Dentre os principais recursos necessários para o bom crescimento e desenvolvimento vegetal, os nutrientes, a radiação solar (luz) e a adequada disponibilidade hídrica (água) são indispensáveis. Embora qualquer um desses recursos sob deficiência possa impactar a produtividade da soja, sem dúvidas a baixa disponibilidade hídrica é quem causa maior redução da produtividade da cultura.

Conforme observado por Barbosa et al. (2015), independente da cultivar, drásticas reduções de produtividade da soja são observadas com a ocorrência de déficits hídricos durante o período reprodutivo da cultura. Os autores avaliaram a influência do déficit hídrico sobre parâmetros agronômicos das cultivares de soja EMBRAPA 48 e BR 16 em condições de campo.

Barbosa et al. (2015) constataram que, comparando a produtividade da soja submetida ao déficit hídrico durante o período vegetativo (EV) e durante o período reprodutivo (ER) com a produtividade da soja cultivada em condições de sequeiro, mas sem déficit (NIRR) e da soja cultivada sob irrigação (IRR), as maiores reduções de produtividade ocorrem quando o déficit hídrico ocorre no período reprodutivo da soja, independentemente da cultivar avaliada.

Figura 1. Rendimento (kg ha-1) em plantas das cultivares de soja BR 16 e Embrapa 48 submetidas a diferentes regimes hídricos. EV: estresse hídrico no período vegetativo; ER: estresse hídrico no período reprodutivo; NIRR: não-irrigado; IRR: irrigado.

Médias seguidas de mesmas letras maiúsculas entre condições hídricas e minúsculas entre cultivares não diferem entre si pelo teste Tukey (p≤0,05) Fonte: Barbosa et al. (2015)

Durante o ciclo de desenvolvimento da soja, a necessidade de água pela cultura da soja vai aumentando, atingindo o máximo durante a floração-enchimento de grãos (7 a 8 mm dia-1), decrescendo após este período (Farias; Neumaier; Nepomuceno, 2009).

Figura 2. Evapotranspiração diária (ET) em diferentes estádios do desenvolvimento da soja.

Fonte: Berlato et al. (1986), Apud. Seixas et al. (2020)

Embora a evapotranspiração da soja possa variar em função da cultivar, é consenso que o período reprodutivo é a fase mais sensível da cultura ao déficit hídrico, fato corroborado por Curto; Covi; Gassmann (2019), que ao analisar a evapotranspiração real e padrão de extração da água no solo pela soja, estimaram o consumo de água em diferentes estádios do desenvolvimento da cultura.

Os resultados obtidos pelos autores demonstram que os maiores valores de evapotranspiração padrão observados para a cultura da soja foram de 5,0 5,7 mm.dia-1, ambos no período reprodutivo da soja, corroborando a premissa da maior necessidade hídrica da cultura nesse período, podendo essa fase, ser considerada um dos períodos críticos do desenvolvimento da soja ao déficit hídrico.

Tabela 1. Evapotranspiração real da colheita (ETa), evapotranspiração de referência da cultura (ET0) e evapotranspiração da colheita de soja em condições padrão (ETc), média (mm.dia-1) e acumulada (mm) para diferentes estádios da cultura da soja.

Adaptado: Curto; Covi; Gassmann (2019)

Embora o foco das preocupações com relação a disponibilidade hídrica seja voltado principalmente ao período reprodutivo da cultura, vale lembrar que um período anterior também é significativamente sensível ao déficit hídrico. Trata-se da germinação das sementes de soja.

A semente de soja necessita absorver, no mínimo, 50% de seu peso em água para assegurar uma boa germinação (Farias; Neumaier; Nepomuceno, 2009). Após o início do processo germinativo, é essencial que a água disponível seja suficiente para a planta completar esse processo, caso contrário, a germinação é comprometida, inviabilizando a emergência da plântula.

Levando em consideração que, com exceção de lavouras irrigadas, não é possível controlar a distribuição e volume das precipitações, é essencial adotar estratégias que minimizem os riscos referentes ao déficit hídrico, seja na semeadura, ou no período reprodutivo da soja. Ainda que varie de cultivar para cultivar, estima-se que a soja necessita de um volume acumulado de 450 mm a 800 mm durante seu ciclo de desenvolvimento (PAS Campo, 2005). Dependendo da cultivar, no período reprodutivo (R1-R6), o volume de água ideal para atender as necessidades da cultura pode chegar a 300 mm (Neumaier et al., 2020).



Um exemplo de estratégia a se adotar, é o ajuste das datas de semeadura com base nas recomendações técnicas presentes no Zoneamento Agrícola de Risco Climático, que estabelece os períodos de menor risco climático para a cultura da soja. Pensando na boa germinação das sementes, também é fundamental garantir a boa plantabilidade da soja, sendo essencial o adequado contato semente solo e o posicionamento das sementes na profundidade recomendada.

Não menos importante, uma medida a médio/longo prago é a rotação de culturas e o posicionamento de culturas na entressafra, visando garantir a boa cobertura do solo com palhada residual. Além de contribuir para a melhoria do manejo fitossanitário da soja, a cobertura do solo com abundante palhada residual contribui para a manutenção da umidade do solo, através da redução da temperatura do solo, reduzindo consequentemente a perda de água do solo por evaporação.

Um estudo realizado por Vieira et al. (2020), onde os autores avaliaram a influência de diferentes quantidades de palhada na cobertura do solo sobre sua temperatura e umidade, evidencia a capacidade da palhada em reduzir a temperatura do solo, especialmente nas camadas mais superficiais, contribuindo significativamente para a manutenção da umidade do solo, além de possibilitar melhores condições térmicas para o crescimento e desenvolvimento vegetal, mitigando o efeito dos déficits hídricos.

Figura 3. Temperatura máxima diária do solo nos diferentes tratamentos e nas profundidades de 5-10 cm (A) e 20-25 cm (B).

Fonte: Vieira et al. (2020)

Embora dificilmente se consiga reduzir todos os riscos climáticos, adotar estratégias que possibilitem armazenar água no solo pelo maior tempo possível, assim como ajustar as datas de semeadura são essenciais para a estabilidade e sustentabilidade produtiva.

Referências:

BARBOSA, D. A. et al. INFLUÊNCIA DO DÉFICIT HÍDRICO SOBRE PARÂMETROS AGRONÔMICOS DAS CULTIVARES DE SOJA EMBRAPA 48 E BR 16 EM CONDIÇÕES DE CAMPO. VII Congresso Brasileiro de Soja, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126063/1/R.-142-INFLUENCIA-DO-DEFICIT-HIDRICO-SOBRE-PARAMETROS.PDF >, acesso em: 24/05/2023.

BERLATO, M.A.; MATZENAUER, R.; BERGAMASCHI, H. EVAPOTRANSPIRAÇÃO MÁXIMA DA SOJA E RELAÇÕES COM A EVAPOTRANSPIRAÇÃO CALCULADA PELA EQUAÇÃO DE PENMAN, EVAPORAÇÃO DO TANQUE “CLASSE A” E RADIAÇÃO SOLAR. Agronomia Sulriograndense, Porto Alegre, v.22, n.2, p.243-259, 1986.

CURTO, L; COVI, M. GASSMANN, M. I. EVAPOTRANSPIRACIÓN REAL Y PATRONES DE EXTRACCIÓN DE ÁGUA DEL SUELO DE UN CULTIVO DE SOJA (Glycine max). Rev. FCA UNCUYO, n. 51, 2019. Disponível em: < http://www.scielo.org.ar/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1853-86652019000200010&lang=en>, acesso em: 24/05/2023.

FARIAS, J. R. B.; NEUMAIER, N.; NEPOMUCENO, A. L. Agrometeorologia dos Cultivos: O fator meteorológico na produção agrícola: Soja. INMET, 2009. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355291/37056285/Bases+climatol%C3%B3gicas_G.R.CUNHA_Livro_Agrometeorologia+dos+cultivos.pdf/13d616f5-cbd1-7261-b157-351eaa31188d?version=1.0 >, acesso em: 24/05/2023.

NEUMAIER, N. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA. Tecnologias de Produção de Soja, cap.2. Embrapa, Sistemas de Produção, n. 17, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 24/05/2023.

PAS CAMPO. AS Campo. MANUAL DE SEGURANÇA E QUALIDADE PARA A CULTURA DA SOJA. Embrapa, Transferência de Tecnologia, 2005. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/25249/1/MANUALSEGURANCAQUALIDADEParaaculturadesoja.pdf >, acesso em: 24/05/2023.

Acompanhe nosso site, siga nossas mídias sociais (SiteFacebookInstagramLinkedinCanal no YouTube)

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.