Um dos principais atributos do sistema plantio direto é proporcionar condições adequadas de cobertura do solo, reduzindo erosões superficiais, aumentando a conservação do solo e reduzindo sua amplitude térmica. Para tanto é necessário um adequado sistema de cultivo que possibilite a produção de resíduos vegetais de qualidade e em quantidades suficientes para promover boa cobertura do solo.
Uma das principais dificuldades na condução de um sistema sustentável é a redução dos períodos de vazio cultural (pousio), períodos esses onde não há o cultivo de plantas. Durante o vazio cultural não há produção de biomassa nem matéria seca e quantidades suficientes e com qualidade adequada para promover a cobertura do solo em cultivos sucessores. Além disso, a adoção do sistema de pousio favorece a germinação de plantas daninhas fotoblásticas positivas, possibilitando o aumento populacional dessas plantas, acarretando em maiores custos de controle.
A adoção do sistema soja – trigo, especialmente nas regiões Sul do Brasil, proporciona um elevado período de vazio cultural na entre safra dessas culturas, fato indesejado num sistema de cultivo sustentável e eficiente. Dentre as alternativas para “ocupar” essa período de vazio cultural, o milheto (Pennisetum glaucum) por apresentar uma ampla capacidade adaptativa torna-se uma interessante alternativa, podendo ser implementado no sistema no cultivo safrinha ou seja, após a cultura da soja, antecedendo a cultura do trigo.
Mas quais critérios deve-se considerar para realizar a semeadura do milheto?
Conforme destacado por Pereira Filho et al. (2003), o milheto pode ser semeado a lanço ou em linha dependendo da finalidade do cultivo, ferramentas disponíveis e sistema de produção. A semeadura a lanço pode ocorrer com a utilização de distribuidores de sementes/fertilizantes ou até mesmo com a utilização de aeronaves agrícolas nos estádios finais do ciclo de desenvolvimento da soja (amarelecimento das plantas). Entretanto, para um melhor contato semente/solo, quando a semeadura ocorre após a colheita da soja, o ideal é a utilização de uma grade leve para incorporação das sementes no solo, sendo assim a prática não é a mais aconselhada se tratando do sistema plantio direto.
A semeadura em linha, com a utilização de semeadora é sem dúvidas uma das melhores alternativas visando a sustentabilidade dos cultivos. A semeadura deve ocorrer logo após a colheita da soja. Segundo Pereira Filho et al. (2003), a profundidade de semeadura do milheto deve ficar entre 2 a 4 cm, a densidade de semeadura varia de acordo com a finalidade do cultivo e espaçamento entre linhas, entretanto para a produção de grãos recomenda-se densidades variando entre 100 mil a 175 mil plantas.ha-1.
Tabela 1. Espaçamento, quantidade de sementes e densidade de semeadura segundo a finalidade de uso do milheto.

A produção de matéria verde varia de acordo com a cultivar, nutrição e época de semeadura, entretanto os autores destacam valores médios de 35 a 55 t.ha-1 para o milheto semeado em fevereiro, 30 a 40 t.ha-1 para o milheto semeado em março e 20 a 25 t.ha-1 para o milheto semeado em abril.
A adubação deve contemplar as necessidades da cultura, baseado também na finalidade do cultivo, para isso é fundamental a diagnose do estado nutricional do solo, visando identificar a necessidade real de adubação. Para isso recomenda-se a coleta de amostras de solo representativas da área de cultivo para a realização da análise química da fertilidade do solo, lembrando que uma amostra média deve contemplar preferencialmente uma área não superior a 10 hectares, em ambientes com maior heterogeneidade as amostras devem contemplar menores áreas.
Assim como outras plantas de cobertura o milheto possui a capacidade de reciclar nutrientes, sendo uma interessante alternativa de inserção no sistema produtivo visando um manejo integrado da fertilidade do solo. Segundo Pereira Filho et al. (2003), a palhada de milheto é capaz de reciclar aproximadamente 122 kg.ha-1 de Nitrogênio, 16 kg.ha-1 de Fósforo, 124 kg.ha-1 de Potássio, 26 kg.ha-1 de Cálcio e 17 kg.ha-1 de Magnésio. Entretanto, quando for utilizado como forrageira, em que grande quantidade dos nutrientes são removidos do solo e exportados na forragem, necessário se faz estabelecer um programa de adubação (Pereira Filho et al., 2003).
Assim como as demais gramíneas, o milheto apresenta respostas positivas a adubação nitrogenada, entretanto essa varia de acordo com características de solo como teor de matéria orgânica, culturas antecessoras, finalidade do cultivo e produtividade esperada. De maneira geral, Pereira et al. (2003) recomenta a utilização de 20 a 30 kg. Nitrogênio.ha-1 em cultivos sucessores a gramíneas, já quando o milheto sucede plantas leguminosas como a soja, a adubação nitrogenada pode ser dispensada dependendo da finalidade do cultivo. Quando for utilizada como pastejo ou silagem, além da adubação de 20 a 30 kg.N.ha-1 deve-se também realizar a adubação no início do perfilhamento da cultura, variando entre 60 a 80 kg de nitrogênio por hectare.
Para o controle químico de pragas e plantas daninhas recomenda-se o monitoramento da área de cultivo e a utilização de produtos registrados para a cultura do milheto. Consulte um Engenheiro Agrônomo.
Veja também: Adubação verde: densidade de semeadura e fixação de nitrogênio de algumas espécies
Acompanhe nosso site, siga nossas mídias sociais (Site, Facebook, Instagram, Linkedin, Canal no YouTube)
Referências:
CULTIVO DO MILHETO. SISTEMA DE PRODUÇÃO EMBRAPA. Disponível em: <https://www.spo.cnptia.embrapa.br/conteudo?p_p_id=conteudoportlet_WAR_sistemasdeproducaolf6_1ga1ceportlet&p_p_lifecycle=0&p_p_state=normal&p_p_mode=view&p_p_col_id=column-1&p_p_col_count=1&p_r_p_-76293187_sistemaProducaoId=8101&p_r_p_-996514994_topicoId=1309>, acesso: 28/08/2020.
PEREIRA FILHO, I. A. et al. MANEJO DA CULTURA DO MILHETO. Embrapa, Circular Técnica, n. 29, 2003.