A lagarta-falsa-medideira é uma praga bastante comum nas lavouras de soja. Pode incidir na cultura na fase vegetativa e se estender até próximo à colheita. Seus danos estão relacionados com a desfolha intensa na planta, reduzindo sua fotossíntese e rendimento.
O controle da lagarta é realizado, principalmente, através do uso de inseticidas químicos. Contudo, como apresenta comportamento de permanecer no dossel inferior da soja, baixas eficiências de controle podem ocorrer em virtude da dificuldade de atingir o alvo.
Neste texto iremos verificar quais as cultivares convencionais que apresentam melhor resposta ao ataque da praga, e quais devem ser evitadas em lavouras com histórico da sua ocorrência.
Figura 1. Identificação da lagarta falsa-medideira.
Quais são as vantagens de cultivares convencionais?
- Podem apresentar certo grau de tolerância aos insetos-pragas;
- Reduz-se o número de aplicações;
- Diminui os custos com defensivos.
Wille et al. (2017), em seu trabalho intitulado “Resistência natural de cultivares de soja à lagarta-falsa-medideira Chrysodeixis includens (Lepidoptera: Noctuidae)”, estudaram cultivares recomendadas para a região sul do país, sendo elas: BR 36, NA 5909 RG, BMX Turbo RR e Benso 1RR.
Como é possível visualizar na tabela 1, as pragas preferem se alimentar de folhas velhas. Este fato é justificado por essas folhas estarem localizadas em dosséis inferiores da planta. As vagens são estruturas menos afetadas pelas pragas.
Maiores consumos foram vistos com a utilização de BMX Turbo RR e BR 36. Enquanto a cultivar menos atacada e consequentemente com menor preferência foi a NA 5909 RG.
Tabela 1. Cultivares com porcentagem de estruturas atacadas.

Em uma pesquisa realizada por Zulin (2016), é possível observar a disposição dos ovos e das lagartas nas plantas de soja. Como visualizamos na Figura 2, tanto a reprodução quanto a alimentação são realizados, majoritariamente no dossel inferior da planta.
Este resultado indica que o controle com inseticidas químicos apresenta risco de manejo, visto que as pragas ficam escondidas em locais mais difíceis do produto atingir.
Uma medida para otimizar a eficiência dos inseticidas, é realizar a aplicação quando as pragas estão mais expostas. Em horários com temperaturas mais amenas, elas sobem para o dossel superior, sendo uma boa estratégia de manejo aplicar em torno das 6 horas da manhã ou 8 horas da noite (Zulin, 2016).
Figura 2. Porcentagem de ovos e lagartas distribuídas no dossel inferior, mediano e superior da planta de soja.

Ainda sobre estratégias de controle, recomenda-se a aplicação quando as pragas ainda possuem tamanho pequeno (< 1,5cm). Este é o melhor momento para entrarmos com inseticidas. Segundo Ávila (2017), geralmente é mais fácil manejar 100 lagartas pequenas que 10 grandes e vorazes.
Moura et al. (2018), em seu trabalho “INFESTAÇÃO DE LAGARTAS FALSA-MEDIDEIRA Chrysodeixis includens (LEPIDOPTERA: NOCTUIDAE) EM CULTIVARES DE SOJA NO POLO PARAGOMINAS DE GRÃOS, PARÁ” verificaram a resistência de 20 cultivares de soja quando atacadas pelas pragas. Nota-se na Tabela 2, que as cultivares que apresentam a Tecnologia Bt são as menos injuriadas pelas pragas, conferindo maior potencial de resistência.
M-8210 IPRO foi a menos atacada. Resultados semelhantes foram encontrados para as cultivares M-8644 IPRO e RK 8115 IPRO. Todas pertencentes a genótipos que apresentam bioinseticidas em seu interior. Para aquelas cultivares transgênicas RR, sem genes de resistência para os insetos-pragas, as menos atacadas foram: SYN 1183 RR, P 98Y12 RR e TMG 1288 RR.
Contudo, a BRS 9090RR, como visualizamos na Tabela a seguir, foi a mais atacada, conferindo seu material maior atração às pragas e, consequentemente, maior suscetibilidade.
Tabela 2. Número de lagartas pequenas, grandes e total de lagartas (pequenas + grandes) obtidas por panos-de-batida.

Como alternativa de melhorar o manejo da praga, pode-se adotar a tecnologia Bt, apresentando proteínas bioinseticidas no interior das plantas e controlando as lagartas desde seu desenvolvimento inicial.
Apesar de apresentar como vantagem o controle dos lepidópteros, a tecnologia apresenta preços de sementes superiores às cultivares convencionais.
Para saber mais sobre a tecnologia Bt clique aqui!
Viana (2018), estudou duas cultivares de soja transgênica não Bt, Brasmax Desafio 8473 RR e BioGene 4377 RR, e duas cultivares de soja transgênica Bt, Monsoy 7739 PRO RR e Syn 1585 IPRO que apresentam a proteína Cry1Ac.
Conforme observado na Tabela 3, as cultivares com genes de resistência aos lepidópteros não permitem o desenvolvimento da fase larval da praga. Este momento é o mais danoso, em que podem ocasionar as maiores injúrias.
As cultivares Brasmax Desafio 8473 RR e BioGene 4377 RR permitiram o desenvolvimento das lagartas, com viabilidade de aproximadamente 100%. Estas cultivares podem ser consideradas suscetíveis ao ataque da praga, sem apresentar grau de resistência.
Enquanto as cultivares Bt, Monsoy 7739 PRO RR e Syn 1585 IPRO conferem 100% de mortalidade no 1° instar larval, não permitindo o desenvolvimento das pragas e realização de injúrias. Nota-se que a proteína Cry1Ac apresenta alta eficiência de controle sobre a lagarta falsa-medideira.
Tabela 3. Duração média ± EP (dias) e viabilidade média (%) da fase larval e duração média ± EP (dias) do período lagarta-adulto de Chrysodeixis includens.

De acordo com Viana (2018), avaliando três cultivares não-Bt sendo elas: BRS Valiosa RR, BioGene 4377 RR e Brasmax Desafio RR 8473, todas essas cultivares foram infestadas pelas lagartas. Contudo, manteve-se em números inferiores ao nível de controle para poder intervir com medidas protetivas.
BRS Valiosa RR apresentou bons resultados entre as demais cultivares, podendo ser considerada como a mais resistente.
Figura 3. Dinâmica populacional de lagartas pequenas (≤1,5 cm) (A) e lagartas médias+grandes (>1,5 cm) (B) de C. includens em cultivares de soja não Bt.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A escolha das cultivares é um manejo importante quando pensamos no ataque das pragas, principalmente de falsa-medideira que está presente em todo território nacional, causando prejuízos significativos de desfolha.
Quando escolhemos cultivares convencionais ou sem genes de resistência, algumas apresentam níveis de ataque de insetos-pragas inferiores, como NA 5909 RG, SYN 1183 RR, P 98Y12 RR, TMG 1288 RR e BRS Valiosa RR. Estas cultivares podem ser adotadas em lavouras com histórico da ocorrência da lagarta.
Como outra forma de estratégia, podemos adotar plantas com Tecnologia Bt. Elas apresentam em seu interior proteínas, como a Cry1Ac, que controlam a falsa-medideira e outras lagartas (exceto Spodoptera spp. em soja). Contudo, o preço comercial destas cultivares são superiores às demais.
É importante que sempre mantemos o monitoramento em nossas lavouras, mesmo com medidas alternativas de plantas Bt. Em cenários com cultivares convencionais, o monitoramento deve ser redobrado.
Confira o curso: “Manejo e controle de lagartas em soja” clicando aqui!!!
REFERÊNCIAS
ÁVILA, C. J. Lagarta-falsa-medideira (Chrysodeixis includens). In: ÁVILA, C. J. Pragas da soja: conheça e previna-se. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, 2017. Disponível em: <http://pragas.cpao.embrapa.br/>.
MOURA, N. O. et al. Infestação de lagartas falsa-medideira Chrysodeixis includens (Lepidoptera: Noctuidae) em cultivares de soja no polo Paragominas de grãos, Pará. In: Embrapa Amazônia Oriental-Artigo em anais de congresso (ALICE). In: CONGRESSO BRASILEIRO DE SOJA, 8., 2018, Goiânia. Inovação, tecnologias digitais e sustentabilidade da soja: anais. Brasília, DF: Embrapa, 2018., 2018.
VIANA, Daniela de Lima. Dinâmica populacional, infestação natural e aspectos biológicos de Chrysodeixis includens (Walker: 1857) e Spodoptera spp.(Lepidoptera: Noctuidae) em cultivares de soja e algodoeiro Bt que expressam proteínas Cry. 2018.
WILLE, Paulo Eduardo et al. Natural resistance of soybean cultivars to the soybean looper larva Chrysodeixis includens (Lepidoptera: Noctuidae). Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 52, n. 1, p. 18-25, 2017.
ZULIN, Daniele et al. Dinâmica populacional, distribuição espacial e temporal de Chrysodeixis includens (Walker) na cultura da soja. 2016.
Redação: Equipe Mais Soja.