As altas sucessivas nos preços dos fertilizantes ao longo de 2021 já vinham deixando produtores brasileiros em alerta quanto à temporada 2022/23. Nos primeiros meses de 2022, no entanto, o movimento de avanço nos valores desse insumo foi intensificado, diante do conflito no leste europeu, que resultou em sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos, União Europeia e outros sobre a Rússia.

Esse contexto tem dificultado as transações de fertilizantes e também de outros produtos do país russo. Dados do projeto Campo Futuro – Sistema CNA/Senar, em parceria com o CEPEA/Esalq-USP, mostra que o fertilizante cloreto de potássio foi negociado no Brasil à média de R$ 6.824,00/tonelada em abril, alta de 10,6% em relação à de março. O valor observado em abril de 2022 é o maior, em termos reais (IGP-DI, base abril/22=100), desde janeiro de 2008.

Especificamente no período de fevereiro a abril, a cotação média foi de R$ 6.034,00/t, valorização real de 117,6% em relação ao mesmo período de 2021. Seguindo o mesmo movimento a cotação média do fertilizante MAP (fosfato monoamônico) foi de R$ 7.167/t em abril, alta de 1,9% frente ao mês anterior e o maior patamar real desde setembro de 2008.

No trimestre fevereiro-março-abril, a cotação média foi de R$ 6.457/t, alta média real de 37,8% em relação à do mesmo período de 2021. Já quanto à ureia, a tonelada foi negociada à média de R$ 5.569,0/t no Brasil em abril, desvalorização mensal de 5,1% em relação à de março.

No entanto, nos últimos três meses, o valor médio foi de R$ 5.277/t, avanço real de 57,4% em relação ao mesmo trimestre de 2021 (fevereiro-março-abril). Esses reajustes, por sua vez, já são repassados, em partes, aos gastos envolvendo a nova safra 2022/23. Simulando o novo cenário de custos o gasto médio orçado com fertilizantes para a produção de soja na safra 2022/23 aumentaria 83,2% em relação à estimativa da safra 2021/22 em média nas principais regiões produtoras do país.

A projeção para a safra 2022/23 indica que o sojicultor precisaria de 12,5 sacas de soja por hectare para a compra de fertilizante, contra 7,4 sacas/ha por hectare na safra 2021/22. Para o milho da safra verão e de segunda safra de 2022/23, os gastos com fertilizantes orçados cresceriam 93,3% e 43,3%, respectivamente, em relação às estimativas para safra 2021/22.

Quanto à projeção para a safra 2022/23, a quantidade de sacas de milho por hectare necessárias para comprar fertilizante seria de 53,4 para a produção de verão e de 23,5 para a segunda safra, contra 26,7 sacas/ha e 16,9 sacas/ha, respectivamente, para as primeira e segunda safras de 2021/22.

Outro fator impactante gerado pelo conflito no leste europeu foram as seguidas altas no valor do barril do petróleo WTI (West Texas Intermediate), que atingiu média de US$ 100,6 no trimestre fevereiro-março-abril/22, alta de 64,9% sobre o mesmo período do ano passado.

No Brasil, o preço do diesel subiu 51,6% na mesma comparação, segundo levantamento da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis). O valor médio do litro do diesel passou de R$ 4,12 no trimestre fevereiro-março-abril de 2021 para R$ 6,24 no mesmo período de 2022.

Com isso, o efeito da alta do diesel sobre o orçamento estimado para a operação mecânica subiria, em média, 12,6% para a safra 2022/23 em relação à de 2021/22 para a soja, 20,2% para o milho verão e 13,3% para o milho segunda safra. Tal incremento aliado ao movimento dos custos com fertilizantes pressionam as margens dos agricultores.

Quanto ao custo de produção operacional efetivo (COE) médio, estimado para a safra 22/23 de soja, esse sofreria um acréscimo de 40,2% frente ao orçado da safra 2021/22. Para o milho da safra verão, a alta seria de 51,0% e, para o milho segunda safra, de 23,4%. Com isso a produtividade de nivelamento para saldar o COE alcançaria 34,5 sacas de soja por hectare contra 26,2 sacas/ha para safra 2021/22; para o milho, ter-se-ia 111,9 sacas para a safra de verão e 56,9 sacas para a segunda safra de 2022/23 como produção mínima para arcar com as despesas de desembolso, contra 79,6 sacas/ha e 47,5 sacas/ha da safra 21/22, respectivamente.

Embora os preços dos produtos agrícolas também tenham subido no período analisado (entre o trimestre fevereiro-março-abril de 2021 e o mesmo trimestre de 2022), o aumento nos itens que estruturam o custo de produção foi maior.

Neste contexto a necessidade de se atingir a produtividade de nivelamento para a oleaginosa é o primeiro ponto para a busca por margens para saldar a depreciação e juros sobre capital investido na atividade. Para o milho, sobretudo o da segunda safra, o fator clima é mais um ponto de atenção para garantir uma produtividade suficiente para saldar os custos.


Para as simulações acima, foram considerados dados técnicos levantados pelo Projeto Campo Futuro (parceria entre o Cepea e a CNA) da safra 2020/21, os preços dos insumos atualizados mensalmente pela Equipe do Cepea e os custos médios de produção da soja e do milho verão da safra 2021/22. Além disso, foi considerado que, em média, 60% dos fertilizantes desta temporada 2021/22 foram comprados com os preços médios do primeiro trimestre de 2021 e outros 40%, com os valores médios do segundo trimestre de 2021. No caso dos demais itens que estruturam o custo de produção, foram considerados que os valores médios do primeiro trimestre de 2021 representaram 30% do custo e os do segundo trimestre de 2021 tiveram peso de 70%. Para representar a safra 2022/23 assumiu-se os preços médios de novembro de 2021 e abril de 2022. Os valores médios estimados para milho segunda safra compreendem o período de abril a dezembro de 2021 para representar safra 2021/22 e de fevereiro a abril de 2022 para caracterizar 2022/23.


Fonte: CNA



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