasil, já foram relatados casos de resistência do azevém aos herbicidas inibidores da EPSPs (glifosato, 2003); inibidores da ALS (iodosulfurom-metílico, 2010); resistência múltipla a inibidores da ACCase e EPSPs (cletodim e glifosato, 2010); resistência múltipla a inibidores da ALS e ACCase (iodosulfurom-metílico e cletodim, 2016) e resistência múltipla aos herbicidas inibidores da ALS e EPSPs (iodosulfurom-metílico, piroxsulam e glifosato, 2017) (Heap, 2025).
Figura 1. Evolução dos casos de relato da resistência do azevém a herbicidas no Brasil.

Embora a dessecação pré-semeadura seja uma estratégia para o manejo do azevém, há uma limitada oferta de herbicidas habilitados para uso nesse momento, ficando limitado a diquate; glifosato e glufosinato de amônio. Sabe-se que o controle do azevém pelo glifosato está condicionado a sensibilidade das populações, podendo haver plantas resistentes. No caso do glufosinato o controle dependerá do estádio das plantas de azevém, sendo o controle mais efetivo em plantas com duas a três folhas e em doses de 400 a 600 g i.a. ha-1 . Já, o controle com o herbicida diquate dependerá da associação com herbicidas graminicidas (Rizzardi, s. d.).
Considerando a dificuldade em controle o azevém na pós-semeadura e os casos de resistência dessa planta daninha a herbicidas pós-emergentes, uma estratégia de manejo importante consiste na redução das populações infestantes atuando no banco de sementes do solo. Através do emprego de herbicidas pré-emergentes, é possível atuar nas sementes em processo de germinação, reduzindo os fluxos de emergência do azevém e possibilitando um melhor estabelecimento inicial do trigo no campo.
No entanto, as opções de herbicidas pré-emergentes para o controle do azevém em trigo ainda são limitadas, sendo a Pendimetalina (inibidor da formação de microtúbulos) e a Piroxasulfona (inibidor da síntese de ácidos graxos de cadeia muito longa) as principais alternativas disponíveis (Rizzardi, s. d.). Mais recentemente, foi lançado comercialmente um novo herbicida pré-emergente para o manejo do azevém na cultura do trigo: o Bixlozone, classificado como inibidor da Deoxi-D-Xilulose Fosfato (DXP) sintase (grupo F4 – HRAC).
Figura 2. Formula estrutural Bixlozone.

O Bixlozone é um herbicida seletivo e sistêmico de uso na pré-emergência. É absorvido pelas raízes e parte aérea das plantas daninhas recém germinadas e translocado de forma ascendente nas plantas via xilema durante o processo de transpiração (FMC, 2024.). Esse herbicida atua inibindo a enzima DOXP sintase, chave na via do metil-eritritol fosfato (MEP), responsável pela síntese de carotenoides. Sem esses pigmentos, a planta perde a proteção contra a degradação da clorofila pela luz, resultando em branqueamento dos tecidos jovens e morte da planta.
Figura 3. Modo de ação bioquímico do Bixlozone, pelo qual a molécula ativa keto-bixlozone inibe a enzima DXP sintase, impedindo a biossíntese de carotenóides, levando a um acúmulo de radicais livres e peroxidação lipídica.

Conforme ressaltado pelo pesquisador da Rede Técnica Cooperativa (RTC), Mário Bianchi, o novo herbicida pré-emergente representa um avanço importante no controle do azevém em trigo. No entanto, mesmo quando bem posicionado, não elimina a necessidade do uso de herbicidas pós-emergentes, sobretudo em áreas com altas infestações da planta daninha.
Veja mais: Controle pós-emergente do azevém em trigo
Confira abaixo as contribuições do pesquisador Mário Bianchi
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Referências:
FMC. AZUGRO®. FMC, 2024. Disponível em: < https://www.adapar.pr.gov.br/sites/adapar/arquivos_restritos/files/documento/2024-11/azugro.pdf >, acesso em: 01/09/2025.
FMC. ISOFLEXTMACTIVE. FMC, 2024. Disponível em: < https://www.fmc.com/sites/default/files/2024-10/Isoflex-tech-bulletin-Global%20Stewardship%20Bulletin_FINAL_8.29.24.pdf >, acesso em: 01/09/2025.
HEAP, I. THE INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE, 2024. Disponível em: < www.weedscience.org >, acesso em: 01/09/2025.
RIZZARDI, M. A. COMO CONTROLAR O AZEVÉM NO TRIGO? Up. Herb: Academia das Plantas Daninhas. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/int/como-controlar-o-azevem-no-trigo >, acesso em: 01/09/2025.