Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira.

As cotações do milho em Chicago se mantiveram estáveis e em níveis baixos durante esta semana. O fechamento desta quinta-feira (09) ficou em US$ 3,31/bushel, contra US$ 3,33 uma semana antes.

O relatório do USDA, divulgado neste dia 09/04, não trouxe grandes novidades ao cenário já estabelecido para 2019/20. Os principais números foram os seguintes:

  • A produção dos EUA, na safra passada, foi mantida em 347,8 milhões de toneladas, enquanto os estoques finais, para 2019/20, subiram para 53,2 milhões;
  • A produção mundial de milho ficou em 1,113 bilhão de toneladas, enquanto os estoques finais para 2019/20 somaram 303,2 milhões de toneladas;
  • A produção brasileira e argentina de milho permanecem em 101 e 52 milhões de toneladas respectivamente;
  • O preço médio ao produtor estadunidense, em 2019/20, está agora estimado em US$ 3,60/bushel.

Vale destacar que o mercado esperava estoques finais de milho nos EUA, na altura de 50,5 milhões de toneladas (o relatório apontou um volume 2,7 milhões de toneladas acima do esperado). Isso em função da redução no consumo de etanol, a qual leva a um menor consumo interno de milho.

Dito isso, a redução nos preços do petróleo em momentos da semana (aliás, este mercado vive forte volatilidade nos últimos tempos), baixa nos preços do trigo e recuo dos preços na Argentina devido a colheita, ajudaram a manter em baixa as cotações do milho em Chicago.

Na área dos combustíveis, o mercado chegou a se animar um pouco durante a semana com a perspectiva de um possível acordo entre Arábia Saudita e a Rússia, pelo qual o país árabe reduziria sua produção de petróleo. Mas isso, por enquanto, não se confirmou. Além disso, o problema maior está nos efeitos da pandemia do coronavírus nos EUA, hoje o epicentro da doença, fato que leva à forte redução no consumo interno de etanol de milho. A produção estadunidense deste combustível, na última semana, ficou em 640 mil galões, contra um milhão no mesmo período de 2019. Essa retração recorde se deve a paralisia da economia dos EUA devido ao coronavírus. Espera-se um aumento substancial neste consumo quando o quadro sanitário melhorar, lá por volta de meados do ano.



Por sua vez, as exportações de milho estadunidense, em 1,08 milhão de toneladas na semana anterior, não chegaram a animar o mercado diante da possibilidade de estoques elevados em função da futura safra recorde, caso o clima auxilie. O dólar elevado não ajuda a melhorar as exportações do cereal.

Por outro lado, nos EUA o clima passa a ser um elemento central a partir de agora devido ao fato de que o plantio se aproxima. Neste momento, o mesmo está normal, com chuvas dentro da média na projeção para os próximos 15 dias, embora a temperatura esteja abaixo do normal.

Enfim, os desastrosos efeitos econômicos provocados pela pandemia da Covid-19, começam a serem contabilizados. Além do forte recuo no PIB da China, os EUA apontam uma estimativa de um PIB negativo de 38% neste segundo trimestre. A França anunciou um PIB negativo de 6% no primeiro trimestre do ano, com 32% negativos apenas na quinzena de confinamento de março. É a pior performance geral desde a Segunda Grande Guerra Mundial há 75 anos.

Na Argentina, a tonelada FOB fechou a semana valendo US$ 169,00, enquanto no Paraguai a mesma ficou em US$ 132,50.

No Brasil, o sentimento é que os preços do milho chegaram ao seu limite de alta e, agora, pressionados pela paralisação parcial da economia, devido ao coronavírus, e pelo avanço da safrinha, os mesmos começam a sofrer pressão de baixa. Esta baixa deve mesmo se cristalizar com um pouco mais de intensidade a partir de meados de junho caso a safrinha se mostrar normal. Nesse ponto, o clima será um elemento fundamental.

Dito isso, a média gaúcha no balcão ficou estável, fechando a semana em R$ 45,21/saco, enquanto os lotes registraram valores entre R$ 50,00 e R$ 51,00/saco. Nas demais praças nacionais os lotes oscilaram entre R$ 39,00 em Sinop (MT) e R$ 55,00/saco na Mogiana paulista, passando por R$ 52,00 em Itanhandu (MG) e R$ 50,00 em Concórdia (SC).

A falta de liquidez na economia brasileira, diante da pandemia, freia o mercado do milho. Em alguns locais já começa a haver pressão de venda do produto estocado. Por enquanto, o mercado físico não indicou como chegará a R$ 48,00/saco no CIF Campinas em 15/05, como aponta o contrato na BM&F. Aliás, neste preço, em se mantendo os atuais níveis cambiais, o mercado buscará exportar o produto e não abastecer o mercado interno. (cf. Safras & Mercado)

De fato, este embate entre o mercado físico e as cotações na BM&F já dura algum tempo, sendo que a dúvida, neste momento, é se o físico terá força para recuar abaixo dos R$ 50,00 CIF Campinas nos próximos 30 dias para posição maio, ou se o contrato na Bolsa é que terá que subir para se adaptar a realidade do mercado físico. Neste momento, pela perda de liquidez devido a crise do coronavírus, a tendência é do físico ceder. Ajuda nesta linha o fato de alguns produtores, diante das dificuldades inerentes à crise de liquidez, estarem aceitando vender seus estoques de milho a preços bem mais baixos. (cf. Safras & Mercado)

Neste momento o físico trabalha com valores entre R$ 55,00 e R$ 57,00/saco no CIF Campinas, ou seja, bem abaixo do recorde de dias atrás, quando o mesmo chegou a bater em R$ 63,00.

Quanto à safrinha propriamente dita, Goiás já trabalha com preços entre R$ 36,00 e R$ 37,00 na venda, com compradores oferecendo, para setembro, R$ 35,00 a R$ 36,00/saco. No Mato Grosso, tradings estariam oferecendo preços abaixo de R$ 30,00, enquanto as ofertas se estabelecem em R$ 32,00/saco. Nestes dois Estados há preocupações regionais em relação ao clima, faltando chuvas mais expressivas. Enfim, no Paraná a safrinha, sobre vagão, esta cotada entre R$ 42,00 e R$ 43,00/saco no norte daquele Estado, para setembro. No porto de Paranaguá compradores oferecendo, no máximo, R$ 46,00/saco para agosto/setembro.

Por sua vez, a colheita da safra de verão atingia a 68% da área total no Centro-Sul do país, até o dia 03/04, contra 65% na média histórica. O Rio Grande do Sul chegava a 89%, contra 85% na média. Já Santa Catarina batia em 88%, contra 66%; e o Paraná 83%, contra 70% na média. A salientar o atraso em Minas Gerais, com 28%, contra 39% na média; e em Goiás/DF com 28%, contra 60% na média histórica.

Em relação à safrinha, o plantio no Centro-Sul brasileiro, na mesma data, atingia a 99,2% da área total, estando praticamente concluído, embora com atraso. Já na Bahia o mesmo havia avançado para 42% da área, no Maranhão a 39%; no Piauí a 42% e no Tocantins a 63% da área esperada.

Enfim, a safrinha de 2020, até o início de abril, estava 31% vendida antecipadamente no Centro-Sul brasileiro, contra 26% em igual momento do ano passado. Espera-se uma produção total de 73,8 milhões de toneladas na região, o que representa um recuo de 0,81% sobre o registrado no ano anterior. (cf. Safras & Mercado)


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CEEMA

Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).

1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2-  Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.

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