O trigo (Triticum aestevium L.) é um dos cerais mais cultivados no mundo, de acordo com a Embrapa (2022), o trigo é uma gramínea cultivada principalmente para a produção de grãos. No Brasil, a produção de trigo é dominada pelos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, juntos são responsáveis pela produção de mais de 8 milhões de toneladas, correspondendo a cerca de 86% da produção nacional (CONAB, 2022).

Conforme o acompanhamento de safras da CONAB (2023), na safra de 2023, a área cultivada de trigo deve alcançar a marca de 3384,5 milhões de hectares, estima-se um aumento de 9,7% da área plantada, em relação à safra anterior. Com uma produtividade média estimada de 2888 Kg ha-1, estima-se que a produção obtida será de 9773,7 milhões toneladas.

No entanto, assim como ocorre nas demais culturas agrícolas, o trigo também está suscetível a pragas e doenças, as quais podem ocasionar danos tanto quantitativos, quanto qualitativos, afetando a produtividade e qualidade dos grãos ou sementes produzidos. Entre essas pragas, destacam-se os percevejos, que frequentemente infestam as plantações de trigo, podendo causar consideráveis reduções na produtividade caso medidas adequadas de controle não sejam implementadas. Os impactos econômicos decorrentes desses insetos são extremamente relevantes, pois podem danificar a cultura do trigo em várias fases de desenvolvimento (Embrapa, 2022).



Os percevejos chamados de barriga-verde, são os mais frequentes na cultura do trigo, infestações de D. furcatus, no período de emborrachamento do trigo, podem ocasionar redução de altura da planta, desenvolvimento atrofiado e aparecimento de espigas deformadas – espigas sem grãos ou com deformação parcial de grãos (Oliveira, 2020).

Conforme destacado pela Embrapa (2022), os ataques de percevejos no trigo podem causar uma série de sintomas e danos, que variam de acordo com a intensidade da atividade alimentar dos insetos e a fase de desenvolvimento da planta. Durante a fase vegetativa, são observadas manchas esbranquiçadas na área em houve a inserção do aparelho bucal, ocasionando enrugamento foliar e mortalidade do colmo principal. Além desses sinais, é possível ocorrer necrose nas folhas e um aspecto filiforme. A má formação das plantas também é um sintoma característico do ataque, as plantas podem apresentar entouceramento acentuado e redução de porte.

Quando os percevejos atacam durante a fase reprodutiva há o surgimento de espigas deformadas, de coloração esbranquiçada e com grãos abortados, reduzindo ainda o porte da planta (Embrapa, 2022). Na figura 1, é possível observar os principais sintomas de ataque de percevejo na cultura do trigo.

Figura 1. sintomas do ataque de percevejo na cultura do trigo.

Fotos: Marcela Marcelino Duarte, 2007.

Para obter um controle eficiente dessa praga no trigo, é imprescindível compreender e aplicar os níveis de ação adequados. Ao conhecer esses níveis, é possível tomar medidas de controle de forma precisa, minimizando os danos que resultam em perdas de produtividade e prejuízos aos grãos. Ao adotar as estratégias de controle apropriadas, é possível garantir uma proteção efetiva da cultura e preservar a qualidade dos grãos.

Panizzi et al. (2015), afirmam que o monitoramento pré-semeadura, nas áreas com restos culturais e após a semeadura, é fundamental, ressaltando que a detecção de percevejos na lavoura não implica necessariamente a aplicação de inseticidas, uma vez que isso só deve ser feito quando os níveis de controle atingirem os patamares de ação recomendados.

O nível de controle é a densidade populacional, em que as medidas de controle devem ser tomadas para impedir que uma determinada população atinja o nível de dano econômico, que é a menor densidade populacional de uma espécie de inseto que causa dano econômico (Gotti et al., 2019). Na tabela a seguir, podemos visualizar o número de percevejos barriga-verde por metro quadrado presentes na área para a tomada de decisão no período vegetativo e reprodutivo na cultura do trigo

Tabela 1. monitoramento e critérios para tomada de decisão no controle de percevejos barriga-verde em trigo.

Fonte: Embrapa, 2023.

Cabe destacar que existem duas espécies conhecidas como percevejo barriga-verde, sendo elas: o Diceraeus melacanthus D. furcatus, ambos do mesmo gênero, mas que apresentam algumas características visuais que permitem a diferenciação das espécies.

Figura 2. Adulto de Diceraeus furcatus e Diceraeus melacanthus. Características fenológicas de adultos dos percevejos barriga-verde que permitem separar as duas espécies.

De acordo com Manfredi-Coimbra (2005), existe uma correlação direta entre o crescimento das populações dos insetos Diceraeus melacanthus e a redução da produtividade do trigo. Infestações de Diceraeus melacanthus durante a fase reprodutiva do trigo podem ter um impacto significativo na produtividade, resultando em reduções de produtividade de aproximadamente 1 sc ha-1  para cada dois percevejos presentes em um metro quadrado (Chiaradia, 2012). Logo, é essencial monitorar as áreas de cultivo, a fim de definir o melhor momento de controle dos percevejos, reduzindo as perdas produtivas.


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Referências:

CHIARADIA, L. A. DANOS E MANEJO INTEGRADO DE PERCEVEJOS BARRIGA-VERDE NAS CULTURAS DE TRIGO E DE MILHO. Revista Agropecuária Catarinense, v.25, n.2, jul. 2012. Disponível em: < https://core.ac.uk/download/pdf/322588366.pdf >, acesso em: 10/07/2023.

CONAB. ACOMPANHAMENTO DA SAFRA BRASILEIRA DE GRÃOS v. 10 – Safra 2022/2023, nono levantamento, junho 2023. Disponível em: < https://www.conab.gov.br/component/k2/item/download/47720_642c6cc3d60e063c21c87a3094e7f5f7>, acesso em: 10/07/2023.

CONAB. MERCADO IMPULSIONA PRODUÇÃO DE TRIGO QUE ATINGE NOVO RECORDE COM MAIS DE 9 MILHOES DE TONELADAS. Companhia Nacional de Abastecimento, 2022. Disponível em: < https://www.conab.gov.br/ultimas-noticias/4850-mercado-impulsiona-producao-de-trigo-que-atinge-novo-recorde-com-mais-de-9-milhoes-de-toneladas#:~:text=Principais%20produtores%20%E2%80%93%20Paran%C3%A1%20e%20Rio,que%20%C3%A9%20produzido%20no%20pa%C3%ADs >,acesso em: 10/07/2023.

DUARTE, MARCELA MARCELINO; ÁVILA, CRÉBIO JOSÉ; ROHDEN, VANESSA da. NÍVEL DE DANO DO PERCEVEJO Dichelops melacanthus NA CULTURA DO TRIGO Triticum aestivum L. EMBRAPA, Comunicado Técnico 159. ISSN 1679-0472 Dourados, MS, 2010. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/860150/1/COT2010159.pdf >, acesso em: 10/07/2023.

EMBRAPA. INFORMAÇÕES TÉCNICAS PARA TRIGO E TRITICALE SAFRA 2023 b=Brasília, DF, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1153536/1/InformacoesTecnicasTrigoTriticale-Safra2023.pdf >, acesso em: 10/07/2023.

EMBRAPA. PRAGAS DA CULTURA DO TRIGO. Embrapa Trigo, ISSN 1518-6512, outubro/2022, Passo Fundo, RS 2022. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/243709/1/Documentos-200-online-VFinal-ODS.pdf >, acesso em: 10/07/2023.

GOTTI, ISABELLA ALICE; SALDANHA, CAROLINA BELEI; MARRA, SHARRINE O. D. de O. ENTOMOLOGIA APLICADA À AGRONOMIA. Londrina, PR: Editora e Distribuidora Educacional S. A., 2019. Disponível em: < http://cm-kls-content.s3.amazonaws.com/201901/INTERATIVAS_2_0/ENTOMOLOGIA_APLICADA_A_AGRONOMIA/U1/LIVRO_UNICO.pdf >, acesso em: 10/07/2023.

MANFREDI-COIMBRA, S. et al. DANOS DO PERCEVEJO BARRIGA-VERDE Dichelops melacanthus (Dallas) (Heteroptera: Pentatomidae) EM TRIGO. Ciência Rural, v.35, n.6, nov-dez, 2005. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/cr/a/chPNbFcjqJsdFDcst5RPFNF/?format=pdf&lang=pt >, acesso em: 10/07/2023.

OLIVEIRA, EDSON de. AVALIAÇÃO DE PERCEVEJO BARRIGA-VERDE E MARROM NA CULTURA DO TRIGO Faculdade de Ensino Superior do Centro do Paraná, Trabalho de Conclusão de Curso, Pitanga, PR, 2020. Disponível em: < http://repositorio.ucpparana.edu.br/index.php/engagro/article/view/113/112 >, /acesso em: 10/07/2023.

PAZZINI, A. R.; AGOSTINETTO, ALICE; SMANIOTTO, L. F.; PEREIRA, P. R. V. da S. MANEJO INTEGRADO DOS PERCEVEJOS Barriga-Verde, Dichelops spp, em TRIGO Embrapa Trigo, Passo Fundo, RS, 2015. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/126856/1/FL-08528.pdf >, acesso em: 10/07/2023.

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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.

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