A área cultivada e a produção de soja segue crescendo no Brasil. Para a safra atual de 2019/2020 a expectativa é de aproximadamente 36,7 milhões de ha, devendo alcançar a produção de 120,9 milhões de toneladas, segundo o boletim da Conab emitido em novembro de 2019. A posição do Brasil é de segundo lugar na produção mundial de soja, atrás apenas dos EUA que é o maior produtor mundial com cerca de 123,664 milhões de toneladas (USDA, 2019).

Dentre os nutrientes necessários para as plantas alcançarem toda essa produção destaca-se o nitrogênio (N). Para produzir uma tonelada de grãos a soja necessita de 80 kg de N que pode ser suprido por meio da fixação biológica de nitrogênio (FBN). Esse é um processo biológico de simbiose em que uma bactéria se associa a planta de soja, absorvendo o N2 atmosférico e disponibilizando-o as plantas.

Relacionando a produção de soja em nosso País e a demanda de N por tonelada produzida pode-se fazer uma reflexão da importância econômica e ambiental da FBN para nossa agricultura. Calcula-se que a FBN represente uma economia anual de US$ 13 bilhões pela substituição do uso de fertilizantes nitrogenados na cultura da soja (Embrapa, 2019).

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Segundo a pesquisadora Mariangela Hungria (Embraba Soja) a tecnologia minimiza problemas que poderiam ocorrer caso fosse necessário a aplicação de fertilizantes nitrogenados, já que nas condições brasileiras tem-se apenas 50% de aproveitamento do produto aplicado. O restante é perdido por lixiviação contaminando o lençol freático, lagos, rios e dissolvida na atmosfera na forma de gases do efeito estufa (Embrapa, 2019). Além disso, também haverá aporte de N pela decomposição dos resíduos culturais da soja para a cultura implantada subsequente na área.

Estas bactérias, no caso da soja, pertencem ao gênero Bradyrhizobium e infectam o sistema radicular, onde se instalam e formam nódulos. Elas têm a capacidade fornecer N na forma assimilável para a planta em troca de parte de seus fotoassimilados. Ou seja, há uma troca simbiótica (benefício mútuo). A Figura 1 a seguir apresenta uma imagem de um sistema radicular de uma planta de soja com grande presença de nodulação de Bradyrhizobium.

Figura 1- Raiz de soja bem nodulada, sob efeito da inoculação com Bradyrhizobium. Fonte: Hungria et al. (2007).

Este tipo de bactéria existe naturalmente no ambiente, entretanto, a pesquisa após longo período de trabalho selecionou estirpes que são altamente eficientes no processo de fixação de N. Com isso, recomenda-se a prática de inoculação das sementes de soja antes da semeadura, utilizando inoculantes específicos contendo estas estirpes selecionadas.

Em áreas novas, no primeiro ano de implantação da cultura da soja, pode-se utilizar o dobro da dose do inoculante. Isso garantirá maior número de bactérias por semente de soja e melhor eficiência na FBN. Contudo, mesmo nas áreas com cultivo anual da soja a prática da inoculação é recomendada anualmente, visto que dados de pesquisa garantem incremento médio de 8% na produção comparado à lavoura que não é reinoculada, segundo informações da Embrapa disponível aqui.

Para que seja feita uma boa inoculação das sementes devemos seguir alguns passos:

1- Procurar uma revenda de confiança e adquirir inoculante com registro no MAPA e que esteja dentro do prazo de validade;

2- Manter o inoculante em lugar fresco e arejado;

3- Nunca fazer a inoculação juntamente com tratamento de sementes com agroquímicos ou fertilizantes, isto pode prejudicar a viabilidade das bactérias;

4- A inoculação deve ser a última etapa antes da semeadura. Ou seja, os outros tratamentos que forem necessários devem ser realizados em ocasião anterior, sedo feita a inoculação somente após a secagem destes.

5- A dose deve ser aplicada de acordo com a recomendação do fabricante, de modo a disponibilizar cerca de 1,2 milhão de células por semente.

6- Existem no mercado inoculantes líquidos e turfosos. Para os líquidos, a dose deve ser de no mínimo 100 ml por 50 kg de semente. Já para os turfosos, deve ser preparado uma solução açucarada a 10% (100 g de açúcar por lito de água) para umedecer as sementes antes de colocar o inoculante. Isto irá facilitar a aderência deste à semente. A figura 2 apresenta uma imagem que demonstra como ficam as sementes de soja inoculadas com inoculante turfoso e que tiveram uma distribuição uniforme do produto.

Figura 2- Sementes de soja inoculadas com inoculante turfoso. Foto: Lebna Landgraf.

7- O total de calda considerando a utilizada para agroquímicos e a inoculação não deve exceder a 300 ml por 50 kg para não embeber as sementes e para que não haja derramamento de produto. Exceto para sementes com alta germinação e alto vigor, podendo-se chegar a 550 ml por 50 kg, de acordo com informações disponíveis no site da Embrapa Soja. Para acessar, clique aqui.

8- O processo de inoculação pode ser feito em tambor rotatório, betoneira ou máquinas específicas, dependendo da disponibilidade na propriedade, tendo-se o cuidado para não danificar as sementes e fazer a distribuição uniforme do produto.

9- A inoculação deve ser feita à sombra, exigindo-se cerca de 20 a 30 min para secagem das sementes. Após a inoculação, é fundamental proteger as sementes do sol e do calor excessivo, sendo ideal semear no mesmo dia da inoculação.

10- Caso o produtor optar por fornecer o inoculante no sulco de semeadura, deve-se aplicar 2,5 vezes a dose do inoculante usado nas sementes, utilizando-se pelo menos 50 litros de calda por hectare. Tendo-se o cuidado para que o tanque de calda seja equipado com dispositivo que evite o aquecimento do produto.

11- Em relação aos micronutrientes cobalto e molibdênio comumente aplicados via tratamento de sementes e que são muito importantes para a FBN, sabe-se que não é interessante que fiquem em contato prolongado com as bactérias. Deste modo, uma estratégia é aplicá-los via foliar cerca de 30 dias após a emergência.

Estes são alguns dos cuidados que devem ser tomados durante o processo de inoculação visando uma nodulação eficiente, melhorando o aporte de N à cultura da soja e consequentemente, aumentando a produtividade e a sustentabilidade do cultivo da soja.

Texto: Alex Maquiel Klein – Bolsista do grupo PET Agronomia/UFSM.

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