- Para a obtenção de boas produtividades, a soja necessita em média de 650 mm a 700 mm durante seu ciclo (Neumaier et al., 2020)
- Durante o período reprodutivo, a evapotranspiração da soja pode atingir picos de até 8 mm dia-1
- Conforme observado por Rossatto et al. (2022), R2 é o período em que a soja demanda mais água
A disponibilidade hídrica é um dos principais fatores limitantes da produtividade da maioria das culturas agrícolas. Com a soja, não é diferente, embora varie em função da cultivar, em média, durante o ciclo de desenvolvimento da cultura, são necessários cerca de 650 mm a 700 mm para a obtenção de boas produtividades (Neumaier et al., 2020).
Uma forma de mensurar a necessidade hídrica da cultura é por meio da sua evapotranspiração (ET), que pode variar em função das condições climáticas, ambientais e também estádio do desenvolvimento da planta. A evapotranspiração pode ser compreendida como a multiplicação entre os coeficientes de cultivo (Kc) e a evapotranspiração de referência (ETo), sendo que para a maior parte dos cultivos agrícolas, os valores de coeficientes de cultivo variam de acordo com o estádio de desenvolvimento da cultura, apresentando pico no auge do desenvolvimento da cultura.
Em outras palavras, a evapotranspiração de uma planta é entendida como a combinação entre a transpiração da planta e a evaporação da água no solo compreendido pela planta. Naturalmente, a evapotranspiração pode ser alterada dependendo do estádio de desenvolvimento da planta, cobertura do solo e demais fatores envolvidos. Sobretudo, é consenso que para a cultura da soja, a máxima evapotranspiração é observada durante o período reprodutivo da cultura, mais especificamente nas fases do florescimento e enchimento de grãos.
Figura 1. Exemplo de evapotranspiração (ET) diária, nos diferentes estádios de desenvolvimento de cultivares de soja de tipo de crescimento determinado.

Conforme destacado por Farias et al. (2007), durante o período reprodutivo da soja, a evapotranspiração da cultura pode chegar a picos de até 8 mm dia-1. Mas afinal, em qual período da fase reprodutiva a soja demanda mais água? Sabe-se que o perídio reprodutivo da soja é marcado por diferentes fases, representadas pela letra “R”, acompanhada do número que defini o período, havendo 8 períodos reprodutivos (R1, R2, R3, R4, R5, R6, R7 e R8), e 5 subperíodos (R5.1, R5.2, R5.3, R5.4 e R5.5).
Figura 2. Estádios do desenvolvimento fenológico da soja.

Analisando a “partição da evapotranspiração da cultura da soja em diferentes cultivares em cada estádio fenológico” Rossatto et al. (2022), avaliaram diferentes cultivares de soja (Raio IPRO, Elite IPRO, Lança IPRO, Ícone IPRO), sob diferentes regimes hídricos (irrigado e sequeiro), utilizando o modelo SIMDualKc para simular o balanço hídrico, particionando os valores de ETc nos estádios fenológicos e condições de cultivo. Utilizando cultivares de diferentes GMRs, GMR 5.0 (Raio 50I52RSF IPRO); GMR 5.5 (Elite 58I55RSF IPRO); GMR 5.8 (Lança 58I60 RSF IPRO); e GMR 6.8 (Ícone 68I70 RSF IPRO), os autores obtiveram a evapotranspiração nos diferentes estádios do desenvolvimento dessas cultivares.
Esse perticionamento permite a melhor gestão dos sistemas de irrigação, e práticas de manejo, demonstrando os momentos em que ora o fator principal a se analisar é a evaporação do solo, e ora é a transpiração da cultura. Com base nos resultados obtidos pelos autores, a evapotranspiração média diária, ao longo do ciclo de desenvolvimento da cultura (tabela 1) para as condições irrigadas, foi de 4,69 mm dia-1 (GMR 5.0), 4,15 mm dia-1 (GMR 5,5), 4,24 mm dia-1 (GMR 5.8) e 4,14 mm dia-1 (GMR 6.8). Em condição de sequeiro observou-se valores de evapotranspiração média diária de 4,34 mm dia-1 (GMR 5.0), 3,94 mm dia-1 (GMR 5.5), 3,95 mm dia-1 (GMR 5.8) e 3,95 mm dia-1 (GMR 6.8) (Rossatto et al., 2022).
Tabela 1. Variação da ET (mm dia-1) nos diferentes estádios fenológicos considerando a duração dos mesmos, condição irrigada (irr.) e sequeiro (seq.) para cultivares com diferentes grupos de maturação relativa (GMR).

Sobretudo, os autores concluem que, independentemente do grupo de maturidade relativa da cultivar e da condição de disponibilidade hídrica, o estádio R2 (florescimento pleno) foi o momento em que a soja apresentou a maior demanda hídrica, com ET de 6,84 mm dia-1.
Posteriormente, os estádios fenológicos R3 (início da formação de legumes) e R1 (início do florescimento), apresentaram as maiores evapotranspirações, sendo de respectivamente, 6,30 mm dia-1 e 5,95 mm dia-1 (Rossatto et al., 2022). Além disso, conforme observado pelos autores, a evaporação do solo representou 32% da evapotranspiração da cultura durante todo o ciclo de desenvolvimento da soja, sendo que, na fase inicial de desenvolvimento da soja, contribuiu com 85% da ET para soja semeada no sistema plantio direto, sob palhada de trigo.
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Referências:
FARIAS, J. R. B.; NEPOMUCENO, A. L.; NEUMAIER, N. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Embrapa, Circular Técnica, n. 48, 2007. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/470308/1/circtec48.pdf >, acesso em: 05/01/2024.
NEUMAIER, N. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Tecnologias para a produção de soja, Cap. 2, Embrapa, Sistemas de Produção, n. 17, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 05/01/2024.
ROSSATTO, A. A. P. et al. PARTIÇÃO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DA CULTURADA SOJA EM DIFERENTES CULTIVARES EM CADA ESTÁDIO FENOLÓGICO. irriga, Botucatu, v. 27, n. 3, p. 477-492, julho-setembro, 2022. Disponível em: < https://revistas.fca.unesp.br/index.php/irriga/article/view/4230 >, acesso em: 05/01/2024.
SEIXAS, C. D. S. et al. TESNOLOGIAS DE PRODUÇÃO DE SOJA. Sistemas de produção, n. 17, Embrapa, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 05/01/2024.