A 10ª edição da Safras Agri Week, promovida pela Safras & Mercado, trouxe nesta quarta-feira (1o) o painel “Mercado de Grãos e Fertilizantes”, para debater commodities de arroz, feijão, trigo e fertilizantes. O analista Evandro Oliveira abordou de forma detalhada a situação atual dos mercados de arroz e feijão, apontando os principais fatores de pressão e as perspectivas para a próxima temporada.
Arroz vive cenário de crise
Para o analista, o arroz enfrenta um cenário de crise que atinge toda a cadeia produtiva, do varejo ao produtor. “O consumo interno não tem reagido como se esperava, mesmo diante de preços atrativos. Voltamos a ver promoções de pacotes de 5 quilos abaixo de R$ 12, o que está totalmente fora de conexão com os custos da matéria-prima”, afirmou.
A dificuldade de repasse de custos tem gerado um impasse entre varejo, indústria e produtor. Oliveira lembrou que a situação se agravou com a produção recorde da temporada, estimada em 12,3 milhões de toneladas, somada a quase 1 milhão de toneladas de estoque inicial. Além disso, o avanço das importações, principalmente do Paraguai, que destina cerca de 80% da sua produção ao Brasil, aumentou a pressão sobre a oferta interna.
Outro fator de impacto foi a entrada da safra norte-americana, que reduziu a janela de exportação do Brasil e resultou em déficit da balança comercial do setor. “Como consequência, os preços voltaram a cair”, acrescentou.
Hoje, conforme indicou Oliveira, as cotações na Fronteira Oeste variam entre R$ 54 por saca para produto de menor rendimento e R$ 63 para o arroz nobre, valores abaixo dos custos de produção e até mesmo do preço mínimo oficial. Para o analista, medidas de escoamento, como o uso ampliado de ferrovias e a retirada de taxas sobre o ICMS, são fundamentais. “O mercado do arroz vive maior movimentação nos bastidores do que em termos de comercialização. Só assim poderemos ter chance de preços remuneradores em 2026”, observou.
Valorização do feijão carioca puxa grão preto
No mercado do feijão, o cenário é distinto. O feijão carioca de qualidade superior, fruto da terceira safra irrigada, alcança valores próximos de R$ 300 por saca. A valorização, no entanto, ocorre em meio a um mercado lento e restrito à oferta. “O produtor retém a mercadoria, mas o feijão tem dificuldade de armazenagem, o que pode comprometer a qualidade”, explicou Oliveira. O Paraná é atualmente o principal fornecedor de produtos de qualidade intermediária, em meio a um quadro geral de escassez.
A alta do carioca acabou puxando o feijão preto, que vinha de um cenário crítico. Em várias regiões, o preço chegou a R$ 110 por saca, bem abaixo do custo de produção, estimado em R$ 200. Mesmo com intervenções governamentais via PEP (Prêmio para Escoamento de Produto) e PEPRO (Prêmio Equalizador Pago ao Produtor Rural), limitadas a oito toneladas por CPF, o impacto foi considerado insuficiente. “O feijão preto ficou dependente das exportações e do consumo interno. Recentemente iniciou uma recuperação, muito mais psicológica do que real em termos de demanda”, observou o analista.
Em relação à primeira safra, a expectativa é de cortes. Oliveira projeta redução de mais de 7% na área e de quase 13% na produção, com destaque para o Paraná, onde a área de feijão preto pode cair mais de 40%, reduzindo em quase 50% a produção. “Os preços deprimidos levaram muitos produtores a migrar para o carioca ou para o feijão mungo, especialmente no Nordeste, onde os contratos de exportação dão maior segurança”, afirmou. Segundo o analista, a tendência é de uma safra mais equilibrada em termos de diversificação, mas ainda marcada pela fragilidade da demanda.
O Safras Agri Week se estende até amanhã (2) e é transmitido ao vivo pelo YouTube da Safras & Mercado, reunindo especialistas e convidados do agronegócio em um bate-papo para atualização, troca de insights e preparação para os desafios do próximo ano.
Fonte: Luciana Abdur – Safras News