Este trabalho objetivou analisar a produtividade de grãos da cultura da soja, cultivada em terras baixas e sob plantio direto, com aplicação de diferentes doses de gesso agrícola.
Autores: Gian Ghisleni¹; Amanda Posselt Martins²; Jeniffer Berté Valer¹; Luciano Pinzon
Brauwers¹; Mateus Westerhofer Goulart¹; Lóren Pacheco Duarte¹; Felipe de
Campos Carmona³
Introdução
A utilização do gesso agrícola (CaSO4.2H2O) pode promover a melhoria das características químicas do solo em camadas subsuperficiais. Por apresentar maior solubilidade do que o calcário, o gesso tem ação em maior profundidade, sendo capaz de diminuir a atividade do Al+3, através do incremento de cálcio (Ca²+) e sulfato (SO42-) (Dalla Nora et al., 2017). Entretanto, doses elevadas podem favorecer a lixiviação de cátions básicos das camadas superficiais, como o potássio (K+) e o magnésio (Mg2+) (Pauletti et al. 2014), pelo excesso de Ca2+ aplicado e a formação de pares iônicos de carga neutra com o SO42- . A presença de altas quantidades de SO42- também pode reduzir a disponibilidade de molibdênio, já que este também é suprido na forma aniônica (MoO42-), acarretando prejuízos na fixação biológica, fonte primária de N para a cultura da soja (Gelain et al., 2011).
A área de cultivo de soja nas terras baixas do Rio Grande do Sul apresentou um aumento considerável nas últimas safras, surgindo como alternativa para proporcionar uma maior viabilidade econômica dos sistemas de produção de arroz irrigado (IRGA, 2019). No entanto, trata-se de um ambiente hostil para a soja, devido à suscetibilidade da cultura ao estresse hídrico por excesso ou déficit, o que resulta em médias baixas de produtividade quando comparado a lavouras em terras altas (IRGA, 2017). Assim, manejos de solo que promovam uma melhor distribuição radicular das plantas, como a gessagem, podem auxiliar na busca por maior rendimento de grãos nessas condições. Nesse contexto, este trabalho objetivou analisar a produtividade de grãos da cultura da soja, cultivada em terras baixas e sob plantio direto, com aplicação de diferentes doses de gesso agrícola.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido na Estação Experimental da Integrar, no município de Triunfo/RS, durante a safra 2017/2018, em área com histórico de cultivo de arroz irrigado. No inverno de 2017, a área foi preparada e houve o cultivo de aveia preta como cultura de cobertura, com a soja em sucessão sendo cultivada sobre a palha. As características químicas do solo na camada de 0-20 cm eram as seguintes: 16% de argila; pH em água (1:1) de 5,0; índice SMP de 6,2; P e K disponíveis de 7,9 e 74 mg/dm³, respectivamente; matéria orgânica de 1,2%; Ca, Mg e Al trocáveis de 3,6; 0,6 e 0,5 cmolc/dm³, respectivamente; e CTC a pH 7 de 7,9 cmolc/dm³. Os tratamentos consistiram em seis diferentes doses de gesso agrícola (0; 0,25; 0,50; 1,00; 2,00; e 4,00 t/ha). O delineamento experimental foi o de blocos casualizados, com quatro repetições. As doses de gesso foram aplicadas na superfície do solo, anteriormente à semeadura da cultura (15/11/2017).
A semeadura foi realizada em 1º/11/2017, com espaçamento de 45 cm entrelinhas e 11 plantas/m (variedade Brasmax Garra IPRO). A adubação de fósforo e potássio foi realizada com aplicação de 110 kg P2O5 ha-1 e 120 kg K2O ha-1, nas formas de superfosfato triplo e cloreto de potássio (CQFS RS/SC, 2016). Os manejos foram realizados seguindo as indicações técnicas para a cultura da soja no Rio Grande do Sul e Santa Catarina (RPSRS, 2016). Não se constatou déficit hídrico durante o ciclo da cultura, com pluviosidade aproximada de 760 mm entre os meses de novembro e abril. A produtividade da soja foi estimada em 20/4/2018, com o corte de 1 metro linear em cinco locais representativos das parcelas. As plantas foram trilhadas e os grãos foram pesados. Posteriormente, a umidade dos grãos ajustada para a umidade padrão de 13%. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância (p<0,05) e ao teste de comparação de médias de Tukey (p<0,05).
Resultados e Discussão
Nas condições do experimento, a produtividade de grãos da cultura da soja não foi influenciada pela aplicação de diferentes doses de gesso agrícola, sendo que a média de produtividade ficou em 3,7 t/ha (Fig. 1), valor maior do que o médio das terras baixas (IRGA, 2017; IRGA, 2019).
Figura 1. Produtividade de grãos de soja com aplicação de diferentes doses de gesso agrícola em sistema de plantio direto em terras baixas (safra 2017/2018, Triunfo/RS). Médias seguidas da mesma letra não diferem entre si pelo teste de Tukey a 5% de significância.
Esse resultado corrobora com o observado por Tiecher et al. (2018), em uma meta-análise que reuniu dados disponíveis em 20 publicações, abrangendo 73 cultivos, onde não se observou resposta da cultura da soja à aplicação de gesso, exceto na ocorrência simultânea de alta acidez subsuperficial e de déficit hídrico – que não foi o caso da presente safra. A realização de uma calagem adequada, com a incorporação do calcário anteriormente ao início do plantio direto, evita a ocorrência de toxidez por Al3+ e deficiências nutricionais, podendo eliminar ou reduzir a necessidade da aplicação de gesso.
A ausência de resposta da soja à gessagem pode ser explicada por diversos fatores. Entre eles, está a maior capacidade das leguminosas, quando comparadas às gramíneas, em absorver Ca da solução do solo. Assim, o aumento da disponibilidade desse cátion pode ter pouca influência na produtividade da soja. Teores de S no solo que suprem a necessidade da cultura e adequada quantidade de chuvas durante o ciclo também explicam a ausência de resposta (Tiecher et al., 2018). Para compreender melhor o efeito da gessagem na soja em plantio direto, em terras baixas, estudos futuros que contemplem os atributos químicos nas camadas subsuperficiais do solo e diferentes condições de pluviosidade devem ser realizados.
Conclusão
A aplicação de gesso agrícola, em doses de 0,25 a 4,00 t/ha, não influenciou a produtividade da cultura da soja cultivada em terras baixas e em plantio direto, em safra agrícola com ausência de déficit hídrico.
Referências
CQFS-RS/SC – Comissão de Química e Fertilidade do Solo – RS/SC. Manual de calagem e adubação para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. Sociedade Brasileira de Ciência do Solo. 2016. 376p.
DALLA NORA, D., Amado, T.J.C., Nicoloso, R.S., Mazuco, A.C.B., Piccin, M. Mitigation of the gradient of chemical properties in the rooting zone of dystrophic oxisols by gypsum and lime inputs under a no-till system. Rev. Bras. Cienc. Solo 41,1–22, 2017.
GELAIN, E., Rosa Junior, E. J., Mercante, F. M., Fortes, D. G., Souza, F. R. de, & Rosa, Y. B. C. J. Fixação biológica de nitrogênio e teores foliares de nutrientes na soja em função de doses de molibdênio e gesso agrícola. Ciência e Agrotecnologia, 35(2), 259–269, 2011.
IRGA – Instituto Rio-Grandense do Arroz. Soja em rotação com arroz – Evolução área e produtividade. Disponível em: <http://www.irga.rs.gov.br>. Acesso em: 15 jun. 2019.
IRGA – Instituto Rio-Grandense do Arroz. Soja 6000, Manejo para alta produtividade em terras baixas. Porto Alegre: Gráfica e Editora RJR, 2017. 96p.
PAULETTI, V., Pierri, L., Ranzan, T., Barth, G., Motta, A.C.V. Efeitos em longo prazo da aplicação de gesso e calcário no sistema de plantio direto. Rev. Bras. Cienc. Solo 38, 495–505, 2014.
RPSRS – REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO SUL. Indicações técnicas para a cultura da soja no Rio Grande do Sul e Santa Catarina, safras 2016/2017 e 2017/2018. Passo Fundo: Embrapa Trigo e Apassul, 2016.
TIECHER, T.; Pias, O.H.C.; Bayer, C.; Martins, A.P.; Denardin, L.G.O.; Anghinoni, I. Crop response to gypsum application to subtropical soils under no-till in Brazil: a systematic review. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Viçosa, v. 42, e0170025, 2018.
Informações dos autores
¹Acadêmico(a) do Curso de Agronomia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre/RS. E-mail: gianghisleni@gmail.com;
²Professora do Departamento de Solos da Faculdade de Agronomia da UFRGS, Porto Alegre/RS. E-mail: amanda.posselt@ufrgs.br;
³Pesquisador, Integrar – Gestão e Inovação Agropecuária, Capivari do Sul/RS;. E-mail: felipecarmona@integrarcampo.com.br.
Disponível em: Anais do II Congresso Online para Aumento de Produtividade do Milho e Soja (COMSOJA), Santa Maria, 2019.