A rotação de culturas com a soja é fundamental para garantir a sustentabilidade e rentabilidade de cultura como soja e milho em sistemas de produção agrícola. Embora a rotação de culturas seja muito adotada em propriedades agrícolas, normalmente a diversidade dos cultivos fica limitada a culturas tradicionais como milho, soja, trigo e aveia.
Entretanto, visando não só o manejo de pragas como também de doenças, plantas daninhas e a melhoria de atributos físicos do solo, a diversificação de culturas é indispensável para a viabilidade da lavoura a longo prazo. Uma das culturas que podem contribuir para essa diversificação é o sorgo, planta que apresenta diversas finalidades, sendo a mais conhecida dalas a produção de grãos.
O sorgo granífero reuni características que tornam a cultura atrativa para uso no sistema de produção agrícola, principalmente com relação aos benefícios trazidos ao solo. Em virtude do seu vasto sistema radicular, a planta possui significativa habilidade em ciclar nutrientes do solo, além de apresentar elevada produção de biomassa.
Conforme observado por Teixeira et al. (2011), a produção de biomassa do sorgo pode ultrapassar os 6.000 kg h-1 no período de maturação fisiológica da cultura, resultando em mais de 3.000 kg ha-1 de matéria seca. Os resíduos culturas do sorgo contribuem expressivamente para a cobertura do solo, possibilitando a redução das erosões superficiais e da amplitude térmica do solo, entre outros fatores.
Figura 1. Raízes de sorgo em comparação a de outras culturas produtoras de grãos e plantas de cobertura.

Além dos benefícios ao solo, o sorgo contribui diretamente para o manejo de pragas em cultura agrícolas como soja e milho. Conforme destacado por Inomoto & Asmus (2009), a cultura do sorgo é considerada uma má hospedeira de algumas das principais espécies de nematoides fitopatogênicos que acometem a cultura da soja (tabela 1). O cultivo de espécies consideradas más hospedeiras de nematoides contribui para a redução do fator de reprodução da praga, reduzindo significativamente as populações futuras de nematoides, fato que contribui para o controle deles.
Tabela 1. Culturas para formação de palhada no SPD e efeitos sobre os fitonematoides*.

Além dessa importante contribuição no controle de nematoides, o sorgo desempenha importante contribuição no manejo da cigarrinha do milho (Dalbulus maidis) que é o único inseto vetor dos molicutes (espiroplasma e fitoplasma) causadores dos enfezamentos na cultura do milho.
Embora apresente particularidades com a cultura do milho, a cigarrinha do milho não ataca nem se reproduz na cultura do sorgo (Nussed, 2022), logo, a rotação de culturas utilizando a cultura do sorgo pode ser uma importante ferramenta de manejo para reduzir os níveis populacionais da cigarrinha do milho.
As atrativas características do sorgo, vem impulsionando o crescimento da cultura no Brasil, segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), o país produziu 2,85 milhões de toneladas de sorgo na última safra (36,9% a mais que no período anterior), em uma área plantada de 1,03 milhão de hectares (incremento de 19,4%). A produtividade, segundo a instituição, está em 2.763 quilos por hectare, com variação positiva de 14,6% em relação à safra 2020/2021.
Entretanto, para o sucesso produtivo do sorgo, algumas características devem ser levadas em consideração na cultura, sendo uma das principais, a escolha do híbrido. Conforme destacado por Eicholz (2020), há um predomínio do uso de híbridos simples de sorgo. Os híbridos expressam a produtividade máxima na primeira geração, sendo necessária a aquisição de sementes todos os anos. Na segunda geração (F2), a produtividade é reduzida em 15% a 40%, dependendo do híbrido (Eicholz et al., 2020).
Embora atualmente as cultivares modernas apresentem baixo nível de micotoxinas, na segunda geração (F2), reduções da qualidade dos grãos de sorgo podem ser observadas. Logo, é fundamental atentar para a escolha da cultivar e híbrido, sendo recomendado, analisar fatores como: Tolerância a períodos de déficit hídrico principalmente em pós-florescimento; resistência ao acamamento e ao quebramento; porte entre 1 e 1,5 m, com boa produção de massa residual; ciclo curto a médio; resistência às doenças predominantes na região de cultivo; presença de folhas verdes após a maturação fisiológica dos grãos; presença de tanino nos grãos (antipássaros), para cultivo em áreas com presença abundante de pássaros (Eicholz et al., 2020).
Confira então, um resumo dos 10 benefícios do cultivo do sorgo (Nussed, 2022):
- Reciclagem de nutrientes;
- Menor custo de produção;
- Baixo nível de micotoxinas;
- Auxilia no manejo de plantas daninhas;
- baixo fator de reprodução das principais espécies de nematoides;
- Fornece uma alimentação animal (silagem) com menor custo de produção;
- Ausência de ataque na cultura pela praga principal do milho na atualizada: a cigarrinha.
- Raízes profundas e agressivas auxiliam na estrutura do solo;
- Maior segurança na produção em cenários de déficit hídrico e altas temperaturas.
Cabe destacar que o sorgo granífero apresenta ampla aptidão para uso no sistema de produção agrícola, em especial na rotação de culturas. Sendo assim, analisando os benefícios proporcionados pelo sorgo, inserir a cultura no sistema de produção pode ser uma importante ferramenta de manejo, contribuindo para a sustentabilidade e indiretamente para a rentabilidade de culturas sucessoras.
Veja mais: Produção de sorgo no Brasil sobe mais de 36% em apenas uma safra
Referências:
CONAB. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. 2022. Disponível em: < https://www.conab.gov.br/ >, acesso em: 07/10/2022.
EICHOLZ, E. D. et al. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA O CULTIVO DO MILHO E SORGO NA REGIÃO SUBTROPICAL DO BRASIL: SAFRAS 2019/20 E 2020/21. Associação Brasileira de Milho e Sorgo, 2020. Disponível em: < https://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/202011/23092828-informacoes-tecnicas-para-o-cultivo-do-milho-e-sorgo-na-regiao-subtropical-do-brasil-safras-2019-20-e-2020-21.pdf >, acesso em: 07/10/2022.
INOMOTO, M. M.; ASMUS, L. CULTURAS DE COBERTURA E DE ROTAÇÃO DEVEM SER PLANTAS NÃO HOSPEDEIRAS DE NEMATOIDES. Visão Agrícola, n. 9, 2009. Disponível em: < https://www.esalq.usp.br/visaoagricola/sites/default/files/VA9-Protecao04.pdf >, acesso em: 07/10/2022.
NUSEED BRAZIL. SORGO, 2022. Disponível em: < https://nuseed.com/br/cultura/sorgo/ >, acesso em: 07/10/2022.
TEIXEIRA, M. B. et al. DECOMPOSIÇÃO E LIBERAÇÃO DE NUTRIENTES DA PARTE AÉREA DE PLANTAS DE MILHETO E SORGO. R. Bras. Ci. Solo, 35:867-876, 2011. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/rbcs/a/LKxszKSLRz9mrfJRNQw7MjK/ >, acesso em: 07/10/2022.
TIECHER, T. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO SUL DO BRASIL: PRÁTICAS ALTERNATIVAS DE MANEJO VISANDO A CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA. UFRGS, 2016. Disponível em: < https://lume.ufrgs.br/handle/10183/149123 >, acesso em: 07/10/2022.