Na atualidade o mundo se prepara para um grande desafio: até o ano de 2050, a população mundial pode alcançar a marca de 10 bilhões de pessoas. Para atender à demanda crescente por alimentos, torna-se crucial quantificar o potencial de produtividade (PP) e o potencial de produtividade limitado por água (PPA) das culturas agrícolas.
Essa avaliação é fundamental para estimar o limite de intensificação da produção global de alimentos, priorizando o aumento da produtividade por área (crescimento vertical) e evitando a expansão para regiões de risco ou baixa aptidão agrícola (FAO & DWFI, 2015).
No Brasil, os valores de potencial de produtividade para soja já foram estimados em 2020, utilizando a metodologia do Global Yield Gap Atlas (GYGA). Para isso, o modelo ecofisiológico CROPGRO-Soybean foi empregado, baseando-se em um histórico de dados climáticos (radiação solar, temperatura e concentração de CO₂) para o cálculo do PP, enquanto para o PPA foi considerado a quantidade e distribuição de água disponível, além das características do solo. Esses dados climáticos foram analisados levando em conta o período 2000 – 2020, com a finalidade de criar um banco de dados robusto capaz de expressar o PP e o PPA, considerando variabilidades climáticas como o fenômeno El Niño-Oscilação Sul (ENOS).
O PP do Brasil variou de 5,7 a 7,5 t ha-1, com a maior produtividade em Cruz Alta, Rio Grande do Sul (RS) e a menor produtividade em Baixa Grande do Ribeiro, Piauí (PI), esses valores são explicados pela latitude e a relação desta com o coeficiente fototérmico. De modo geral, pode-se afirmar que existe um gradiente do PP no Brasil de sul a norte (Figura 1).
Figura 1. Potencial de produtividade (PP) de soja no Brasil, em toneladas por hectare (t ha-1). O valor de PP apresentado é a média de 20 anos (2000 – 2020). As estimativas foram realizadas pela Equipe GYGA Brasil (www.yieldgap.org/brazil)

Já o PPA variou de 3,1 a 6,9 t ha-1 com o maior valor registro em Campo Verde, Mato Grosso (MT) e o menor em São Luiz Gonzaga, RS (Figura 2). Observa-se que a variação do PPA no Brasil segue um gradiente de Norte a Sul, é dizer, com um comportamento diferente ao PP, impulsionado principalmente pelos diferentes regimes hídricos regionais, por exemplo, no Centro-Oeste predomina o regime monçônico, caracterizado por precipitações regulares durante o verão. Já no Sul, o regime isoigro é o mais comum, com chuvas distribuídas ao longo do ano. Contudo, essa região é fortemente influenciada por fenômenos meteorológicos como o ENOS, que pode causar uma má distribuição das precipitações, influenciando no PPA das lavouras.
Figura 2. Potencial de produtividade limitado por água (PPA) de soja no Brasil, em toneladas por hectare (t ha-1). O valor de PPA apresentado é a média de 20 anos (2000 – 2020). As estimativas foram realizadas pela Equipe GYGA Brasil (www.yieldgap.org/brazil)

Trabalhos esses cada dia são mais necessários e já foram realizados por Edreira et al. (2017) para Estados Unidos, Aramburu-Merlos et al. (2015) para a Argentina, Martinez et al (2024) para Venezuela junto com outros trabalhos que estão sendo conduzidos, visando entender o máximo que pode ser produzido por cada hectare agricultável no mundo, como base para um crescimento vertical na agricultura.
Referências Bibliográficas.
Edreira, J. I. R. et al. Assessing causes of yield gaps in agricultural areas with diversity in climate and soils. Agricultural and forest meteorology, v. 247, p. 170-180, 2017. Disponível: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0168192317302265 >, acesso: 30/05/2025.
FAO and DWFI. Yield gap analysis of field crops: Methods and case studies, by Sadras. FAO Water Reports, n 41, Roma – Italia, 2015. Disponível: < https://digitalcommons.unl.edu/wffdocs/87/ >, acesso: 23/05/2025.
Martinez, W. I. C. et al. Agronomía digital: intensificación del sistema productivo de arroz y soya en Venezuela. ed. 1, Santa Maria, 2024.
Merlos, F. A. et al. Potential for crop production increase in argentina through closure of existing yield gaps. Agronomy for sustainable developmet, v.28, n.2, p. 321-332, 2008. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0378429015300599#:~:text=Conclusions,Mt%2C%20without%20expanding%20cropland%20area >, acesso: 01/06/2025.
Tagliapietra et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades, 2 ed., Santa Maria: [s.n.], 2022.