A crescente evolução da produção e da área cultivada com soja (Glycine max), em âmbito nacional, mantém o Brasil como principal produtor e maior exportador mundial desse grão, mostrando a importância da cultura no contexto econômico e social. Na safra 2022/2023, a produção pode chegar a 152,35 milhões de toneladas, com um incremento de 3,4% na área de cultivo em relação ao ano anterior, totalizando 42,8 milhões de hectares cultivados (Conab, 2022).
Pensando em associar produtividade com lucratividade e sustentabilidade, a minimização de fatores que limitam o desenvolvimento da cultura torna-se de fundamental importância para a expressão do potencial produtivo. Dentre os fatores que afetam o desenvolvimento e a produtividade final de grãos da soja, está o ataque de pragas durante o seu ciclo produtivo. Dessa forma, o monitoramento e o eficiente controle fitossanitário são essenciais para o sucesso produtivo da lavoura.
Nas últimas safras, a ocorrência de períodos de estiagem durante o ciclo da soja tem favorecido o aparecimento de tripes (Caliothrips braziliensis e Frankliniella schultzei) e preocupado agricultores da região. Os tripes são insetos pequenos, que apresentam coloração escura e medem de 1 a 2 mm de comprimento na fase adulta. As ninfas são brancas, amareladas ou escuras, dependendo da espécie (SOUSA-GÓMEZ, 2014).
Com aparelho bucal raspador/sugador, a tripes acaba raspando e causando rompimento do tecido foliar para conseguir se alimentar do conteúdo proveniente do extravasamento das células. As folhas atacadas ficam com áreas de aspecto prateado ou acinzentado e, em seguida, essas lesões tornam-se bronzeadas. Em lavouras com pressão alta dessa praga, pode ser observado redução do peso final dos grãos devido à diminuição da área fotossintética e pelo aumento da transpiração e perda de água, provocado pela remoção da camada de cera que protege a superfície das folhas. Além disso, no processo de alimentação, pode estar sendo transmitido o vírus da queima-do-broto-da-soja, que pode causar grandes prejuízos na cultura.
O monitoramento é essencial para o manejo adequado das populações de tripes. O início do aparecimento da praga pode acontecer já nos primeiros estágios de desenvolvimento da soja e aumentar o tamanho da população ao longo da evolução do ciclo da cultura. A espécie Caliothrips braziliensis pode ser encontrada com maior frequência em trifólios já expandidos, desde o baixeiro até a porção superior, preferencialmente na face abaxial. Enquanto a espécie Frankliniella schultzei prefere regiões meristemáticas, florais e trifólios em expansão.
A dificuldade de manejo pode acontecer quando o dossel da cultura se encontra fechado dificultando a chegada do produto nas partes inferiores, devido às limitações da tecnologia de aplicação. Nessa situação, a população de tripes que se encontra na parte superior do dossel acaba sendo controlada pela aplicação do inseticida, proporcionando uma falsa sensação de controle. No entanto, a população remanescente, no inferior do dossel, pode acabar reinfestando novamente.
Autores: Grazieli Greth Sperling e Maurício Piccoli Bonatti, acadêmicos do curso de Agronomia da UFSM, Campus de Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do professor tutor Dr. Claudir José Basso.
Referências:
CONAB. COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento de safra brasileira – Grãos: Primeiro Levantamento Safra 2022/2023. Brasília: Companhia Nacional de Abastecimento. 2022. Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos. Acesso em: 10 out. 2022.
CropLife Latin America. O pequeno grande devorador da soja. Disponível em: <https://www.croplifela.org/pt/pragas/lista-do-pragas/trips-em-soja>. Acesso: 10 out. 2022.
PASINI, M. P. B. Tripes em soja. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=-1uBXXY4tIg. Acesso: 10 out. 2022.
PASINI, M. P. B.Tripes em Soja – populações em plantas desenvolvidas e localização. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eWjLJHAHaTA&t=204s. Acesso em: 10 out. 2022.
SOUSA-GÓMEZ, D. R. et al. Manual de identificação de insetos e outros invertebrados da cultura da soja. Londrina: Embrapa Soja, 2014. Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/991685/manual-de-identificacao-de-insetos-e-outros-invertebrados-da-cultura-da-soja. Acesso em: 10 out. 2022.
