O cultivo de arroz irrigado por inundação apresenta particularidades na dinâmica de nutrientes do solo em relação a ambientes não alagados. A lâmina de água atua como uma barreira física à difusão de oxigênio, reduzindo sua disponibilidade no solo. Essa limitação modifica a composição microbiana, favorecendo microrganismos anaeróbios que utilizam aceptores de elétrons alternativos ao O₂. Essa condição de hipóxia altera o ciclo biogeoquímico dos elementos, influenciando tanto a disponibilidade de nutrientes para as plantas quanto o pH do solo.
Entre os efeitos mais marcantes em solos alagados está a redução de óxidos de ferro (Fe³⁺) para a forma solúvel (Fe²⁺). Como o fósforo (P) apresenta forte afinidade com os óxidos de ferro, sua ligação a esses compostos é reduzida nesse ambiente. Assim, a diminuição dos óxidos de ferro resulta em maior disponibilidade de fósforo para as plantas (Tabela 1).
Tabela 1. Transformações que ocorrem nos nutrientes em função do ambiente aeróbico e anaeróbico.

Com a inundação do solo ocorre o consumo de íons hidrogênio (H⁺), o que resulta no aumento do pH (Figura 1). Esse processo, decorrente das reações de oxirredução, é conhecido como “autocalagem” em solos alagados.
Figura 1. Evolução do pH do solo após a inundação em diversas lavouras de arroz irrigado na Província de Corrientes – Argentina. Cada linha amostrada representa uma lavoura.

A Figura 1 mostra que a estabilização do pH do solo acontece geralmente entre 2 e 5 semanas após o estabelecimento da lâmina de inundação. Assim, a prática de calagem no arroz irrigado é recomendada apenas quando o pH em água estiver abaixo de 5,5 e a saturação por bases for inferior a 65%. Já em sistemas de pré-germinado, a calagem é indicada apenas para corrigir deficiências de cálcio (Ca) e/ou magnésio (Mg).
Referências Bibliográficas
MEUS, L. D. et al. Ecofisiologia do arroz visando altas produtividades. ed. 1, Santa Maria, 2021. 312p