Atualmente, muitos são os desafios encontrados pelos produtores de soja para manterem a sustentabilidade do seu negócio e a lucratividade da sua atividade. Além da estiagem nesse ano agrícola 2021/22, os agricultores também se deparam com os altos preços dos fertilizantes e a necessidade de se buscar mais alternativas pensando a questão nutricional da soja, fator importante para se alcançar altos tetos produtivos. Por esse motivo, é fundamental entender as funções dos nutrientes na planta, bem como estratégias para otimizar o seu uso, com o objetivo de agir com eficiência e evitar custos desnecessários.
A cultura da soja, assim como outras plantas, necessita de nutrientes de origem orgânica e/ou mineral para completar o seu ciclo. Os nutrientes minerais podem ser divididos em: macronutrientes, requeridos em maiores quantidades e absorvidos em kg/ha como o Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K), Cálcio (Ca), Magnésio (Mg) e Enxofre (S)) e micronutrientes, requeridos em menores quantidades e absorvidos em g/ha (Boro (B), Cloro (Cl), Cobre (Cu), Ferro (Fe), Manganês (Mn), Molibdênio (Mo), Zinco (Zn) e Níquel (Ni)).
O desequilíbrio entre esses nutrientes, ocasionado pelo seu excesso ou falta no solo pode afetar o desenvolvimento das plantas, podendo comprometer a produtividade. Fato que também é explicado pela Lei de Liebig ou Lei do mínimo, onde Justus von Liebig cita: “O rendimento de uma safra é limitado pelo elemento cuja concentração é inferior a um valor mínimo, abaixo do qual as sínteses não podem mais fazer-se”.
Para a soja, as necessidades nutricionais com relação a extração de nutrientes pela parte aérea da planta e acúmulo nos grãos, segue a seguinte linha de importância: N > K > P, assim como demonstrado na Tabela 1.
Tabela 1. Quantidades médias de nutrientes contidos em uma tonelada de grãos e de restos culturais da soja.

Mas por que esses nutrientes são tão importantes e como podemos otimizar o seu uso na lavoura de soja? O nitrogênio tem importância primordial na produção de clorofila e desenvolvimento vegetativo, uma vez que está ligado à produção de proteínas e aminoácidos. Em contrapartida, a falta desse elemento às plantas pode ocasionar clorose nas folhas pelo baixo índice de clorofila e, consequentemente dificultar o processo de fotossíntese e desempenho da cultura.
Mais de 60% de todo N absorvido pela soja vem da fixação biológica e o restante é proveniente da matéria orgânica do solo. Por isso, não se faz necessária a aplicação de fertilizante nitrogenado na cultura. Como grande parte do N vem da fixação biológica, saliente-se a importância da prática da inoculação da semente com essas bactérias fixadoras de N, utilizando inoculante de qualidade e uma boa cobertura de cada semente. E, como o restante do N vem do solo, e esse é dependente do seu teor de matéria orgânica, destaca-se a importância da utilização de coberturas de solo no outono/inverno como forma de manter e/ou aumentar o teor de matéria orgânica, sempre com a utilização de coberturas de solo que aportam uma boa produção de biomassa, associado também a espécies fixadoras de N, como as leguminosas.
Com relação aos outros dois nutrientes mais aplicados na soja, entende-se que o K está diretamente associado ao rendimento de grãos, pois tem a função de regular a abertura e fechamento dos estômatos e também interfere na regulação osmótica. A sua baixa disponibilidade às plantas pode culminar em perda da qualidade de grãos, além dos sintomas característicos nas folhas: queima das bordas e amarelecimento. Já o P, tem papel importante na produção de energia à planta, pois participa da formação de ATP (Trifosfato de adenosina), necessário na realização da fotossíntese, divisão celular e transporte de assimilados. Sua falta resulta em sintomas típicos como a clorose das folhas e necrose internerval, além de inibir o crescimento das plantas. Quanto ao manejo desses nutrientes, o potássio pode ser aplicado a lanço, antes ou mesmo logo após a emergência em solos argilosos, com um cuidado maior com relação ao seu manejo em uma condição de solo de textura mais arenosa. Já para o fósforo, devido a sua dinâmica no solo, sua aplicação deve ser preferencialmente via sulco no momento da semeadura da soja.
Uma forma de se otimizar no uso de P e K é utilizando plantas que acumulem esses nutrientes para a safra seguinte, assim como já mencionado no caso do N. Para o P, por exemplo, de acordo com Wolschick et al. (2016), existe uma ótima relação de acúmulo desse nutriente quando é introduzido na área o cultivo de ervilhaca (são até 36,8 kg/ha de P acumulado na parte aérea e 4,2 kg/ha de P acumulado nas raízes). No caso do K, segundo este mesmo autor, os melhores resultados também são com a ervilhaca para acúmulo na parte aérea, sendo 358,4 kg/ha de K acumulado. Já referente ao acúmulo nas raízes, a melhor opção seria a aveia, com 63,3 kg/ha de K acumulado. O que demonstra a importância da rotação de culturas e planejamento equilibrado entre as safras ou, o cultivo consorciado de plantas de cobertura como a aveia preta e a ervilhaca, respeitando as particularidades de cada uma dessas espécies na proporção de sementes nessa mistura.
Aliado a isso, também existem outros fatores a serem considerados e que contribuem na otimização desses recursos, como é o caso da análise da fertilidade do solo e correção do pH. Corrigir e manter o solo com pH mais próximo da neutralidade é fator importante para que os minerais estejam disponíveis às plantas, por esse motivo a aplicação de calcário, quando necessário e na dosagem correta é fundamental. O calcário tem a função de elevar a CTC (Capacidade de Troca de Cátions) do solo, o que torna os nutrientes mais disponíveis e impede a lixiviação, além de agir neutralizando o alumínio tóxico que prejudica o desenvolvimento da cultura.
Por fim, reitera-se a importância da realização da análise de solo da área e o acompanhamento da evolução da fertilidade desse solo, bem como das exigências da cultura de acordo as condições edafoclimáticas de cada região. É a partir desse dados, planejamento, histórico de cultivo da área, aliado às tecnologias de precisão, que pode-se determinar a melhor estratégia para ser mais assertivo com relação a uma maior eficiência e economia de recursos.
Autores: Fernanda Trentin, Marcos André Bonini Pires
Referências:
EMBRAPA. SOJA: O PRODUTOR PERGUNTA, A EMBRAPA RESPONDE / Arnold Barbosa de Oliveira [et al..], editores técnicos. – Brasília, DF: Embrapa, 2019. Disponível em<https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/208388/1/500-PERGUNTAS-Soja-ed-01-2019.pdf>.
WOLSCHICK, N. H. et al. COBERTURA DO SOLO, PRODUÇÃO DE BIOMASSA E ACÚMULO DE NUTRIENTES POR PLANTAS DE COBERTURA. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, v.15, n.2, p.134-143, 2016.