As cotações da soja, nesta semana, que dá início ao mês de setembro, despencaram em Chicago. O bushel da oleaginosa, para o primeiro mês cotado, fechou a quinta-feira (01/09) em US$ 14,72, contra US$ 15,52 uma semana antes. Por outro lado, a média de agosto ficou em US$ 15,69/bushel, com aumento de apenas 1,2% sobre a média de julho, lembrando que a queda na média de julho, em relação a junho, havia sido de 8,3%. Já a média do farelo de soja, em agosto, subiu 3,2%, enquanto a do óleo subiu 11,1%, porém, sem recuperar o recuo de 18,7% ocorrido em julho.Na prática, o mercado continua pressionado pelo setor financeiro dos EUA, já que nos próximos dias teremos nova reunião do FED com fortes possibilidades de novos aumentos no juro básico daquele país. Além disso, o mercado começa a reverter seu sentimento especulativo, indicando agora possibilidades de uma safra cheia (alguns falam até em recorde) nos EUA, cuja colheita se inicia no final deste mês de setembro.
Para tanto, muita atenção ao novo relatório de oferta e demanda dos EUA, o qual deverá ser divulgado no dia 12/09. Soma-se a isso a tendência de uma recessão econômica global nos próximos meses, o que levaria a um recuo da demanda por soja e derivados.
Por sua vez, o USDA anunciou que, no dia 28/08, a situação das lavouras de soja estadunidenses estavam mantidas em 57% entre boas a excelentes, enquanto o mercado esperava um recuo para 56%. Cerca de 91% das lavouras estavam na fase de formação de vagens. Já em termos de mercado externo, na semana encerrada em 25/08, os embarques de soja somaram 436.851 toneladas para o atual ano comercial 2021/22, ficando abaixo da expectativa do mercado. No total do ano comercial, os embarques somavam 56,4 milhões de toneladas, ficando 5% abaixo do registrado no mesmo período do ano anterior.
E pelo lado da demanda, a China confirmou, na semana passada, a compra de 25 navios de soja visando cobrir sua demanda em setembro e outubro. Nas últimas semanas as importações chinesas de soja melhoraram. A recuperação do mercado suinícola local está fazendo a demanda por farelo de soja crescer no país asiático. (cf.Agrinvest Commodities).
Já aqui no Brasil, após o câmbio chegar a R$ 5,03 por dólar, na quinta-feira (01/09) a moeda nacional atingia a R$ 5,22 na abertura dos negócios. Esse comportamento reduziu, em parte, o impacto negativo do recuo em Chicago sobre os preços internos brasileiros.
Assim, a média semanal, no mercado gaúcho, fechou a quinta-feira (01) em R$ 174,30/saco, enquanto nas principais praças os preços ficavam em R$ 170,00/saco. Por sua vez, no restante do país, os preços médios da soja oscilaram entre R$ 160,00 e R$ 173,00/saco.
Dito isso, em novo relatório, consultoria privada sugere que a nova safra, de 2023, será remuneradora aos produtores, particularmente no Centro-Oeste, que não sofreu com a seca na safra passada. Isso desde que o clima seja normal. Porém, a rentabilidade será menor na próxima safra já que os preços médios recuam, enquanto o custo de produção voltou a se elevar. (cf. Datagro) Por outro lado, a Abiove projeta uma safra de 151 milhões de toneladas de soja para 2022/23 em nosso país, após as 126,6 milhões colhidas na frustrada safra do ano anterior.
Ao mesmo tempo, a indústria moageira está cautelosa nas compras, por incertezas relacionadas a preços da matéria-prima e margens, que não devem ser tão boas quanto foram no início de 2022. E caso a colheita venha nos números projetados, o processamento da oleaginosa não terá condições de acompanhar tal crescimento, embora se espere um recorde de 49,2 milhões de toneladas a serem trituradas em 2023.
Uma diferença entre a nova safra e a anterior, segundo ainda a Abiove, é que em 2021/22 as tradings começaram a temporada com margens melhores, mas que foram caindo devido ao aumento nos preços da soja, algo que não se espera que vá acontecer da mesma forma em 2022/23. Hoje as vendas antecipadas de soja estão em apenas 12% do total esperado, havendo um cenário de grande incerteza quanto a tendência dos preços da oleaginosa.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).