O uso de fungicidas no manejo de doenças é uma prática indispensável em culturas agrícolas como a soja, especialmente diante do potencial destrutivo que certos patógenos apresentam sobre o rendimento e a qualidade dos grãos. Visando aumentar a eficiência e sustentabilidade no controle de doenças em soja, bem como manejar a resistência de fungos a fungicidas, ferramentas de manejo vem sendo adotadas de forma associativa ao uso de fungicidas químicos.
Uma dessa ferramentas são os produtos biológicos. Contudo, mesmo com o avanço das formulações e aumento da adesão e aprimoramento no posicionamento de produtos biológicos no manejo de doenças, a eficiência dos bioprodutos no controle de doenças em soja pode variar de acordo com sua composição. Nesse sentido, conhecer a eficiência desses biofungicidas no manejo de doenças é determinante para o bom posicionamento deles no programa fitossanitário da cultura.
Dentre as opções biológicas disponíveis para o manejo de doenças em culturas agrícolas, destacam-se os produtos à base de bactérias do gênero Bacillus e metabólitos microbianos. Esses agentes atuam por múltiplos mecanismos, como a produção de compostos antimicrobianos, a competição por espaço e nutrientes, a indução de resistência sistêmica nas plantas e a formação de biofilmes que atuam como barreiras protetoras. A compatibilidade dessas soluções com fungicidas químicos permite sua integração em programas de manejo integrado de doenças, favorecendo a diversificação dos modos de ação e contribuindo para uma maior estabilidade e eficiência no controle fitossanitário (Meyer et al., 2025).
Com o intuito de avaliar a associação de fungicidas biológicos e químicos no controle de doenças foliares em soja, ensaios cooperativos em rede vêm sendo realizados desde a safra 2022/2023. De acordo com Meyer et al. (2025), na safra 2024/2025, esses ensaios foram realizados com dois protocolos de pulverizações, sendo um deles denominado PROGRAMA, combinando-se aplicações de fungicidas biológicos e químicos, isolados ou em mistura de tanque (Tabela 1) e outro protocolo, denominado SOLO, comparando-se aplicações sequenciais de fungicidas biológicos com programas de fungicidas sítio-específicos e de multissítios (tabela 2).
Tabela 1. Tratamentos do protocolo PROGRAMA, combinando fungicidas biológicos e químicos para controle de doenças foliares da soja. Safra 2024/2025.

No PROGRAMA, as aplicações de fungicidas biológicos iniciaram no estádio V4 da soja, em mistura com glifosato, com uma segunda aplicação aos 40 dias após a emergência (DAE). Dois programas com fungicidas químicos foram testados, ambos com quatro aplicações em intervalos de 14 dias, variando na inclusão de clorotalonil na segunda aplicação.
O Programa 1 de aplicações de fungicidas químicos foi composto por picoxistrobina (60 g/ha) & benzovindiflupir (30 g/ha) (Vessarya® 0,6 L p.c./ha) na segunda aplicação, azoxistrobina (94 g/ha) & tebuconazol (112 g/ha) & mancozebe (1194 g/ha) (Tridium® 2,0 kg p.c./ha) + adjuvante Strides® (0,25 % v/v) na terceira aplicação e metominostrobina (68,6 g/ha) & impirfluxan (34,2 g/ha) & clorotalonil (1142,8 g/ha) (Sugoy® 2,0 L p.c./ha) + adjuvante Iharol Gold (0,25% v/v) na quarta e quinta aplicações. O Programa 2 de aplicações de fungicidas foi empregado apenas no tratamento T4 e foi basicamente composto pelo Programa 1, com a adição de clorotalonil (1080 g/ha) (Previnil® 1,5 L p.c./ha) em mistura com Vessarya®, na segunda aplicação (Meyer et al., 2025).
Já o protocolo SOLO (tabela 2), foi composto pelas aplicações sequenciais dos fungicidas biológicos, comparados a dois programas de fungicidas químicos, sendo o Programa 1 composto por picoxistrobina (60 g/ha) & benzovindiflupir (30 g/ha) (Vessarya® 0,6 L p.c./ ha) na segunda aplicação, azoxistrobina (94 g/ha) & tebuconazol (112 g/ha) & mancozebe (1194 g/ ha) (Tridium® 2,0 kg p.c./ha) + adjuvante Strides® (0,25 % v/v) na terceira aplicação e metominostrobina (68,6 g/ha) & impirfluxan (34,2 g/ha) & clorotalonil (1142,8 g/ha) (Sugoy® 2,0 L p.c./ha) na quarta aplicação (sem aplicação em V4) e, o Programa 2, composto por uma aplicação de difenoconazol (75 g/ha – Score® 0,3 L p.c./ha) em V4 e somente fungicidas multissítios nas aplicações a partir de 40 DAE, com mancozebe (1125 g/ha) (Unizeb Gold 1,5 kg/ ha) + adjuvante Strides (0,25% v/v) na segunda e terceira aplicações e clorotalonil (1080 g/ha) (Previnil® 1,5 L p.c./ha) na quarta aplicação.
Tabela 2. Tratamentos do protocolo SOLO, comparando aplicações sequenciais de fungicidas biológicos e químicos para controle de doenças foliares da soja. Safra 2024/2025.

De acordo com os resultados obtidos na safra 2024/2025, todos os tratamentos compostos por fungicidas químicos ou por associação de fungicidas biológicos e químicos apresentaram controle de doenças foliares em relação à testemunha sem aplicação (T1), mas não diferiram entre si, apresentando níveis de controle variando de 53,2 % a 60,8 % para DFC e de 33,9 % a 43,8 % para mancha-alvo (Tabela 3). Já com relação a produtividade, no protocolo PROGRAMA, foi observada uma redução média de 12,6 % no tratamento T1 (testemunha sem aplicação), como consequência das doenças incidentes. Todos os tratamentos resultaram em aumento na produtividade em relação ao tratamento T1, entretanto, não houve diferença entre os tratamentos fungicidas avaliados (Meyer et al., 2025).
Tabela 3. Estimativa metanalítica da média de severidade de doenças de final de ciclo (DFC), mancha-alvo (M. Alvo) e respectivos percentuais de controle em relação ao tratamento T1 (C), produtividade (Prod.) e percentual de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, do protocolo PROGRAMA. Médias de 13 locais para severidade de DFC e produtividade, e de nove locais para mancha-alvo. Safra 2024/2025.

Para o protocolo SOLO, todos os tratamentos compostos por fungicidas químicos apresentaram controle das doenças foliares em relação à testemunha sem aplicação (T1), formando um grupo estatístico com maior eficiência de controle das doenças, variando de 48,5 % a 54,1 % para DFC e de 32,9 % a 39,1 % para mancha-alvo. Todos os tratamentos compostos por fungicidas biológicos apresentaram controle de DFC variando de 23,2 % a 28,2 %, e não diferiram entre si. Para mancha-alvo, apenas o tratamento T9 (B. subtilis) não diferiu de T1 (testemunha sem aplicação), com os demais tratamentos apresentando níveis de controle variando entre 18,4 % e 23,8 %. Todos os fungicidas químicos apresentaram produtividade superior a testemunha e aos tratamentos compostos por produtos biológicos (Meyer et al., 2025).
Tabela 4. Estimativa metanalítica da média de severidade de doenças de final de ciclo (DFC), mancha-alvo (M. Alvo) e respectivos percentuais de controle em relação ao tratamento T1 (C), produtividade (Prod.) e percentual de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, do protocolo SOLO. Médias de 13 locais para severidade de DFC e produtividade, e de nove locais para mancha-alvo. Safra 2024/2025.

Os resultados observador por Meyer et al. (2025), indicam que, para a safra 2024/2025, não foi possível observar resultados significativos de incremento no controle de doenças foliares em função da associação de fungicidas biológicos ao programa de controle químicos. Além disso, os autores destacam que, para as condições do presente estudo, o controle químico se sobressaiu no controle de doenças em relação ao controle biológico, não havendo melhora em eficiência com o acréscimo do controle químico em V4 ou com os produtos biológicos.
Confira a Circular Técnica completa com os resultados sumarizados da rede de experimentos cooperativos da safra 2024/2025 clicando aqui!
Referências:
MEYER, M. C. et al. AVALIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE FUNGICIDAS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS NO CONTROLE DE DOENÇAS FOLIARES DA SOJA, SAFRA 2024/2025: RESULTADOS SUMARIZADOS DA REDE DE EXPERIMENTOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 217, 2025. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1177012/1/Circ-Tec-217.pdf >, acesso em: 28/07/2025.
Foto de capa: Maurício Stefanelo – Ceres Consultoria