Determinadas espécies de plantas daninhas se destacam por reunirem características que aumentam sua persistência nos sistemas de cultivo, como elevada capacidade competitiva, rápido crescimento e desenvolvimento, alta produção de sementes e, em muitos casos, resistência ou tolerância a herbicidas. Esses fatores, em conjunto, tornam o manejo dessas espécies ainda mais desafiador.
A tolerância pode ser definida como a capacidade natural de uma espécie de planta daninha sobreviver e completar seu ciclo reprodutivo mesmo após a aplicação do herbicida em doses recomendadas, característica geralmente associada à variabilidade genética da espécie. Por outro lado, a resistência refere-se a uma capacidade adquirida por determinados biótipos dentro de uma população, que passam a sobreviver e reproduzir-se após a aplicação de uma dose de herbicida que, em condições normais, seria eficaz no controle da maioria dos indivíduos suscetíveis (Up. Herb, 2023).
De acordo com Heap (2025), os casos globais de resistência de plantas daninhas a herbicidas vêm crescendo substancialmente nos últimos anos (figura 1). Tal fato prejudica o controle eficiente de espécies infestantes em áreas agrícola, comprometendo a eficácia do manejo dessas planta daninhas e ocasionando perdas significativas de produtividade em lavouras comerciais.
Figura 1. Evolução dos casos globais de resistência das plantas daninhas a herbicidas.

A resistência das plantas daninhas a herbicidas impacta diretamente a rentabilidade das lavouras agrícolas. Estudos demonstram que, à medida que aumenta a complexidade no controle de plantas daninhas devido à resistência a herbicidas, os custos de manejo se elevam significativamente. Em lavouras com resistência ao glifosato, o aumento médio chega a 42% para buva, 48% para azevém e até 165% para capim-amargoso. Nos cenários mais críticos, os gastos praticamente triplicam, alcançando elevação de 125% para buva, 148% para azevém e 290% para capim-amargoso em comparação ao custo mínimo de controle (Adegas et al., 2017).
Nesse sentido, adotar estratégias de manejo que possibilitem a manutenção da eficiência dos herbicidas no controle das populações daninhas, é crucial para a sustentabilidade e rentabilidade dos sistemas de produção agrícolas. Dentre as principais estratégias com esse intuito, destacam-se a rotação de culturas, o controle de plantas voluntárias durante o período entressafra, o uso de herbicidas pré-emergentes com capacidade em reduzir os fluxos de emergência das plantas daninhas, a exemplo do ZethaMaxx®Evo; o adequado posicionamento de herbicidas quanto a época, dose e especificações de uso, o uso de sementes certificadas (livre de outras sementes), a limpeza e calibração de máquinas e equipamentos agrícolas e a rotação de mecanismos de ação de herbicidas entre outras estratégias (HRAC-BR, s. d.).
O manejo de culturas comerciais, como a soja, baseado exclusivamente no controle químico por meio de herbicidas representa um dos principais fatores de risco para a seleção de biótipos resistentes. Nesse contexto, a rotação de herbicidas, especialmente a alternância entre diferentes mecanismos de ação, preferencialmente com o uso combinado de dois ou mais deles, é uma estratégia essencial para reduzir a evolução da resistência e garantir maior sustentabilidade em sistemas de produção intensivos.
Tabela 1. Fatores de maior risco num sistema de cultivo e a classificação do risco de resistência como baixo, médio e alto.

Conforme destacado pelo Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, a pressão de seleção, pela ausência da rotação de mecanismo de ação de herbicidas é uma das principais causas responsáveis por desencadear novos casos de resistências. A pressão de seleção pelo uso frequente de herbicidas de mesmo mecanismo de ação acelera a seleção de biótipos resistentes. Esses biótipos então, com o gene de resistência, se multiplicam dando origem a populações resistentes.
Figura 2. Seleção e multiplicação de plantas resistentes a um herbicida.

Na ocorrência de falhas de controle pela aplicação de um herbicida ou herbicidas de mesmo mecanismo de ação, a rotação de herbicidas no programa de manejo, contemplando diferentes mecanismo de ação possibilita o controle das plantas daninhas remanescentes, reduzindo a probabilidade da evolução dos casos de resistência, pela eliminação dos indivíduos sobreviventes.
Em alguns casos, mesmo a rotação de princípios ativos de herbicidas de mesmo mecanismo de ação, pode desencadear casos de resistência das plantas daninhas a esse grupo de herbicidas. As plantas daninhas apresentem diferentes mecanismos de resistência, sendo a alteração no sítio de ação, um dos mais comuns.
Essa alteração ocorre quando mudanças na conformação da enzima ou proteína-alvo reduzem a afinidade do herbicida, impedindo sua ligação e, consequentemente, sua ação fitotóxica (figura 3). Esse mecanismo já foi identificado em espécies como Bidens pilosa, Euphorbia heterophylla e Brachiaria plantaginea no Brasil, com mutações específicas na enzima ALS e ACCase, além de casos em Eleusine indica resistentes tanto a inibidores de ACCase quanto ao glyphosate (Christoffoleti & Nicolai., 2016).
Frequentemente, ele resulta em elevados níveis de resistência, afetando herbicidas inibidores de ACCase, inibidores de ALS, inibidores de Fotossistema II e inibidores da formação de tubulina; e apresenta baixa interação com o ambiente (Christoffoleti & Nicolai., 2016). Nesse sentido, visando um manejo eficiente da resistência de plantas daninhas a herbicidas, não basta apenas rotacionar princípios ativos dentro de um mesmo mecanismo de ação; é fundamental realizar a rotação entre diferentes mecanismos de ação.
Figura 3. Representação esquemática da alteração no sítio de ação do herbicida.

Além da alteração no sítio de ação, mecanismos como ampliação gênica, mobilização ou desintoxicação, absorção foliar e/ou translocação diferencial e sequestro ou compartimentalização do herbicida também conferem resistência às plantas daninhas. Nesse contexto, variar o mecanismo de ação dos herbicidas por meio da rotação ou associação entre eles é crucial não apenas para reduzir os casos de resistência, mas também para garantir maior eficiência no controle das populações infestantes. Embora, em algumas situações, a rotação e/ou associação de mecanismos de ação represente um custo adicional ao programa fitossanitário da lavoura, essa prática é, sem dúvida, uma das estratégias mais sustentáveis para prevenir o avanço de populações resistentes em sistemas de produção intensivos.
Veja mais: Herbicidas e estresse inicial na soja: mitos e verdades sobre fitotoxicidade
Referências:
ADEGAS, F. S. et al. IMPACTO ECONÔMICO DA RESISTÊNICA DE PLANTAS DANINHAS A HERBICIDAS NO BRASIL. Embrapa, Circular Técnica, n. 132, 2017. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1074026/1/CT132OL.pdf >, acesso em: 26/08/2025.
CHRISTOFFOLETI, P. J.; NICOLAI, M. ASPECTOS DE RESISTÊNICA DE PLANTAS DANINHAS A HERBICIDAS. Associação Brasileira de Ação à Resistência de Plantas Daninhas aos Herbicidas, ESALQ, ed. 4, 2016. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1UQXUzwbobVl7R2GUHQ-PSWV7ykxypBvN/view >, acesso em: 25/08/2025.
HEAP, I. THE INTERNATIONAL HERBICIDE-RESISTANT WEED DATABASE, 2025. Disponível em: < https://weedscience.org/Pages/ChronologicalIncrease.aspx >, acesso em: 25/08/2025.
HRAC-BR. AVALIAÇÃO DE RISCO DE DESENVOLVIMENTO DA RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2023. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/avalia%C3%A7%C3%A3o-de-risco-de-desenvolvimento-da-resist%C3%AAncia-de-plantas-daninhas >, acesso em: 25/08/2025.
HRAC-BR. RECOMENDAÇÕES: MANEJO DA RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas – Brasil, s. d. Disponível em: < https://drive.google.com/file/d/1na_HHA3jXWZ0NQagDtplRC0avTSZtLMN/view >, acesso em: 25/08/2025.
SANTOS, M. S. CONHEÇA OS MECANISMOS DE RESISTÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS AOS HERBICIDAS. Mais Soja, 2020. Disponível em: < https://maissoja.com.br/conheca-os-mecanismos-de-resistencia-das-plantas-daninhas-aos-herbicidas/ >, acesso em: 25/08/2025.
SILVA, A. A. A.; TRENTIN, F. RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS: CUIDADOS E ESTRATÉGIAS. Mais Soja, 2020. Disponível em: < https://maissoja.com.br/resistencia-de-plantas-daninhas-cuidados-e-estrategias/ >, acesso em: 25/08/2025.
UP. HERB. RESISTÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS AOS HERBICIDAS: TOLERÂNCIA E RESISTÊNCIA. Up. Herb: Academia das Plantas Daninhas, 2023. Disponível em: < https://www.upherb.com.br/int/resistencia-de-plantas-daninhas-aos-herbicidas>, acesso em: 25/08/2025.