O sistema de produção culturas de cobertura-soja é a estratégia preferencial em lavouras de alto rendimento e baixo risco climático. Sua adoção permite semear a soja em sua época de maior potencial produtivo, o que compensa economicamente o cultivo de duas culturas em sequência. Este sistema se baseia no cultivo de uma cultura ou mix de culturas de cobertura durante a entressafra, promovendo múltiplos benefícios agronômicos essenciais: alta produção de palhada (acima de 6 t ha-1), fixação de nitrogênio atmosférico, supressão de nematoides, eficiente ciclagem de nutrientes, aumento do carbono orgânico e a melhor estruturação do solo (Bertoni & Lombardi Neto, 2005; Jian et al., 2020; Pes et al., 2022; Winck et al., 2023).

A seleção da espécie de cobertura deve ser feita com base na necessidade específica da lavoura. Para Cobertura Morta e Longa Permanência: Culturas com alta relação C/N (>30:1), como as gramíneas, são ideais. Sua decomposição mais lenta garante que os resíduos permaneçam no solo por mais tempo. Para Ciclagem Rápida e Fixação de Nitrogênio: Alternativas como nabo forrageiro e ervilhaca (baixa relação C/N, <30:1) são preferenciais. Estas se decompõem rapidamente, promovendo uma alta mineralização e disponibilizando nutrientes prontamente para o solo.

Estudo realizado no Rio Grande do Sul pela Equipe FieldCrops mostrou que a leguminosa (Vicia sativa) já havia degradado 49% de sua biomassa, 20 dias após a dessecação, liberando 29 kg de N por hectare. Por outro lado, Raphanus sativus, consórcio de Avena sativa + Raphanus sativus + Vicia sativa, Secale cereale + Avena sativa + Raphanus sativus e Avena sativa degradaram 32%, 36%, 31% e 26% de sua biomassa, respectivamente, durante o mesmo período, contribuindo com 26, 26, 25 e 16 kg de N por hectare para os sistemas de cultivo. Mesmo após 160 dias de dessecação da cultura de cobertura, uma quantidade substancial de biomassa permanece no processo de decomposição no final do ciclo da soja. A porcentagem de biomassa remanescente foi de 29% para Vicia sativa, 44% para Raphanus sativus, 29% para Avena sativa + Raphanus sativus + Vicia sativa, 39% para Secale cereale + Avena sativa + Raphanus sativus e 30% para Avena sativa, respectivamente (Figura 1).

Figura 1. Nitrogênio acumulado na biomassa seca acima do solo de culturas de cobertura (A, C), liberação de nitrogênio da degradação do N acumulado na biomassa seca acima do solo de culturas de cobertura (B,D). Letras minúsculas comparam o efeito pelo teste de média de Tukey (α < 0,05).
Fonte: Equipe Field Crops

Apesar das vantagens significativas, o sucesso do sistema culturas de cobertura-soja exige bom planejamento, a escolha correta das espécies e atenção ao manejo da palhada para evitar competição por água e nutrientes. Quando executado corretamente, este sistema não só mantém a alta produtividade da soja, mas também melhora a sustentabilidade do sistema agrícola e promove a conservação dos recursos naturais.

Referências Bibliográficas.

BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do Solo. São Paulo, ed. 4, 2005

JIAN, J. et al. A meta-analysis of global cropland soil carbon changes due to cover cropping. Soil Biology and Biochemistry, v. 143, n. 107735, p. 107735, abr. 2020.

PES, L. Z. et al. Hairy vetch role to mitigate crop yield gap in different yield environments at field level. Scientia Agricola, v. 79, p. e20200327, 2022.

WINCK, J. E. M. et al. Decomposition of yield gap of soybean in environment × genetics × management in Southern Brazil. European Journal of Agronomy, v. 145, n. 126795, p. 126795–126795, 1 abr. 2023.

WINCK, J. E. M. et al. Ecofisiologia da soja: visando altas produtividades. Santa Maria, ed. 3, 2025



DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.