O sistema de produção Soja – Milho safrinha é o predominante no Brasil e consiste na semeadura de milho após a colheita da soja. Este sistema está presente na maioria das regiões de produção de soja no Brasil (exceptuando o Rio grande do Sul (RS), Santa Catarina (SC) e algumas regiões de altitude no Paraná (PR)) abrangendo uma área de 18 milhões de hectares (CONAB, 2025).

No Centro-Oeste, está prática de semeadura de milho após colheita da soja apresentou uma expansão significativa a partir dos anos 2000 (Battisti et al., 2020). Onde o principal desafio é o ajuste do ciclo de desenvolvimento das duas culturas de modo que haja disponibilidade hídrica para ambas. Nesse sentido a época de semeadura da soja faz com que muitas vezes não coincida com a época de maior potencial de produtividade ou menor risco climático.

O risco climático pode ser diminuído com o uso do índice El Niño Oscilação Sul (ENOS), para definir os períodos de semeadura da soja que apresentem menor risco climático para a sucessão soja-milho, estas janelas foram definidas com base em modelos de simulação que analisam a disponibilidade hídrica e térmica para altas produtividades no sistema (Nóia Junior & Sentelhas, 2019). Os resultados mostram que em anos de El Niño, o período de semeadura da soja se estende no Sul do Brasil, enquanto no Centro-Oeste e Nordeste é mais curto, comportamento inverso em anos de La Niña onde os períodos de semeadura são menores ou, até inviável em algumas regiões como Campo Mourão – PR (Figura 1.)

Figura 1. Faixas ótimas de semeadura para a soja, considerando a sucessão de soja e milho safrinha durante as fases La Niña (A) e El Niño (B), em diferentes locais no Brasil. Locais com * indica risco elevado para o cultivo de milho pós soja.
Adaptado de: Nóia Junior & Sentelhas (2019).

Essas estratégias minimizam perdas extremas de produtividade, principalmente do milho. Atrasos na semeadura da soja em setembro ou outubro podem impactar significativamente a produtividade do milho devido ao atraso em sua semeadura. O milho perde produtividade a uma taxa de -10 kg ha-1 por dia em anos de La Niña em Altamira/PA e de -12 kg ha-1 por dia em anos de El Niño. Esses resultados destacam o impacto do ENOS no risco de perdas, onde em anos de La Niña as regiões subtropicais (> -20° de latitude) enfrentam maiores riscos e em contrapartida em anos de El Niño, as maiores perdas ocorrem em áreas de baixa latitude (-5° de latitude), caso atrase a semeadura do milho (Figura 2).

Figura 2. Anomalias de produtividade do milho safrinha durante os anos de La Niña, Neutro e El Niño em relação à produtividade média geral para cada data e local de semeadura, representada por sua latitude no Brasil. As anomalias de produtividade de milho safrinha foram obtidas subtraindo-se a produtividade média de cada data e local de uma determinada fase do ENOS a partir da produtividade média geral para a respectiva data e local de semeadura.
Adaptado de: Nóia Júnior & Sentelhas (2019).

No Sul do Brasil, uma comparação entre sistemas de produção revelou que o cultivo de soja exclusivo apresentou um incremento de 0,89 t ha-1 em relação ao cultivo de soja no sistema soja-milho safrinha (Figura 3). Essa diferença é atribuída à alteração no período de semeadura para épocas de menor potencial de produtividade de soja, além do uso de cultivares de ciclo mais curto, que possuem menor potencial produtivo. Portanto, a adoção do sistema soja-milho safrinha deve ser avaliada com cautela para garantir que a inclusão das duas culturas seja economicamente viável para o sistema de produção.

Figura 3. Produtividade da soja única versus soja no sistema de produção soja-milho safrinha. A cor azul representa os potenciais irrigados (PI) e a cor amarela, o potencial de produtividade de sequeiro (PS). A linha diagonal sólida preta indica y = x.
Fonte: Equipe Field Crops

Referências bibliográficas.

BATTISTI, R. et al. Rules for grown soybean-maize cropping system in Midwestern Brazil: Food production and economic profits. Agricultural Systems, v. 182, n. 102850, p. 102850–102850, 28 abr. 2020. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0308521X18312691 >, acesso: 19/10/2025

CONAB. ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA 5o LEVANTAMENTO. [s.l: s.n.]. Disponível em: < https://www.gov.br/conab/pt-br/atuacao/informacoes-agropecuarias/safras/safra-de-graos/boletim-da-safra-de-graos/5o-levantamento-safra-2024-25/e-book_boletimzdezsafrasz-z5zlevantamentoz2025.pdf >, acesso: 12/10/2025

NÓIA JÚNIOR, R. DE S.; SENTELHAS, P. C. Soybean-maize off-season double crop system in Brazil as affected by El Niño Southern Oscillation phases. Agricultural Systems, v. 173, p. 254–267, jul. 2019. Disponível em: < https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0308521X18312691 >, acesso: 19/10/2025

WINCK, J. E. M. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades. Santa Maria, ed. 3, 2025



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