As cotações da soja, em Chicago, recuaram nesta semana que deu início ao último mês do ano. O fechamento da quinta-feira (02), para o primeiro mês cotado, ficou em US$ 12,44/bushel, após ter atingido a US$ 12,17 no dia 30/11. Uma semana antes tal fechamento havia sido de US$ 12,66. O mês de novembro terminou com a média em US$ 12,37/bushel, representando 0,6% de aumento sobre a média de outubro. Um ano antes, em novembro de 2020, a média havia sido de US$ 11,42/bushel.

O recuo em Chicago se deu pela forte queda nos preços do petróleo no mercado internacional, puxada pelo temor quanto a nova variante da Covid-19, a chamada Ômicron, surgida, em princípio, no sul da África. Nos EUA, a colheita da safra de soja está encerrada e o mercado, agora, aguarda o novo relatório de oferta e demanda do USDA, previsto para o próximo dia 09/12. A produção final, em princípio, deve ter ficado ao redor de 120 milhões de toneladas naquele país.

Por outro lado, revisões nas estimativas de produção sul-americana dão conta, agora, de uma safra final de soja 2021/22 em 209,2 milhões de toneladas, contra projeção inicial perto de 212 milhões. Mesmo assim, em se confirmando este volume, o mesmo será 6% superior ao da última colheita na região, se constituindo em novo recorde histórico. A área total semeada deverá alcançar 62,7 milhões de hectares, 2% acima da safra anterior, igualmente se constituindo em novo recorde histórico.

A revisão para baixo se deu em função de nova redução de área na Argentina. Para o Brasil, a produção está estimada em 142,6 milhões de toneladas, ou seja, 4% acima do recorde passado. A área brasileira deverá ficar em 40,5 milhões de hectares, registrando aumento pelo 15º ano consecutivo. Na Argentina, a produção nacional ficaria em 50 milhões de toneladas (fontes argentinas adiantam apenas 44 milhões), fato que seria 10% superior à frustrada safra passada naquele país.

A área total Argentina com soja cai para 16,5 milhões de hectares, contra 17,1 milhões um ano antes. No Paraguai, a produção final poderá chegar a 10,5 milhões de toneladas, sobre uma área de 3,6 milhões de hectares. Já na Bolívia, a produção tende a atingir a 3,2 milhões de toneladas, sobre uma área semeada de 1,45 milhão de hectares. Enfim, no Uruguai, para uma área plantada de 1,18 milhão de hectares, espera-se uma produção final de 2,8 milhões de toneladas, ou seja, 39% acima da frustrada safra do último ano. (cf.
Datagro)

Ainda na Argentina, os produtores locais, até o dia 17 de novembro, haviam vendido 34,8 milhões de toneladas de soja da última safra 2020/21, ou seja, 80,7% do que foi produzido no ano. Um ano antes, as vendas, nesta data, alcançavam 35,5 milhões de toneladas. A Argentina produziu apenas 43,1 milhões de toneladas na frustrada safra deste último ano. Sobre a nova safra 2021/22, cuja semeadura está em andamento, os produtores locais já venderam, antecipadamente, 3,2 milhões de toneladas, ou seja, apenas 7,3% da safra total, esperada em 44 milhões de toneladas.

Por sua vez, no Brasil, diante do recuo das cotações em Chicago, mesmo com um câmbio voltando a níveis superiores a R$ 5,60 por dólar, os preços médios da soja recuaram na maioria das praças. O balcão gaúcho fechou a semana em alta, batendo em R$ 159,84/saco, enquanto nas demais praças os preços recuaram, oscilando entre R$ 143,00 e R$ 155,00/saco.

O plantio da safra atual de soja no Brasil atingia a 90,6% da área esperada até o dia 26/11, estando acima da média histórica que é de 85,7% para esta data. Salvo o Rio Grande do Sul, nos demais principais Estados produtores o plantio está encerrado. (cf. Safras & Mercado)

Por outro lado, a Anec projeta uma exportação de soja, em novembro, em torno de 2,3 milhões de toneladas, ficando abaixo da previsão feita na semana anterior. Mesmo assim, o volume final do mês deverá superar em 1,5 milhão de toneladas o total embarcado no mesmo mês do ano passado. No acumulado dos 11 primeiros meses do ano as exportações de soja teriam chegado a 84,24 milhões de toneladas, já se estabelecendo em novo recorde, pois o total exportado em 2020 ficou em 82,3 milhões.

Enquanto isso, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) decidiu, nesta semana, manter o teor de 10% de biodiesel no diesel para todo o ano de 2022, gerando forte reação de integrantes do setor, que afirmaram que a medida destrói o programa e dá sinais contrários aos compromissos da COP26. O problema é que a soja está muito cara e usá-la para queimar em motores contraria os interesses dos consumidores de óleo comestível. Além de evitar um aumento nos preços do diesel caso a mistura aumentasse. Lembramos que o biodiesel foi introduzido de maneira compulsória na matriz de combustíveis brasileira em 2008.

Desde então, a mistura no óleo diesel rodoviário cresceu gradualmente de 2% (B2) até 13% (B13), neste ano. Mas ao longo do ano a mistura foi reduzida, com o governo citando o alto custo com a matéria-prima –o óleo de soja responde por mais de 70% da fabricação do biocombustível. O último leilão, para atender o mercado no último bimestre do ano, já foi realizado para mistura obrigatória de 10%. Ainda assim, o preço subiu.

A resolução do CNPE frustra integrantes do setor da indústria de soja, que defendiam um aumento gradativo da mistura até 15% em 2023. Em nota assinada por Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil (Aprobio) e União Brasileira do Biodiesel e Bioquerosene (Ubrabio), diz-se que a medida também manteve o país distante do definido pela Política Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio). Por sua vez, integrantes da indústria do petróleo e distribuidores têm afirmado que a elevação do teor de mistura, verificada nos últimos anos, demanda maior rigor nos parâmetros exigidos, em função das características peculiares do produto. Uma consulta pública foi aberta pela reguladora ANP para discutir a qualidade. (cf. Reuters)

Por fim, tem-se que os preços dos fertilizantes continuarão altos. Até quando e quanto mais ainda poderão subir são as dúvidas que ainda rondam os analistas e consultores de mercado, o setor produtivo e os representantes das indústrias destes produtos no mundo todo. O Brasil é o quarto maior consumidor mundial de fertilizantes – em sua maior parte importados – sendo que os reflexos das recentes altas deverão ainda aparecer de forma mais nítida para os agricultores brasileiros, exigindo uma tomada de decisão estratégica para garantir uma boa safra em 2022/23.

Durante o 8º Congresso Nacional de Fertilizantes, realizado nesta semana pela ANDA (Associação Nacional para Difusão de Adubos), esse foi o destaque entre os principais painelistas. Entre todos os líderes reunidos a máxima era de que os fundamentos para os preços dos fertilizantes permanecem consistentes e deverão manter forte a escalada das cotações.

Nos últimos 12 meses, todos os grupos de produtos marcaram altas históricas e muitos alcançaram os valores mais altos de todos os tempos frente a um consumo recorde. Além dos valores altos refletirem uma procura maior, responderam ainda a uma oferta bem menor de quase todos os produtos. E as altas são sentidas com ainda mais agressividade pelo produtor brasileiro dada sua maior dependência das importações.

Afinal, o atual momento não se desenha tão somente por questões de oferta e demanda, mas passa ainda por problemas macroeconômicos e geopolíticos, como as questões ainda não resolvidas na Bielorrússia, terceiro maior fornecedor de cloreto de potássio para o Brasil, que pode passar por uma nova rodada de altas com as sanções que podem ser impostas pelos EUA ao país. Também por conta do presente momento político, os líderes reunidos no congresso foram questionados sobre a capacidade de aumento da oferta de fertilizantes e todos convergiram em suas perspectivas de um aumento, ao menos no médio prazo, de produto disponível no mercado.

A capacidade de incremento de oferta é limitada também, em parte, pela crise energética. E há ainda uma série de fatores além das cadeias de valor e de produção do setor que se colidem e também impedem que o aumento de oferta de matérias-primas aconteça rapidamente, e logo chegue ao mercado. Nos EUA, por exemplo, o impacto será primeiro.

Para a safra 2022/23 as margens de lucro dos agricultores estadunidenses ficará bastante apertada ou se aproximará de zero. No caso do Brasil, haverá ainda rentabilidade, porém, bem menor do que nas últimas duas safras caso os atuais preços dos produtos se mantenham, fato que é uma incógnita. (cf. Notícias Agrícolas)


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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