Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum

As cotações da soja em Chicago recuaram fortemente nesta semana. Com importante movimento vendedor por parte dos Fundos, o bushel fechou a quinta-feira (20), para o primeiro mês cotado, em US$ 15,33, contra US$ 16,12 uma semana antes. Em uma semana o recuo foi de quase um dólar por bushel.

A bolha especulativa teria estourado? Ainda é cedo para se afirmar isso. O movimento, por enquanto, deve ser visto como um forte ajuste técnico na medida em que houve chuvas nas regiões produtoras dos EUA. Por enquanto, o quadro exige cautela, pois o clima continuará sendo um elemento decisivo naquele país até setembro. Além disso, é bom lembrar que, mesmo diante de safra normal, os estoques finais estadunidenses, para 2021/22, continuarão muito baixos. Mas não há dúvida de que o movimento baixista da semana deu um sinal importante ao mercado.

Além do clima, os preços do óleo e do farelo também recuaram. O primeiro caiu 3,6% em dois dias, enquanto o farelo perdeu 10,6% de seu valor em cinco dias. O recuo do óleo está ligado as baixas nas cotações do petróleo no mercado mundial, enquanto o farelo sofre influência do movimento chinês de rolar suas compras de soja para meses futuros, diante das apertadas margens de esmagamento que suas indústrias vêm enfrentando. Afora isso, a peste suína africana na China continua a pressionar o mercado, tendo por adição a nova estratégia chinesa de modificar a composição de suas rações animais, a fim de utilizar menos farelo de soja e milho nas mesmas.

Dito isso, o plantio da soja nos EUA, até o dia 16/05, atingia a 61% da área esperada, enquanto a média histórica é de 37% para esta data. Do total semeado, 20% já emergiram, contra 12% na média histórica.

Por sua vez, na semana encerrada em 13/05, as exportações estadunidenses de soja somaram 308.818 toneladas, superando o esperado pelo mercado. Em todo o atual ano comercial as exportações estadunidenses da oleaginosa somam 56 milhões de toneladas, ficando 90% acima do exportado em igual período do ano passado.

Por outro lado, a Associação Nacional de Processadores de Oleaginosas dos EUA indicou que em abril o país esmagou 4,36 milhões de toneladas, sendo este o segundo menor volume em 19 meses. Em março, o esmagamento havia sido de 4,84 milhões e em abril de 2020, de 4,68 milhões de toneladas.

Já no Brasil, com o recuo de Chicago, associado a prêmios portuários ao redor de zero e um câmbio em torno de R$ 5,25 a R$ 5,30, os preços médios da soja igualmente recuaram. A média gaúcha, no balcão, ainda ficou em R$ 166,59/saco, porém, praças importantes pagavam entre R$ 162,00 e R$ 163,00/saco. No restante do país os valores médios fecharam a semana entre R$ 158,00 a R$ 164,00/saco.

Em termos de exportações, o país caminha para exportar o maior volume de soja, desde 2014, para os EUA, que é o segundo produtor mundial da oleaginosa, devido aos seus curtos estoques. Nos próximos dias espera-se embarcar 238.000 toneladas com destino aos EUA através dos portos do norte do país (Barcarena, Itacoatiara e Belém). Geralmente são pequenas quantidades anuais compradas pelos estadunidenses, porém, este ano o volume será maior, após o recorde de um milhão de toneladas exportadas em 2014. Este movimento exportador estaria sendo controlado por empresas ligadas às grandes multinacionais do setor, como a Glencore, a Bunge, Cargill e a Louis Dreyfus, além da processadora norte-americana de carnes Perdue Farms.

Em termos gerais, segundo a Anec, o Brasil espera exportar em maio um total de 16,2 milhões de toneladas de soja, o que seria um novo recorde mensal pelas estatísticas desta Associação. Em maio do ano passado, o país exportou 13,9 milhões de toneladas de soja segundo a Anec. Para o farelo de soja o volume exportado no mês seria de 1,8 milhão de toneladas.

Enfim, vale destacar que a Fecoagro divulgou os números dos custos de produção para a safra 2021/22. No caso da soja os mesmos atingiriam a R$ 4.800,76/hectare, a partir de uma produtividade média de 60 sacos/hectare, o que representa um aumento de 31,78% sobre os custos da safra do ano anterior. Todavia, a relação de troca melhorou, com o produtor precisando, em média, 29,1 sacos para cobrir tal custo, o que significa um recuo de 22,5% sobre o ano anterior. Entretanto, isso se confirmará desde que os preços da oleaginosa se mantenham elevados, já que o estudo levou em consideração um preço de R$ 165,00/saco. Lembrando que a produtividade média gaúcha, nesta safra de soja recém colhida, ficou em 55,4 sacos/hectare.


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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).

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