O potencial de produtividade (PP) é definido como o máximo que uma cultivar pode produzir crescendo sem limitações de água, nutrientes, livre de estresses bióticos (doenças, pragas e plantas daninhas) sendo sua taxa de crescimento determinada pela radiação solar, temperatura, CO2 e genética (Evans, 1993; Van Ittersum & Rabbinge, 1997). O potencial de produtividade limitado por água (PPA) é semelhante ao PP, além de ser influenciado pela quantidade e distribuição da água, características de solo e relevo que interferem no armazenamento de água para a cultura (Van Ittersum et al., 2013; FAO & DWFI, 2015). Ou seja, PP e PPA são usados para lavouras irrigadas e não irrigadas, respectivamente.

Figura 1. Fatores que definem o potencial de produtividade de uma lavoura, que limitam a produtividade alcançável e que reduzem a produtividade atual em relação ao nível e situação de produção.

Para calcular o potencial de produtividade foi utilizado o modelo ecofisiológico CROPGRO soybean e estimado pela equipe GYGA Brasil (www.yieldgap.org/brazil).  O potencial produtivo do Brasil variou de 5.7 a 7.5 ton ha-1, sendo o maior valor encontrado para Cruz Alta-RS e o menor em Baixa Grande do Ribeiro-PI, maior e menor latitude, respectivamente.

Ao analisar a figura 2 (A), é possível verificar que existe um “gradiente” de PP no Brasil, sendo os menores valores encontrados ao norte do Brasil e maiores no Sul do país. Isso se explica pelo coeficiente fototérmico, ou seja, quanto maior o coeficiente fototérmico, maior a eficiência energética e maior a produtividade (Zanon et al., 2016). O ajuste do grupo de maturação e data de semeadura pode aumentar o potencial produtivo em função da região, fazendo com que coincida o momento de maior área foliar com o de maior disponibilidade de radiação, que ocorre ao final de dezembro.

O potencial produtivo limitado por água variou de 3.1 a 6.9 ton ha-1, sendo o maior valor encontrado em Campo Verde-MT e o menor em São Luiz Gonzaga-RS. Esses valores se comportam contrariamente aos de PP, onde, no PPA, o gradiente vai de norte a sul do Brasil diminuindo quanto mais ao sul (figura 2 (B)).

Isso se dá pela variação do regime hídrico, onde, no Sul, predomina o regime isoigro (precipitação distribuída durante todo o ano), fortemente afetado por fenômenos meteorológicos, como o ENOS, sendo a região que mais sofre com a seca (Arsego et al., 2018). Diferentemente da região centro-oeste, onde o regime de precipitações é monçônico com a ocorrência de precipitações regulares durante o verão (estabelecimento do cultivo). Logo, apesar da região sul apresentar um regime hídrico em torno de 600 mm durante a estação de cultivo, a má distribuição de chuvas faz com que ocorra a redução do PPA.

Figura 2. Potencial de produtividade, em ton ha-1 de soja no Brasil; (A) potencial de produtividade PP, (B) potencial de produtividade limitado por água. Fonte: Equipe FieldCrops e GYGA Brasil (www.yieldgap.org/brazil).

Como um grande fator que interfere no potencial produtivo da soja, no Brasil, é a data de semeadura, distribuiu-se as regiões do Brasil em 5 faixas e determinou-se o potencial de produtividade, a data que inicia a redução do potencial e as perdas causadas pelo atraso na semeadura. Na primeira faixa (Pará, Piauí, Maranhão e norte do Tocantins) o potencial de produtividade pode chegar a 5,7 ton ha-1, com redução do potencial em 20 kg ha-1 dia-1 em semeaduras após 18 de novembro.

Na segunda faixa (centro e norte do Mato Grosso, sul do Tocantins, norte de Goiás e a Bahia) o potencial de produtividade varia de 5,7 a 6,1 ton ha-1, reduzindo seu potencial 27 a 29 kg ha-1 dia-1 em semeaduras após 6 de novembro e 16 de novembro, respectivamente. Na terceira região (sul do Mato Grosso, sul de Goiás, norte do Mato Grosso do Sul, norte de São Paulo e Minas Gerais) o potencial de produtividade varia entre 6,1 a 6,7 ton ha-1, onde há redução do potencial de produtividade de 33 a 37 kg ha-1 dia-1 em semeaduras após 3 a 15 de novembro, respectivamente.

A quarta região (sul do Mato Grosso do Sul, sul de São Paulo, norte de Santa Catarina e o Paraná) possui produtividade potencial variando de 6,7 a 7,2 ton ha-1, com perda do potencial de 39 a 42 kg ha-1 dia-1, em semeaduras realizadas a partir de 27 a 31 de outubro, respectivamente. A quinta região (Rio Grande do Sul) apresenta o potencial de produtividade variando de 6,5 a 7,2 ton ha-1, com redução de 37 a 39 kg ha-1 dia-1 em semeaduras realizadas entre 23 de outubro e 4 de novembro, respectivamente.

Figura 3. Potencial de produtividade de soja (kg ha-1), início da queda do potencial produtivo e redução diário no potencial de produtividade em 5 faixas de latitudes do Brasil. Fonte: Equipe FieldCrops e GYGA (www.yieldgap.org/brazil).

A partir disso é possível concluir que:

  • Há relação direta entre o potencial produtivo e a latitude;
  • Quanto maior o potencial de produtividade, maior será a perda do potencial em decorrência do atraso da época de semeadura;


DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.