Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário
Ásia e Oriente Médio podem assimilar volume sobretaxado pelos EUA
Como o Portal SNA vem mostrando, parte importante da estratégia brasileira desde o início da crise do tarifaço é encontrar novos destinos para as principais mercadorias afetadas. Isso inclui, por exemplo, intensificar as tratativas com o governo japonês para embarques de proteína animal e também negociar com países do Oriente Médio o escoamento de maiores volumes de café, açúcar e carne bovina. Nesse sentido, vem a calhar que mais mercados já vinham sendo prospectados antes do anúncio dos 50%, de modo a oferecer ao agro brasileiro cada vez mais opções para sua variedade de commodities, protegendo o setor nacional contra ações intempestivas de um único comprador.
No caso do Japão, a visita de uma comitiva presidencial em março conseguiu das autoridades locais a promessa de abertura do mercado para a carne bovina brasileiro, num esforço conjunto que contou com empresários, produtores e representantes do segmento. Agora, há também uma mobilização para avançar nas conversas sobre a carne suína. Atualmente, apenas empresas de Santa Catarina podem exportar aos japoneses, pois o estado tem o reconhecimento de zona livre de aftosa sem vacinação desde 2007. A tentativa é estender a autorização para Paraná e Rio Grande do Sul. Uma comitiva do Ministério da Agricultura visitará o país nesta semana.
Reservadamente, o governo brasileiro avalia que as autoridades japonesas vêm protelando o processo formal de análise, mesmo com todos os requisitos sanitários e trâmites burocráticos atendidos. Em 2024, as exportações de carne suína dos frigoríficos catarinenses ao Japão alcançaram 93,4 mil toneladas, alta de 131% em relação ao ano anterior, com faturamento de US$ 312,5 milhões. O Estado detém a maior fatia dos embarques totais do segmento, com cerca de 55% das vendas para todos os destinos.
No ano passado, o Brasil exportou 1,3 milhão de toneladas da proteína, das quais 791,3 mil toneladas saíram de Santa Catarina. Rio Grande do Sul (280,4 mil toneladas) e Paraná (183,6 mil toneladas) aparecem na sequência no ranking de exportadores, o que reforça a importância de uma eventual abertura do mercado japonês para esses estados. A fatia atual do Brasil no mercado de carne suína em geral no Japão está perto de 8% e há planos dos exportadores para alcançar, ao menos, 10%. A possível abertura de Paraná e Rio Grande do Sul é considerada fundamental para atingir a meta.
Na semana passada, a Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) deu novo passo na abertura de mais um mercado para a carne bovina nacional, dessa vez o Vietnã, que também já havia sido visitado pela comitiva presidencial em março. A entidade participou de uma rodada de negócios, em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos). Participaram das conversas importantes empresas importadoras locais e autoridades. Também houve tratativas nas Filipinas, parceiro habitual.
O Diretor de Assuntos Estratégicos da Abiec, Julio Ramos, se mostrou otimista após o evento em Hanói: “Uma oportunidade valiosa para apresentar a qualidade da nossa carne, suas garantias e, principalmente, o quanto ela é acessível ao mercado internacional. Mostramos que competitividade e segurança caminham juntas, sem comprometer o abastecimento interno, que ainda consome 70% da nossa produção. Em uma cidade com quase 9 milhões de habitantes, e em um país que recebe mais de 18 milhões de turistas por ano, o Brasil tem espaço para construir parcerias sólidas, que geram emprego, renda e oportunidades para brasileiros e vietnamitas”, disse ele.
Oriente Médio também oferece boas condições
O Oriente Médio também se apresenta como região promissora e capaz de receber mais embarques de produtos agropecuários brasileiros. Segundo a Times Brasil, uma análise da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira revela o potencial de redirecionamento dos fluxos comerciais e a expansão da parceria entre o Brasil e os 22 países da Liga Árabe. A Câmara mapeou 13 produtos que, apesar de serem os principais exportados para os Estados Unidos nos últimos cinco anos, agora poderiam ter suas vendas direcionadas ou ampliadas para o mercado árabe, que já compra expressivos volumes do agro nacional.
A informação foi destacada pelo jornal paranaense Gazeta do Povo. Entre os itens que podem ser escoados para nações árabes estão a carne bovina, o café verde, açúcar, além de semimanufaturados de ferro ou aço, madeira de coníferas, petróleo refinado e máquinas carregadoras, todos com tarifas árabes significativamente menores que as americanas.
As Emirados Árabes Unidos, Egito e Arábia Saudita são os principais importadores de produtos brasileiros. A Câmara Árabe sugere atenção especial ao Egito (devido ao acordo comercial vigente com o Mercosul), Argélia (país populoso com alta demanda), Iraque e Líbia (economias petrolíferas com liquidez). Para 2025, a expectativa é de estabilidade a leve crescimento nas vendas para a Liga Árabe.
Embora não haja estimativa exata de quanto será redirecionado dos Estados Unidos, parte desse volume pode ser absorvida ainda este ano, especialmente carne bovina e café. Enquanto isso, setores agropecuários seguem mapeando alternativas e calculando perdas, já que o redirecionamento das exportações, mesmo para países e blocos que são parceiros, não acontece de uma hora para outra.
Ironicamente, de acordo com dados divulgados pelo Ministério da Agricultura na última terça – feira 12 de agosto, o anúncio do presidente americano de que os produtos brasileiros seriam taxados não foi suficiente para frear o aumento das vendas ao país. De acordo com o ministério, a despeito da instabilidade provocada, os embarques para os Estados Unidos subiram 13,9% no período comparativo de julho de 2024 e julho de 2025. O Brasil negociou US$ 1,06 bilhão com os americanos neste último mês, que corresponde a 6,8% de participação no total das exportações brasileiras, o país permanece na terceira posição entre os mercados mais importantes.
No contexto geral, as exportações do agronegócio brasileiro atingiram o montante de US$ 15,6 bilhões em julho, o maior valor já registrado para o mês na série histórica. Segundo a Pasta, o faturamento com a venda de produtos do campo cresceu 1,5% em relação a julho de 2024, impulsionado tanto pelo aumento no volume embarcado quanto pela elevação de preços.
Com dados do Ministério das Relações Exteriores, ApexBrasil, Abiec, Câmara de Comércio Árabe – Brasileira e Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Agradecimento a Bruno Guzzo: Assessoria da Presidência da Abiec
Fonte: SNA