Por não terem grande destaque no que se refere à sua aptidão agrícola, os solos de áreas consideradas marginais, normalmente, não tendem a ser foco de pesquisas. Porém, estudos que acabam de ser divulgados por uma equipe de pesquisadores da Embrapa lançam um novo olhar sobre esse assunto. A percepção mais acurada das variações nas frações arenosas encontradas nos solos de Cerrado, além de significar via para o uso mais sustentável de solo e água, revelou detalhes capazes de sustentar bons desempenhos da lavoura, inclusive, com economia nos custos de produção.

O estudo mostra que há a presença de solos intermediários entre as classes Neossolos e Latossolos, e aponta também para a necessidade de refinamento dos critérios de separação dessas classes, critérios estes que admitiriam distinguir diferentes tipos de solos, englobados hoje na classe dos arenosos, o que permitirá uma classificação mais pormenorizada dos solos e uma melhor avaliação do seu potencial agrícola.

Com o que se obteve desses estudos concluídos em junho passado, já é possível fornecer mais subsídios que auxiliarão na elaboração dos zoneamentos agrícolas, viabilizando um planejamento mais adequado de uso e gestão sustentável dos recursos naturais, fundamentais para o desafio de equilibrar potencial agrícola e manejo de conservação. Não obstante, a pesquisa vem de encontro à proposta de melhorar o aproveitamento em áreas agrícolas já utilizadas ou subutilizadas, prescindindo da abertura de novas áreas.

Fracionamento

Muito grossa, grossa, média, fina e muito fina. Esses foram os cinco tipos de fracionamento dos grãos de areia considerados nos trabalhos. Diferente da classificação geralmente utilizada, que leva em conta apenas três tipos de grãos (grossos, intermediários e finos), os estudos tiveram como base essa gradação por identificar que, na fronteira agrícola da região do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), os solos tinham um perfil mais arenoso e, ao mesmo tempo, elevados índices de produtividade. Isso chamou a atenção dos pesquisadores Heloisa Ferreira Filizola, da Embrapa Meio Ambiente; Ademir Fontana e Guilherme Kangussu Donagemma, da Embrapa Solos; João Herbert Moreira Viana, da Embrapa Milho e Sorgo, e Alfredo José Barreto Luiz e Manoel Dornelas de Souza, também da Embrapa Meio Ambiente.

A fim de aferir se tal dinâmica também se dava em outras áreas marginais, foram escolhidas para a pesquisa três regiões diferentes de Cerrado: Guaraí, TO, Campo Verde, MT, e Chapada Gaúcha, MG. O ponto central do trabalho girou em torno da relação entre o perfil granulométrico e o funcionamento hídrico desses solos. Na prática, essa relação tem grande importância na condutividade hidráulica e também dos nutrientes no solo, o que, naturalmente, está associado ao desempenho agronômico da lavoura e seus custos de produção, como explica a pesquisadora Heloisa Filizola.

Segundo ela, os solos estudados, em sua grande maioria, apresentam predomínio das frações areia fina, seguida da areia média e, em menor proporção, de areia muito fina, que possibilitam um arranjo mais ajustado das partículas e menor porosidade que vai interferir diretamente em seu funcionamento hídrico.

“Nos solos de areia muito fina, a velocidade de infiltração da água no solo é menor e, portanto mais favorável. Ao passo que nos solos com areia mais grossa — ainda que com as mesmas quantidades de argila — essa infiltração é mais rápida, requerendo mais água. Além de a areia mais fina representar um menor consumo hídrico, também traz vantagens no que diz respeito à retenção dos nutrientes que são colocados nos solos, reduzindo, em muitos casos, a necessidade se fazer adubações tão frequentes, como acontece em muitas áreas de Cerrado, nas quais os nutrientes vão embora rápido”, explica.

Ainda segundo ela, os estudos servem de base para novas pesquisas que irão trazer aprofundamentos sobre o tema. Uma dessas vertentes, por exemplo, são os comparativos entre culturas, apontando números a respeito do desempenho de cada uma quando plantadas na mesma área. Essa etapa da pesquisa, porém, já está prevista, mas dependendo liberação orçamentária.

A íntegra do trabalho pode ser lida neste link.

Fonte: Federação Brasileira de Plantio Direto e Irrigação

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