Os herbicidas pré-emergentes, também conhecidos como herbicidas residuais, desempenham uma importante função no manejo fitossanitário da soja, reduzindo os fluxos de emergência das espécies daninhas. Esses herbicidas são aplicados no solo e atuam durante a germinação e desenvolvimento inicial de sementes de plantas daninhas (HRAC-BR, 2024).
Além de reduzir os fluxos de emergência das plantas daninhas, os herbicidas residuais possibilitam uma maior uniformidade de emergência das espécies remanescentes, aumentando a eficácia no controle pós-emergente, uma vez que há maior uniformidade no tamanho de plantas para o controle químico. Durante o desenvolvimento da soja, há períodos críticos em que o manejo das plantas daninhas deve ser adotado de forma eficiente para reduzir o impacto da matocompetição. Para efeito de manejo, esses períodos são divididos em três fases, popularmente conhecidas como PAI, PCPI e PTPI.
O PAI (Período Anterior à Interferência) corresponde ao intervalo em que a cultura pode conviver com as plantas daninhas sem que ocorram perdas significativas de produtividade. Já o PTPI (Período Total de Prevenção à Interferência) refere-se ao tempo em que a cultura deve permanecer livre da presença de plantas daninhas para que sua produtividade não seja comprometida. Por fim, o PCPI (Período Crítico de Prevenção à Interferência) é definido como o intervalo entre o final do PAI e o PTPI, sendo o momento em que as práticas de manejo devem ser efetivamente aplicadas para garantir o controle das plantas daninhas (Agostinetto et al., 2008).
Embora esse período varie de acordo com a cultivar, espécies e populações das planta daninhas, estudos demonstram que o PAI na maior do casos para a cultura da soja, varia entre 17 a 26 dias após a emergência da cultura (DAE), considerando 5% de perda de produtividade em soja (Silva et al., 2009; Franceschetti et al..2018).
Figura 1. Produtividade de grãos da soja (kg ha-1) cv. Elite IPRO, em função dos períodos de convivência (●) e de controle (○) de papuã (Urochloa plantaginea).

Adaptado: Franceschetti et al. (2018)
Para a maioria dos herbicidas pré-emergentes, o efeito residual efetivo no controle das populações infestantes geralmente se estende até o final do PAI, desde que corretamente posicionados. Esse período garante um bom estabelecimento inicial da lavoura, livre da matocompetição. Após o PAI, o uso de herbicidas pós-emergentes torna-se necessário para manter a soja em desenvolvimento sem interferência durante o PCPI, já que a eficácia residual dos pré-emergentes diminui, favorecendo novos fluxos de emergência (figura 2).
Figura 2. Fluxo de emergência de Buva.

Vale destacar que o feito residual do herbicida pré-emergente pode ser variável, sujeito a interação e alteração por diversos fatores. Conforme observado por Inoue et al. (2011), dependendo das características organominerais do solo, o residual dos herbicidas pré-emergentes pode ser superior a 50 dias após a aplicação.
Avaliando a atividade residual de diferentes doses dos herbicidas alachlor, oxyfluorfen, prometryne e S-metolachlor em solos com texturas contrastantes, aplicadas em pré-emergência, Inoue et al. (2011) observaram que em solos argilosos, alguns herbicidas proporcionaram controle acima de 80% até os 66 dias após a aplicação, como ocorreu com o alachlor.
É importantes destacar que o efeito residual prolongado dos herbicidas no solo, conhecido como carryover, pode comprometer ou até mesmo inviabilizar o estabelecimento das culturas sucessoras. Esse fenômeno ocorre quando o produto persiste no solo em concentrações capazes de causar prejuízos ao crescimento e desenvolvimento das plantas cultivadas posteriormente. Nesse sentido, deve-se seguir as orientações técnicas para o produto e cultura, posicionando os herbicidas residuais com base em suas características físico e químicas, e aptidões, respeitando sempre as recomendações técnicas presentes na bula do produto.
O uso adequado de herbicidas pré-emergentes pode favorecer o bom estabelecimento inicial da soja, especialmente durante o Período Total de Prevenção à Interferência. No entanto, a eficácia desses produtos está diretamente relacionada às características físico-químicas e biológicas do solo, às propriedades do herbicida, à presença de cobertura vegetal e às condições climáticas e ambientais, sobretudo à umidade do solo, que influencia sua adsorção, mobilidade e residualidade. Em solos secos, por exemplo, a eficiência do controle é reduzida, assim como quando o produto é aplicado sobre palhada verde, que retém parte da calda por adsorção e dificulta sua chegada ao alvo (solo).
Além disso, variáveis climáticas como umidade relativa do ar, temperatura e velocidade do vento também afetam a qualidade da pulverização. A maioria dos pré-emergentes pode ser aplicada tanto no sistema “plante-aplique” quanto “aplique-plante”, desde que observadas as recomendações técnicas de cada produto e cultura, com atenção especial ao ajuste da dose em função da textura do solo, sobretudo em áreas mais arenosas.
Visando potencializar a eficiência no controle das plantas daninhas por meio dos pré-emergentes, uma das alternativas mais difundidas é o uso de herbicidas com mais de um principio ativo e/ou mecanismo de ação em sua formulação. Essa estratégia permite ampliar o espectro de controle do herbicida, aumentando o número de espécies controladas. Corroborando, Pedroso; Avila Neto; Dourado Neto (2020), demonstram que herbicidas com mais de um princípio ativo ou mecânicos de ação em sua formulação apresentam uma maior performance no controle pré-emergente das plantas daninhas.
A associação de princípios ativos em herbicidas pré-emergentes é uma tendência que tem norteado novas formulação químicas, possibilitando a supressão tanto de monocotiledôneas como de planta daninhas dicotiledôneas, aumentando a efetividade no controle inicial das populações infestantes em soja. Logo, pode-se dizer que, quando corretamente posicionados e manejados, os herbicidas pré-emergentes são fundamentais para suprimir os fluxos iniciais de emergência das plantas daninhas, favorecer o desenvolvimento inicial da soja e contribuir para o manejo da resistência a herbicidas.
Referências:
AGOSTINETTO, D. et al. PERÍODO CRÍTICO DE COMPETIÇÃO DE PLANTAS DANINHAS COM A CULTURA DO TRIGO. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 26, n. 2, p. 271-278, 2008. Disponível em: < https://www.scielo.br/pdf/pd/v26n2/a03v26n2.pdf >, acesso em: 04/09/2025.
FRANCESCHETTI, M. B. et al. PERÍODOS DE INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS NA CULTURA DA SOJA. Anais da VIII Jornada de Iniciação Cientifica e Tecnológica – VIII JIC, 2018. Disponível em: < https://portaleventos.uffs.edu.br/index.php/JORNADA/article/view/8650 >, acesso em: 04/09/2025.
HRAC-BR. VANTAGENS DO USO DE HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES. HRAC-BR, 2024. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/vantagens-do-uso-de-herbicidas-pr%C3%A9-emergentes >, acesso em: 04/09/2025.
INOUE, M. H. et al. ATIVIDADE RESIDUAL DE HERBICIDAS PRÉ-EMERGENTES APLICADOS EM SOLOS CONTRASTANTES. Revista Brasileira de Herbicidas, 2011. Disponível em: < https://www.rbherbicidas.com.br/index.php/rbh/article/download/124/pdf >, acesso em: 04/09/2025.
PEDROSO, R. M; AVILA NETO, R. C.; DOURADO NETO, D. PRE-EMERGENT HERBICIDE APPLICATION PERFORMED AFTER CROP SOWING FAVORS PIGWEED (Amaranthus spp.) AND WHITE-EYE (Richardia brasiliensis) CONTROL IN SOYBEANS. Revista Brasileira de Herbicidas vol. 19, n. 01, p. 1-8, jan.-mar, 2020. Disponível em: < http://www.rbherbicidas.com.br/index.php/rbh/article/view/717 >, acesso em: 04/09/2025.
SILVA, A. F. et al. PERÍODO ANTERIOR À INTERFERÊNCIA NA CULTURA DA SOJA-RR EM CONDIÇÕES DE BAIXA, MÉDIA E ALTA INFESTAÇÃO. Planta Daninha, Viçosa-MG, v. 27, n. 1, p. 57-66, 2009. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/BBHnkvPVDYTZ7BhqN3WxgFv/abstract/?lang=pt >, acesso em: 04/09/2025.