Distribuída em praticamente todo o território nacional, a mancha-alvo causada pelo fungo (Corynespora cassiicola) é uma das principais doenças fúngicas que acometem a soja. Além de infectar mais de 400 espécies vegetais, o fungo pode sobreviver em restos culturais e sementes infectadas. Essas características contribuem para a persistência da mancha-alvo em áreas agrícolas, dificultando o controle efetivo da doença (Grigolli & Grigolli, 2019; Godoy et al., 2024).

Os principais sintomas da doença consistem no surgimento de manchas nas folhas, com halo amarelado e pontuação escura no centro, que causam desfolha. Em casos mais severos, também pode ocorrer manchas na haste e na vagem. O fungo também pode infectar raízes, causando podridão radicular e intensa esporulação (Grigolli & Grigolli, 2019). Dependendo da suscetibilidade da cultivar e severidade da doença, as perdas de produtividade podem chegar a 40% casos as devidas medidas de controle não sejam adotadas (Godoy et al., 2023).

Figura 1. Sintomas típicos de mancha-alvo (Corynespora cassiicola) em soja.
Fonte: Embrapa

Dentre as principais estratégias de manejo da mancha-alvo em soja, destacam-se o uso de cultivares resistentes, o tratamento de sementes com fungicidas específicos, a rotação de culturas com espécies não hospedeiras e o controle químico com o emprego de fungicidas registrados para a cultura (Soares et al., 2023).

De acordo com Godoy et al. (2018), a incidência dessa doença tem aumentado nas últimas safras em razão do aumento da semeadura de cultivares suscetíveis e da menor sensibilidade/resistência do fungo a fungicidas metil benzimidazol carbamato (MBC) e inibidores da quinona externa (IQe). Nesse sentido, o manejo químico da mancha-alvo requer a associação de fungicidas multissítio aos sítio-específicos, considerando a resistência genética já documentada do patógeno a diferentes ingredientes ativos (Grigolli & Grigolli, 2019).

No geral, o controle de doenças causadas por fungos necrotróficos como o agente causal da mancha-alvo, apresenta limitações significativas quando baseado exclusivamente no uso de fungicidas, sendo eficaz apenas quando empregado de forma integrada a outras práticas de manejo preventivo (Forcelini, 2010). No caso da mancha-alvo, já foram identificadas populações com mutações nos genes sdh, destacando-se B-H278 e C-N75S, esta última relatada em altas frequências e com tendência de aumento em sua ocorrência. Outras mutações, como B-H278R, B-I280V e D-V152, também foram registradas, embora restritas a isolados específicos. Essas alterações genéticas estão associadas à resistência do patógeno ao grupo das carboxamidas (SDHI), conforme relatado pelo FRAC – BR, e tendem a reduzir a eficácia no controle químico da doença.

Resultados obtidos nos ensaios realizados em rede desde 2011/2012  demonstram uma redução eficiência de alguns produtos em razão da menor sensibilidade do fungo Corynespora cassiicola aos fungicidas. Para o fungicida carbendazim menor eficiência foi associada à presença das mutações E198A e F200Y na β tubulina do fungo. Godoy et al. (2023), destacam ainda que a resistência aos IQe vem sendo relatada desde 2014 nas principais regiões produtoras de soja no Brasil, em número significativo de amostras, em razão da presença da mutação G143A que confere resistência completa. Já para SDHI, a partir de 2018 foram observadas a presença das mutações C-N75S e B-H278Y em isolados de C. cassiicola com sensibilidade reduzida aos fungicidas, com aumento significativo da C-N75S e decréscimo da B-H278Y em 2022. Outras mutações foram detectadas em isolados incluindo sdh B-H278R, B-I280V e D-V152I (figura 2).

Figura 2. Média da porcentagem de controle da mancha-alvo com os fungicidas carbendazim, trifloxistrobina + protioconazol (tfz + ptz), piraclostrobina + epoxiconazol + fluxapiroxade (pir + epz + fluxa), piraclostrobina + fluxapiroxade (pir + fluxa), bixafen + protioconazol + trifloxistrobina (bixa + ptz + tfz), proticonazol + fluxapiroxade (ptz + fluxa), azoxistrobina + protioconazol + mancozebe (az + ptz + mcz) e proticonazol + mancozebe (ptz + mcz) nos experimentos (n) cooperativos nas safras 2011/2012 (n=8), 2012/2013 (n=8), 2013/2014 (n=13), 2014/2015 (n=15), 2015/2016 (n=8), 2016/2017 (n=15), 2017/2018 (n=16), 2018/2019 (n=19), 2019/2020 (n=15), 2020/2021 (n=20), 2021/2022 (n=16), 2022/2023 (n=17) em diferentes regiões produtoras de soja no Brasil.
Fonte: Godoy et al. (2023)

A redução da sensibilidade de Corynespora cassiicola a diferentes grupos de fungicidas evidencia a importância do monitoramento contínuo da população do patógeno em distintas regiões produtoras. Nesse contexto, a adoção de estratégias antirresistência torna-se essencial, incluindo a limitação do uso de fungicidas do grupo das SDHI (carboxamidas), a, no máximo, duas aplicações por ciclo da soja, a associação com fungicidas multissítio e a rotação de modos de ação. Essas medidas são fundamentais para retardar a seleção de populações resistentes e, consequentemente, prolongar a vida útil das moléculas disponíveis para o controle da doença (Godoy et al., 2023).

Entre os fungicidas de melhor desempenho em relação à produtividade, os ensaios em rede conduzidos na safra 2024/2025 evidenciaram uma diferença de até 15% entre o tratamento mais produtivo e o menos produtivo (com o uso de fungicidas). Esse resultado reforça a relevância do posicionamento adequado dos fungicidas no manejo da mancha-alvo, destacando sua contribuição decisiva para a manutenção do potencial produtivo da cultura (Godoy et al., 2025).

Nesse cenário, o correto posicionamento dos fungicidas, aliado ao uso de multissítios em associação com produtos de sítio-específico e a rotação de mecanismos de ação, constitui uma das principais estratégias de manejo da mancha-alvo. Para ampliar a eficiência do controle, essas práticas devem ser integradas a medidas complementares, como a adoção de cultivares resistentes, o tratamento de sementes com fungicidas e a rotação de culturas com espécies não hospedeiras. A integração dessas abordagens é essencial para reduzir o impacto econômico da doença sobre a soja, manter a rentabilidade da lavoura, retardar a evolução da resistência do patógeno e garantir a sustentabilidade do sistema produtivo.

Referências:

FORCELINI, C. A. DOENÇAS EM SOJA: ENTENDENDO AS DIFERENÇAS ENTRE BIOTRÓFICOS E NECROTRÓFICOS. Revista Plantio Direto, Doenças, 2010. Disponível em: < https://pt.scribd.com/document/711702511/3-230207-193658 >, acesso em: 27/08/2025.

FRAC – BR. NOVAS RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO DE DOENÇAS EM SOJA, Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas. Holambra – SP. Disponível em: < https://www.frac-br.org/_files/ugd/6c1e70_5494e2a5f1204eafa26ec81bce3aec6f.pdf >, acesso em: 27/08/2025.

GODOY, C. V. et al. EFICÁCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA-ALVO, Corynespora cassiicola, NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2024/2025: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa Soja, Circular Técnica, n. 213, 2025. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1176454/1/Circ-Tec-213.pdf >, acesso em: 27/08/2025.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA ALVO, Corynespora cassiicola, NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2023/2024: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa Soja, Circular Técnica, n. 203, 2024. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1164951/1/Circ-Tec-203-revista.pdf >, acesso em: 27/08/2025.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA-ALVO, Corynespora cassiicola, NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa Soja, Circular Técnica, n. 194, 2023. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1154756/1/Circ-Tec-194.pdf >, acesso em: 27/08/2025.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA-ALVO, Corynespora cassiicola, NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2017/18: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Circular Técnica, n. 139, 2018. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/infoteca/bitstream/doc/1094412/1/CT139ManchaAlvoOL.pdf >, acesso em: 27/08/2025.

GRIGOLLI, J. F. J.; GRIGOLLI, M. M. K. MANJEO DE DOENÇAS NA CULTURA DA SOJA. Fundação MS, Tecnologia e Produção: Soja 2018/2019, 2019. Disponível em: < https://www.fundacaoms.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Tecnologia-e-Producao-Soja-Safra-20182019.pdf >, acesso em: 27/08/2025.

SOARES, R. M. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa Soja, Documentos, n. 256, ed. 6, 2023. Disponível em: < https://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/handle/doc/1158639 >, acesso em: 27/08/2025.

Foto de capa: Maurício Stefanelo – Ceres Consultoria

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