Atualmente, uma série de doenças, especialmente de origem fúngica, podem incidir sobre a cultura da soja, nos diferentes estádios do desenvolvimento da planta (figura 1). Essas doenças afetam não só o potencial produtivo da lavoura, como também a qualidade dos grãos e sementes produzidos. Visando controlar de forma eficiente as doenças e reduzir os impactos negativos sobre a cultura da soja, diferentes estratégias de manejo podem ser adotadas de forma integrada.

Figura 1. Período de ocorrência de doença em soja.

Dentre os métodos de controle mais utilizados para o controle de doenças em lavouras comerciais, destaca-se o controle químico, por meio do emprego de fungicidas. Desde que utilizados conscientemente, os fungicidas químicos possibilitam um controle eficiente e relativamente rápido de doenças, contribuindo para o aumento da sanidade das lavouras. Sobretudo, visando um controle eficaz de doenças utilizado fungicidas químicos e para o manejo da resistência das doenças a esses fungicidas, o monitoramento das áreas  de cultivo é imprescindível para o correto posicionamento dos fungicidas, mesmo se tratando de doenças em que se recomenda o controle preventivo.

Determinadas doenças possuem elevada capacidade em reduzir a produtividade da soja, causando danos que podem representar até 90% de perdas, como é o carro da ferrugem-asiática (Godoy et al., 2024). Logo, a necessidade de se utilizar fungicidas químicos para prevenir e/ou manejar doenças em soja torna-se indiscutível para a manutenção do potencial produtivo da cultura.

Qual o impacto do número de aplicações de fungicidas sobre a produtividade da soja?

Em lavouras comerciais de soja, o número de aplicações de fungicidas geralmente varia de três a cinco ao longo do ciclo da cultura. De acordo com Sacon et al. (2018), o aumento no número de pulverizações está diretamente associado à maior eficiência no controle de doenças, como a ferrugem-asiática. No estudo conduzido pelos autores, a partir da terceira aplicação, todos os tratamentos apresentaram níveis de controle superiores a 80%, alcançando até 96% com cinco aplicações, dependendo da cultivar utilizada. Esses resultados evidenciam que o escalonamento das aplicações tem papel fundamental na supressão da doença e na proteção do potencial produtivo da soja.

Tabela 1. Controle (%) de  ferrugem-asiática  da  soja para  as  cultivares BMX  Tornado e TMG 7262e área abaixo da curva de progresso da doença (AACPD), em função do número de aplicações de fungicida.
Fonte: Sacon et al. (2018)

Considerando que um controle mais eficiente de doenças reduz o impacto de patógenos sobre a produtividade da soja e que o aumento do número de aplicações de fungicidas contribui para o aumento da eficiência de controle das doenças como supracitado, o aumento do número de aplicações de pode refletir em ganhos econômicos na cultura.

Analisando a influência do número de aplicações de fungicidas sobre a produtividade da cultura da soja, Tura (2023) constatou que há uma relação entre ambas as variáveis, entretanto com variações em função da cultivar e fatores bióticos e abióticos. O estudo baseou-se na análise de seis safras 2016/2017, 2017/2018, 2018/2019, 2019/2020, 2020/2021 e 2021/2022), através de aplicação de questionários, totalizando 1163 lavouras de soja no sul do Brasil.

De acordo com os resultados obtidos no estudo conduzido por Tura (2023), para cada aplicação entre uma e quatro e dois décimos de aplicações (figura 2), tem-se um incremento médio de produtividade de 599,8 kg ha-1. O modelo desenvolvido por Tura (2023) demonstra que a partir de 4,2 aplicações, em situações normais (não limitantes), não ocorreu incremento de produtividade em função do aumento do número de pulverizações de fungicidas.

Figura 2.  Relação ente produtividade e número de aplicações de fungicidas em lavouras de soja. A linha preta é a função limite. A linha tracejada vermelha representa a regressão linear (y=599,8x + 3357,4) entre a produtividade e uma a quatro e dois décimos de aplicações de fungicidas foliares. Dados de 1163 lavouras de 6 safras (2016/2017, 2017/2018, 2018/2019, 2019/2020, 2020/2021 e 2021/2022).
Fonte: Tura (2023)

Contudo, de modo geral, Tura (2023) observou que lavouras com maior número de aplicações de fungicidas apresentaram maiores probabilidades de alcançar produtividades acima da média geral das áreas avaliadas (3.056,5 kg ha⁻¹). Para quatro e cinco aplicações, essa probabilidade foi de 74% e 92%, respectivamente (Figura 3). Já com três aplicações, a chance de superar a média caiu para 50%, indicando que, em condições normais de cultivo, o aumento no número de aplicações de fungicidas está associado a uma maior probabilidade de incrementos produtivos.

Figura 3. Análise de probabilidade de se atingir produtividades abaixo ou acima da média das lavouras (3056,5 kg ha-1) (linha cinza tracejada) em função do número de aplicações de fungicidas foliares. Dados de 1163 lavouras de 6 safras (2016/2017, 2017/2018, 2018/2019, 2019/2020, 2020/2021 e 2021/2022).
Fonte: Tura (2023)

É importante destacar que a resposta das cultivares de soja à aplicação de fungicidas foliares pode ser influenciada pela duração do ciclo de desenvolvimento. Conforme observado por Tura (2023) cultivares com GMR inferior a 5,8 apresentaram maior resposta ao número de aplicações, com incremento médio de 450,6 kg ha⁻¹ por aplicação. Já nas cultivares de GMR superior a 6,2, o ganho médio foi de 336,7 kg ha⁻¹ por aplicação. Além do ciclo de desenvolvimento, a severidade e frequência de ocorrência de doenças podem influenciar na resposta produtiva da soja em função da aplicação de fungicidas.

Além do impacto na produtividade e rentabilidade da cultura, o número de aplicações também impacta no manejo da resistência dos fungos a fungicidas, uma vez que diferentes grupos químicos de fungicidas podem ser rotacionados durante o ciclo de desenvolvimento da soja, reduzindo a pressão de seleção de um único fungicidas sobre o patógeno.

Já foram relatados diversos casos de resistência de fungos a fungicidas, com altos níveis de resistência especialmente a estrobilurinas e fungicidas similares (QOIs – anteriormente grupo STAR) (FRAC-BR, s. d.). Tal fato muitas vezes está relacionado a mutação de genes no patógeno. Nesse sentido, a associação entre grupos químicos, especialmente de sítio-específico com multissítios e a rotação de fungicidas no programa fitossanitário da soja é fundamental para o manejo da resistência dos fungos a fungicidas.

Vale destacar que o manejo eficaz de doenças na cultura da soja vai além da aplicação de fungicidas com diferentes modos de ação. É necessário adotar uma abordagem sistêmica, que envolva práticas de manejo integradas. A diversificação do sistema por meio da rotação de culturas e a escolha de cultivares com maior resistência ou tolerância às principais doenças são estratégias fundamentais, especialmente em áreas com histórico recorrente de infecção. A supressão de plantas daninhas deve ser priorizada, pois elas funcionam como hospedeiras alternativas, favorecendo a persistência de patógenos entre safras. Além disso, a utilização de sementes com elevado padrão sanitário é uma medida preventiva essencial para reduzir a introdução de inóculo inicial e contribuir para a sustentabilidade do manejo fitossanitário.

Referências:

FRAC-BR. Resistência a fungicidas definições e conceitos. Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas: Frac-Brasil, s. d. Disponível em: < https://www.frac-br.org/definicoes-e-conceitos >,acesso em: 01/08/2025.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA, Phakopsora pachyrhizi, NA SAFRA 2023/2024: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa Soja, Circular Técnica, n. 206, 2024. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1165843/1/CT-206-Claudia-Godoy.pdf >, acesso em: 01/08/2025.

SACON, D. et al. NÚMERO DE APLICAÇÕES DE FUNGICIDA E COMPARAÇÃO ENTRE CULTIVARES COM E SEM TOLERÂNCIA NO CONTROLE DA FERRUGEM ASIÁTICA DA SOJA. Acta Iguazu, 2018. Disponível em: < https://e-revista.unioeste.br/index.php/actaiguazu/article/view/18847/13815 >, acesso em: 01/08/2025.

TURA, E. F. EXPLICANDO A CONTRIBUIÇÃO DO NÚMERO DE APLICAÇÕES DE FUNGICIDAS FOLIARES NA PRODUTIVIDADE DE LAVOURAS DE SOJAUniversidade Federal de Santa Maria, Dissertação de Mestrado, 2023. Disponível em: < https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/30300/DIS_PPGEA_2023_TURA_ENRICO.pdf?sequence=1&isAllowed=y >, acesso em: 01/08/2025.

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