A adubação verde é uma prática agrícola muito antiga que incorpora plantas de cobertura de solo na rotação de culturas. Com a introdução do plantio direto, essa prática da utilização de plantas de cobertura se tornou uma premissa para esse novo sistema de produção, através de práticas de conservação e melhoria do solo fomentando cada vez mais o conceito de plantas recicladoras.
O termo “plantas de cobertura” consiste no cultivo de espécies vegetais capazes de melhorar as condições físicas, químicas, biológicas e a capacidade produtiva dos solos. Essa melhoria do solo se dá através do aporte de resíduo orgânico, deixando-as sobre o solo como cobertura morta após seu manejo, ou mesmo através de sua incorporação ao solo. Pode ser utilizada como parte de um sistema de rotação de culturas ou em consórcio com espécies econômicas.
Essa prática tem grande importância para o sistema de produção, pois aumenta a capacidade de armazenamento e retenção de água no solo, bem como, protege o solo do impacto direto das gotas de chuva e de sua consequente desagregação, mantendo a estrutura e através das raízes melhorando a aeração.
A cobertura também diminui a variação da temperatura da superfície do solo, introduz matéria orgânica para o aumento da atividade biológica, além de produzir massa verde (fitomassa), que aumenta ao longo dos anos o teor de matéria orgânica do solo, principalmente quando se utiliza plantas com a alta relação C/N. Também, muitas espécies decobertura do solo possuem a capacidade de ciclar nutrientes e fornecer nitrogênio, que é ocaso das leguminosas que realizam a fixação biológica de N do ar atmosférico.
No período da entressafra, as plantas de cobertura tem papel fundamental, pois além dos benefícios já citados ela auxilia como ferramenta no manejo de plantas daninhas, pelo seu efeito supressor ou emissão de substâncias tóxicas (aleloquímicos) que impedem sua emergência. Além disso, muitas plantas de cobertura, ajudam a controlar e/ou baixar a população de alguns parasitas do solo, como nematoides, por não serem hospedeiras do mesmo ou por favorecerem a proliferação de organismos inimigos aos nematoides (com o aumento da matéria orgânica em fase de decomposição). Algumas das principais espécies utilizadas e que possuem efeito comprovado como adubo verde são, aveia, azevém, milheto, ervilhaca, nabo, tremoço e outros.
A aveia (Avena sp.) é uma gramínea que se caracteriza por apresentar boa reação a doenças e capacidade de rebrota, além de diminuir a população de nematóides (gênero Meloidogyne), tem efeito supressor e/ou libera substâncias tóxicas a diversas invasoras. Sua palhada permanece por mais tempo no solo, devido a alta relação C/N, proporcionando maior período de cobertura do solo.
O azevém (Lollium multiflorum) é uma gramínea mais rústica, com raízes bem desenvolvidas promovendo uma boa agregação do solo e diminuindo os riscos de erosão. É uma planta de clima frio, utilizada como adubo verde de inverno, com longa duração da palhada no solo.
Outra gramínea utilizada é o milheto (Pennisetum glaucum), que apresenta grande rusticidade, tolerância à seca e à acidez do solo. Possui também capacidade de rebrota, produzindo grande quantidade de massa verde e permitindo uma boa cobertura do solo. Pode ser usada também como forrageira para os animais.
Pertencente à família das leguminosas, a ervilhaca (Vicia sativa), proporciona boa cobertura e eficiente proteção para o solo, e por ter uma menor relação C/N a ciclagem de nutrientes acontece de maneira mais rápida, realizando a decomposição e liberando nitrogênio no solo. O tremoço branco (Lupinus albus), apresenta elevada capacidade de fixar nitrogênio e de reciclar outros nutrientes.
O nabo forrageiro (Raphanus sativus) é uma crucífera considerada rústica, de rápido crescimento, contribuindo para a diminuição de plantas invasoras. Atua reciclando o nitrogênio que foi perdido na cultura anterior e possui sistema radicular robusto, com grandes tubérculos que depois de decompostos, deixam espaços livres para armazenamento de água e ar.
Essas espécies podem ser introduzidas na lavoura de acordo com o planejamento da safra futura, visando um ambiente que propicie melhor benefício ao cultivo comercial. Vale lembrar que o produtor não precisa deixar de produzir nesse período, pois é possível fazer o plantio consorciado, com semeadura na entrelinha do cultivo principal.
Autores: Denise Maria Vicente e Katiane Sartori, acadêmicas do curso de Agronomia da UFSM, campus Frederico Westphalen, membros do Programa de Educação Tutorial – PET Ciências Agrárias, sob acompanhamento do tutor, professor Dr. Claudir José Basso.