Em meio a diversidade de pragas e patógenos que acometem a soja, um complexo de doenças é conhecido por expressar sintomas e ocasionar danos durante o período final do desenvolvimento da cultura. O complexo de doenças de final de ciclo da soja, popularmente conhecidas como DFC, inclui doenças como a Septoriose em soja (Septoria glycines), oídio (Microsphaera diffusa), mancha-olho-de-rã (Cercospora sojina), crestamento foliar e mancha púrpura (Cercospora kikuchii), mancha-alvo (Corynespora cassiicola), antracnose (Colletotrichum truncatum) e a ferrugem-asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi), entre outras.
Figura 1. Principais DFCs da soja. A – Septoriose em soja (Septoria glycines), B – oídio (Microsphaera diffusa), C – mancha-olho-de-rã (Cercospora sojina), D – mancha-alvo (Corynespora cassiicola), E – antracnose (Colletotrichum truncatum) e F – ferrugem-asiática da soja (Phakopsora pachyrhizi).

Embora a ferrugem-asiática seja uma das doenças mais devastadoras da soja e também considerada uma DFC por ocorrer em qualquer estádio do desenvolvimento da planta, outras DFC também possuem potencial em reduzir atributos quantitativos e qualitativos da soja, reduzindo o potencial produtivo da cultura.
A exemplo, tem-se o crestamento foliar de cercospora (figura 1), cujas as perdas de produtividade em decorrência da doença em soja variam entre 15% a 30%, podendo chegar a 50% caso as condições ambientais favoreçam o desenvolvimento da doença (Araujo Junior, 2021).
Figura 2. Sintomas avançados de crestamento foliar de cercospora (Cercospora kikuchii) em soja.

Considerando o impacto das doenças de final de ciclo da soja, estratégias de manejo que permitam mitigar os efeitos das DFC devem ser adotadas a fim de minimizar as perdas de produtividade na cultura. Uma das principais e mais difundidas estratégias para isso é o controle químico com o emprego de fungicidas. No entanto, visando um manejo eficiente e um controle eficaz, posicionar os fungicidas de forma adequada, dando preferência para produtos de maior eficiência é fundamental para o sucesso no manejo das DFC.
Visando elucidar essa questão e auxiliar técnicos e produtores no posicionamento de fungicidas, ensaios para comparar da eficiência de fungicidas no controle das DFC vêm sendo conduzidos na rede de experimentos cooperativos desde a safra 2020/2021. Embora não constituam recomendações de manejo, os resultados obtidos nesses ensaios contribuem para um melhor posicionamento de fungicidas no manejo fitossanitário da soja, visando um controle eficiente das doenças e o manejo da resistência dos fungos aos fungicidas (Godoy et al., 2025).
No ensaio realizado na safra 2024/2025, foram instalados 19 experimentos por 18 instituições, contemplando os estados de Goiás, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Bahia e Tocantins. De acordo com Godoy et al. (2025), o protocolo utilizado nos experimentos consistiu no estabelecimento de aplicações sequenciais de fungicidas iniciando aos 35 dias após a emergência (35 DAE) e repetidas a cada 14-18 dias, sendo a última aplicação fixada em R5.3 – R5.4, para residual dos produtos até o final do ciclo.
Os fungicidas avaliados estão apresentados na tabela 1. Os tratamentos foram compostos por ingredientes ativos que pertencem aos grupos: inibidores da desmetilação – IDM (tebuconazol, difenoconazol e protioconazol), inibidores de quinona externa – IQe (metiltetraprole, metominostrobina, trifloxistrobina, azoxistrobina e picoxistrobina), inibidor da succinato desidrogenase – ISDH (impirfluxam), isoftalonitrila (clorotalonil), ditiocarbamato (mancozebe) e inorgânico (oxicloreto de cobre). Foram avaliados fungicidas com isoftalonitrila isolada (T2), ditiocarbamato isolado (T6), em misturas de isoftalonitrila + IDM (T3), isoftalonitrila + ISDH + IQe (T5), IQe + IDM sem (T7) e com ditiocarbamato em mistura em tanque (T8), IQe + IDM + ditiocarbamato (T9 e T10) e inorgânico + IDM + IQe (T11) (Godoy et al., 2025).
Tabela 1. Produto comercial (p.c.), ingrediente ativo (i.a.) e dose dos fungicidas nos tratamentos para controle das doenças de final de ciclo. Safra 2024/2025.

Resultados
De acordo com os resultados obtidos nos ensaios realizados na safra 2024/2025 e apresentados por Godoy e colaboradores 2025, todos os tratamentos apresentaram severidade de DFC inferior à testemunha sem fungicida (Tabela 2). Entre os fungicidas multissítios isolados, o tratamento com clorotalonil (T2 – Previnil Max) apresentou menor severidade e maior porcentagem de controle (57%) quando comparado ao tratamento com mancozebe (T6 – Tróia, 48%). As menores severidades e maiores porcentagens de controle ocorreram nos tratamentos com fungicidas metiltetraprole + difenoconazol e mancozebe (T8 – 75% de controle) e metiltetraprole + difenoconazol (T7 – 75%), seguido de Curatis (T10 – 68%), do programa FRAC (T12 – 66%), Evolution (T9 – 66%) e Sugoy (T5 – 66%).
Tabela 2. Severidade das doenças de final de ciclo (SEV DFC), porcentagem de controle em relação ao tratamento testemunha (T1) (%C), fitotoxicidade dos fungicidas (FITO), produtividade (PROD) e porcentagem de redução de produtividade (%RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade. Safra 2024/2025.

Com relação as repostas produtivas, Godoy et al. (2025) destacam que as maiores produtividades foram observadas para os tratamentos com metiltetraprole + difenoconazol e mancozebe (T8 – 4.419 kg/ha), metiltetraprole + difenoconazol (T7 – 4.412 kg/ ha), com o Programa FRAC (T12 – 4.332 kg/ha), Curatis (T10 – 4.306 kg/ha), metominostrobina + tebuconazol + clorotalonil (T4 – 4.286 kg/ha), Evolution (T9 – 4.259 kg/ha), Nativo Plus/ Patriota (T11 – 4.244 kg/ha) e tebuconazol + clorotalonil (T3 – 4.225 kg/ha), resultando em uma redução da produtividade da testemunha (sem fungicidas) em comparação ao tratamento mais produtivo (T8) de 22%.
Confira a Circular Técnica completa com os resultados dos ensaios realizados na safra 2024/2025 para avaliar a eficiência de fungicidas no controle de doenças de final de ciclo da soja clicando aqui!
Referências:
ARAÚJO JÚNIOR, I. P. CONTROLE QUÍMICO DE MANCHAS FOLIARES EM DIFERENTES CULTIVARES DE SOJA. Universidade Federal de Uberlândia, Dissertação de Mestrado, 2021. Disponível em: < https://repositorio.ufu.br/bitstream/123456789/33377/4/ControleQuimicoManchasSoja.pdf >, acesso em: 05/08/2025.
GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DAS DOENÇAS DE FINAL DE CICLO DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 193, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154333/1/Cir-Tec-193.pdf >, acesso em: 05/08/2025.
GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DAS DOENÇAS DE FINAL DE CICLO DA SOJA, NA SAFRA 2024/2025: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa Soja, Circular Técnica, n. 215, 2025. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1176900/1/Circ-Tec-215.pdf >, acesso em: 05/08/2025.
SOARES, R. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃ DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa Soja, Documentos, n. 256, ed. 6, 2023. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/handle/doc/1158639 >, acesso em: 05/08/2025.