A cultura está no estágio final do ciclo produtivo. Até o início das intensas precipitações, ocorridas entre 29/04 e 04/05, as produtividades obtidas na colheita de 76% das áreas eram consideradas satisfatórias, chegando a picos excelentes de 5.400 kg/ha, ou à produção mediana, próxima a 3.000 kg/ha.
No entanto, em razão do evento climático adverso, que impediu a realização da colheita em vários períodos, a perspectiva da operação para as áreas restantes (24%) mudou abruptamente, e as perdas de produção serão elevadas, podendo atingir até 100% das áreas remanescentes. Algumas infraestruturas de armazenagem de grãos também foram danificadas, o que pode afetar a produção colhida anteriormente.
A colheita foi suspensa, durante todos os dias, na maior parte do Estado. Contudo nas regiões Noroeste e Campanha, onde as precipitações iniciaram em 01/05, a operação pôde ser realizada entre os dias de 29 e 30/04, mas, de maneira precária, pois os grãos estavam excepcionalmente úmidos. A colheita foi retomada, lentamente, na Campanha, a partir de 03/05, e ampliada nos dias seguintes. A área colhida totalizou 78% da cultivada.
A qualidade dos grãos retirados de lavouras maduras, que estavam sob chuva durante vários dias, está inapropriada, e muitas não serão colhidas pela inviabilidade econômica. O aspecto visual das lavouras destinadas à colheita não está adequado, pois o estágio ideal para a realização da colheita foi ultrapassado consideravelmente.
A opção por colher nessas condições, mesmo diante de uma umidade elevada, acarreta descontos significativos, reduzindo a rentabilidade e não sendo suficiente para cobrir os custos de produção. Além disso, houve danos expressivos devido à perda de solo nas áreas de cultivo, ocasionada pela erosão provocada pelo excesso de chuvas durante o período.
Apesar das chuvas excessivas no início do ciclo, dos breves períodos de estiagem e dos desafios no controle da ferrugem-asiática, parte da safra, colhida antes das chuvas e das enchentes históricas no início de maio, está dentro da normalidade em função da obtenção de produtividades, conforme as projeções iniciais. Porém, nos 22% de áreas restantes, as perdas serão significativas, variando de 20% a 100%, dependendo da localização geográfica. A estimativa de produtividade projetada inicialmente era 3.329 kg/ha, mas deverá variar negativamente, dependendo dos resultados de lavouras a colher ou perdidas.
Na região administrativa da Emater/RS-Ascar de Bagé, resta colher a maior extensão de lavouras do Estado. São cerca de 500 mil hectares maduros e 90 mil hectares em estágio final do enchimento de grãos. Observaram-se filas nas unidades receptoras de grãos e lentidão na descarga dos caminhões com produto úmido, o que expandiu os horários operacionais, inclusive para o período matutino, quando a umidade das plantas e dos grãos estava mais elevada. Os produtores têm realizado o monitoramento constante das lavouras maduras, tentando priorizar as mais suscetíveis, pois observa-se variação da intensidade de perdas entre as cultivares, relacionada à abertura das vagens por excesso de umidade.
Na região da Campanha, a colheita foi retomada em áreas de melhor drenagem. Algumas estradas vicinais, importantes para o transporte dos grãos, foram severamente danificadas pelo tráfego de caminhões carregados, formando grandes atoleiros com dezenas de veículos. Essa impossibilidade de escoamento da safra, associada à alta umidade, acelera o processo de fermentação dos grãos ainda durante o transporte. A situação é preocupante em Dom Pedrito, já que apenas 30% dos 125 mil hectares cultivados foram colhidos.
Em Caçapava do Sul, onde 45% foram colhidos, os estragos são impressionantes, pois não apenas houve danos qualitativos aos grãos, mas também perda total em muitas lavouras, que foram alagadas ou tombadas pela força da água. No município de Bagé, onde 40% da área foi colhida, houve falta de energia elétrica, e algumas propriedades ficaram desabastecidas por até 12 dias, impedindo a secagem e a armazenagem da soja nos silos particulares.
A possibilidade iminente de escassez de combustível também representa um risco de colapso na atividade. As unidades de beneficiamento e armazenamento reportam que as cargas depositadas apresentam índices elevados de umidade, que variam entre 22% e 30%, e impurezas acima de 5%. Porém, ainda há um número significativo de cargas dentro da margem de tolerância, o que evita descontos. Algumas lavouras sofreram perda total após ficarem alagadas por mais de uma semana ou por serem afetadas pela passagem de enxurradas, que provocou o tombamento das plantas.
Na Fronteira Oeste, o cenário é semelhante. São poucos os momentos possíveis de colheita, e as perdas têm sido ampliadas devido à dificuldade de corte em solos saturados e irregulares. Em São Gabriel, 50% das lavouras foram colhidas antes das chuvas torrenciais, e resta a campo 67 mil hectares que terão perda de 50%; e mil hectares terão perdas totais por ficarem submersos.
Em Maçambará, a área colhida alcançou 70%, e as perdas na área restante estão estimadas em 35%. Em Manoel Viana, a colheita atingiu 82%, restando cerca de 10 milhectares com perdas estimadas em 30%. Em São Borja, onde a colheita alcançou 75%, as perdas estão estimadas em 20%.
Na de Caxias do Sul, a colheita foi suspensa, em 26/04, em razão das chuvas em elevados volumes, que atingiram cerca de 300 mm nos principais municípios produtores da oleaginosa. Aproximadamente 15% da área ainda precisa ser colhida, mas essas lavouras foram severamente comprometidas, havendo perdas significativas tanto em produtividade quanto em qualidade, além de grande percentual de grãos brotados e deteriorados.
Na de Erechim, a área colhida permaneceu em 90%, e 10% estão maduros. A colheita deve ser finalizada neste período. No entanto, a produtividade será menor, sendo estimada em 3.780 kg/ha.
Na de Frederico Westphalen, a colheita foi paralisada. Permanecem colhidos 91%, que apresentam produtividades históricas e rendimentos médios de 3.840 kg/ha. Restam 2% em fase de maturação, e 7% maduros. Nessas últimas áreas por colher, estão previstas perdas significativas tanto em produtividade quanto em qualidade.
Na de Ijuí, dos 970 mil hectares cultivados, aproximadamente 910 mil foram colhidos sem danos decorrentes das chuvas. O restante (60 mil hectares) das lavouras apresenta sinais de deterioração. A perspectiva para a colheita nessas áreas está incerta devido às elevadas perdas estimadas. Em 30/04, à tarde, os produtores aproveitaram o breve intervalo de tempo sem chuvas para realizar a colheita, embora o solo estivesse extremamente úmido, e a umidade dos grãos ultrapassasse 25%. A decisão de realizar a operação foi tomada para minimizar as perdas. Os grãos colhidos nesse período foram considerados satisfatórios, e há baixa incidência de germinação e de coloração amarela-pálida com poucos pontos enegrecidos.
Na de Passo Fundo, 90% foram colhidos. A produtividade permanece em torno de 4.000 kg/ha. Porém, há dificuldades em colher os 10% restantes.
Na de Pelotas, a colheita foi interrompida, em grande parte da região, desde 26/04, causando atraso significativo. Foram colhidas apenas 52% das lavouras, e 48% estão prontas para a operação. Em Piratini, Morro Redondo e São Lourenço do Sul, 70% foram colhidos. Em Canguçu, esse percentual é de 75%.
A situação é mais crítica em Santa Vitória do Palmar, onde apenas 30% foram colhidos, e em Chuí, apenas 9%. Em Jaguarão, nas áreas em rotação com arroz, apenas 40% foram colhidos devido ao uso das colhedoras no cereal. De modo geral, as produtividades estão abaixo do esperado. Diante das perdas expressivas, provocadas pelas adversidades climáticas, os sojicultores estão acionando o seguro agrícola.
Na de Santa Maria, a colheita foi suspensa. Aproximadamente 30% das lavouras não foram colhidas e sofrerão perdas totais. Muitas dessas lavouras ficaram submersas. Já outras, que não ficaram inundadas, apresentam germinação de grãos nas vagens e significativo apodrecimento. Em cerca de 70% das lavouras colhidas antes das enchentes, foi registrada produtividade média de 3.200 kg/ha, considerada satisfatória.
Na de Santa Rosa, a atividade de colheita foi muito limitada, ocorrendo apenas no final do período. Foram colhidas 93% das lavouras, e 7% estão maduras. O cultivo da safra atual foi impactado por intempéries, como uma pequena estiagem em janeiro/fevereiro e o excesso de chuva em maio, que provocaram a redução na produtividade projetada, especialmente nas lavouras semeadas mais tardiamente, impossibilitadas de serem colhidas. Nos 7% restantes(57 mil hectares), as perdas podem variar de 40% a 80%. Como resultado, a estimativa de produtividade de 3.322 kg/ha foi revisada para 3.309 kg/ha. A situação de grãos impróprios para a comercialização provavelmente se agravará nas lavouras a serem colhidas, ao longo dos próximos dias.
Na de Soledade, os percentuais de colheita continuam inalterados em relação ao período anterior. A colheita alcança 76% da área cultivada. Nas regiões do Alto da Serra do Botucaraí e Centro-Serra, 90% da área foi colhida. No Vale do Rio Pardo, onde as áreas de cultivo são menores, a colheita varia entre 65% e 80%. Em municípios com áreas maiores, como Rio Pardo, Pantano Grande e Encruzilhada do Sul, o percentual de área colhida está em torno de 57%. As perdas em razão das condições climáticas foram significativas, mas não totais. Já no Baixo Vale do Rio Pardo, muitas lavouras estão inundadas, e as perdas são totais.
Comercialização (saca de 60 quilos)
O valor médio, de acordo com o levantamento semanal de preços da Emater/RS-Ascar no Estado, reduziu em 0,54%, quando comparado à semana anterior, passando de R$ 119,65 para R$ 119,00.
Fonte: EMATER/RS