Diante da necessidade de o mundo buscar alternativas para frear o aquecimento global e minimizar os efeitos da mudança do clima, a agricultura é parte importante da solução. Esse foi o consenso entre os participantes do painel “COP 30 e a cultura da soja: problema ou solução?” realizado durante o segundo dia do 10º Congresso Brasileiro de Soja e Mercosoja. O evento está ocorrendo em Campinas (SP) e reúne cerca de 2.000 participantes de todos os segmentos da cadeia produtiva da soja.
O painel moderado pela chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, Carina Rufino, contou com participação de Rodrigo Justos de Brito, da Confederação Nacional de Agricultura, Mariana Ignácio, da Bunge, e Eduardo Bastos, diretor da Abag e presidente do Comitê de Inovação do Carbono (USP).
Justos abriu o painel mostrando as narrativas utilizadas contra o setor agropecuário brasileiro e mostrando, com dados científicos, como são equivocadas. Ele destacou a eficiência do setor, o aumento de produtividade conquistado com base no uso de tecnologias e a rígida legislação ambiental brasileira que garante que a produção ocorra aliada à preservação.
De acordo com ele o setor agropecuário brasileiro precisa aproveitar a COP realizada na Brasil para mostrar ao mundo como de fato é a produção nacional. Para isso ele mencionou a estrutura da AgriZone, que a Embrapa montará durante o evento em Belém (PA), na sede da Embrapa Amazônia Oriental. A CNA é parceira nesta iniciativa que será uma vitrine dos diferentes sistemas produtivos e extrativistas utilizados no Brasil.
Eduardo Bastos mostrou que o setor agropecuário responde por 18% das emissões de gases de efeito estufa no mundo, valor muito menor que do os mais de 70% das emissões do setor de energia, por exemplo. Entretanto, no Brasil, devido à matriz energética ser majoritariamente de fontes renováveis, a agricultura passa a ter maior relevância.
“No mundo só se fala em emissões, pois a maior parte do impacto é no setor de energia. Ninguém fala em balanço de carbono, mas na agropecuária temos a possibilidade de capturar carbono. Então temos que falar de balanço de emissões”, afirmou Bastos.
O assunto, no entanto, esbarra em um desafio para o Brasil que é a tropicalização dos fatores de emissão. Isso quer dizer que é preciso obter cada vez mais dados nacionais, mensurados em condições de solos tropicais, e que sejam reconhecidos internacionalmente. Para isso é preciso que cientistas brasileiros publiquem seus trabalhos em publicações internacionais de grande impacto.
Ao mesmo tempo em que esta demanda se faz necessária para maior reconhecimento e percepção da sustentabilidade da agropecuária brasileira, mercados internacionais já demandam por matéria prima produzidos em sistemas de baixa emissão de carbono. Mariana Ignácio, da Bunge, maior trade de grãos em atuação no Brasil, apresentou um programa de agricultura regenerativa conduzido pela empresa que visa estimular e orientar agricultores a produzirem de forma sustentável.
“O programa conecta o produtor com práticas sustentáveis aos mercados com demandas por produtos com baixa emissão de gases de efeito estufa, possibilitando a criação de incentivos e prêmios”, explica Ignácio.
Eduardo Bastos destacou que no que diz respeito à agropecuária, o principal ponto da agenda climática é o cuidados com o solo. Ele mostrou dados do CCarbon USP que indicam o incremento de cerca de 0,5 toneladas de carbono por hectare em solos subtropicais brasileiros e de 0,35 toneladas no Cerrado. Em um mercado de carbono consolidado esses índices rendem até cerca de US$ 12,50 por hectare, o que não se configura como uma renda equivalente a uma terceira safra, como se pensou no passado. Porém, os benefícios das boas práticas adotadas se estendem à produtividade, podendo render o equivalente a uma safra a cada cinco anos em ganho de produção.
“A agricultura bem-feita é solução para a questão climática. Agricultura malfeita é problema”, resume Edu Bastos. “O agro é parte da solução e a crise climática é uma oportunidade para o Brasil”, complementou Rodrigo Justos.
Congresso Brasileiro de Soja
O 10º CB Soja e Mercosoja está sendo realizado em Campinas (SP) e vai até quinta-feira, dia 24. O evento é promovido pela Embrapa Soja e reúne atores do complexo da soja no Brasil, Argentina e também visitantes internacionais, como a China.
A programação conta com cinco conferências e 15 painéis, somando mais de 50 palestras, e com a apresentação de 321 trabalhos técnico-científicos em forma de pôsteres, em nove sessões temáticas.