A alelopatia pode ser compreendida como o conjunto de efeitos biológicos negativos das plantas de uma espécie vegetal sobre o desenvolvimento e o crescimento de plantas de outra espécie, por meio da liberação de substâncias químicas orgânicas no ambiente comum (Pereira & Melo, 2008). Através da liberação de compostos alelopáticos, tais como substâncias tóxicas ou inibidoras do crescimento vegetal, pela exsudação pelas raízes e/ou lixiviação da matéria orgânica produzida, algumas espécies exercem influência sobre o desenvolvimento de outras.

Essa influência negativa oriunda da alelopatia de determinadas espécies que sucedem a soja, pode interferir nos processos de germinação e emergência, prejudicando o desenvolvimento inicial da cultura e estabelecimento da lavoura. Considerando que o número de plantas por área é um dos principais componentes de produtividade da soja (Tagliapietra et al., 2022), considerar o efeito alelopático ao definir as culturas do sistema de produção e as estratégias de manejo é fundamental para reduzir os danos oriundos da alelopatia no estabelecimento da cultura da soja.

Dentre as espécies de interesse econômico mais conhecidas por seus efeitos alelopáticos, podemos destacar o azevém (Lolium multiflorum), espécie forrageira, inserida no sistema integração lavoura-pecuária, especialmente no Sul do Brasil, onde as condições edafoclimáticas favorecem o cultivo dessa espécie. Além de reduzir a germinação das sementes de soja, afetando diretamente o estande de plantas da lavoura, dependendo da alelopatia, danos às plântulas podem ser observados, resultando em plântulas anormais.



Contudo, além do azevém, outras espécies comuns do sistema de produção de grãos também podem apresentar alelopatia, afetando o desenvolvimento de culturas sucessoras. Analisando os efeitos alelopáticos de extratos aquosos da parte aérea de sorgo granífero (Sorghum bicolor),  canola  (Brassica  napus),  azevém  (Lolium  multiflorum) e  nabo  forrageiro  (Raphanus sativus) na germinação de sementes e crescimento de plântulas de soja e milho, Redin & Siedel (2025) observaram efeitos significativos de alelopatia dessas culturas sobre o desenvolvimento da soja submetida a extratos aquosos dessas espécies vegetais.

Na metodologia do estudo, os autores destacam que as sementes de soja e milho foram dispostas em bandejas de alumínio de 300 cm², contendo  papel  toalha  absorvente  embebidas  em  15  mL  do  extrato.  Para  cada  espécie  foi  utilizada  uma testemunha, consistindo somente de água destilada. Além da germinação das sementes, Redin & Siedel (2025) avaliaram a porcentagem de plântulas normais, anormais, massas frescas e seca, comprimento da parte aérea e raízes, e condutividade elétrica.

Com base nos resultados obtidos pelos autores, uma das variáveis mais afetadas pela alelopatia das espécies analisadas foi a germinação das sementes. Embora para todos os extratos alelopáticos se tenha observado diferença estatística quanto a germinação em comparação a testemunha, para a cultura da soja, a presença da solução com extrato aquoso de nabo forrageiro resultou na redução de 27,3% da germinação em relação à testemunha (tabela 1).

Tabela 1. Percentual médio de germinação e plântulas anormais de soja e milho e seus respectivos erros  padrões (±) em função da aplicação de extratos aquosos de sorgo, canola, azevém e nabo forrageiro.
*Letras minúsculas comparando os tratamentos em cada coluna e culturas. Letras iguais não diferem estatisticamente (Tukey, p<0,05).
Fonte: Redin & Siedel (2025)

De acordo com Redin & Siedel (2025) os  extratos  aquosos  alelopáticos  de  sorgo,  canola,  azevém  e  nabo  forrageiro  interferem  na  germinação das sementes, comprimento de plântulas, massas frescas e seca de soja e milho. No entanto, são dependentes da espécie e do tipo de resíduo vegetal utilizado como extrato. Na cultura da soja, o extrato de nabo forrageiro apresenta os efeitos mais acentuados, impactando negativamente a germinação de sementes, o comprimento da raiz e da parte aérea e, a massa total das plântulas.

Ainda que haja a necessidade de maiores estudos a fim de verificar os efeitos da alelopatia das culturas do sorgo, canola, azevém e nabo forrageiro em condições de campo, o estudo conduzido por Redin & Siedel (2025) demonstra que em determinadas condições, essas culturas podem interferir no estabelecimento da soja, devendo-se portanto, atentar para práticas de manejo que minimizem esse risco, como o manejo antecipado das culturas que antecedem a soja e o adequado posicionamento de espécies na rotação de culturas.

Confira o estudo completo desenvolvido por Redin & Siedel (2025) clicando aqui!

Referências:

PEREIRA, W.; MELO, W. F. MANEJO DE PLANTAS ESPONTÂNEAS NO SISTEMA DE PRODUÇÃO ORGÂNICA DE HORTALIÇAS. Embrapa, Circular Técnica, n. 62, 2008. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/CNPH-2009/34841/1/ct_62.pdf >, acesso em: 09/10/2025.

REDIN, M.; SEIDEL, M. A. EFEITO ALELOPÁTICO DE RESÍDUOS CULTURAIS NA GERMINAÇÃO DE SEMENTES E CRESCIMENTO DE PLÂNTULAS DE MILHO E SOJA. Disciplinarum Scientia, 2025. Disponível em: < https://periodicos.ufn.edu.br/index.php/disciplinarumNT/article/view/5264/3607 >, acesso em: 09/10/2025.

TAGLIAPIETRA, E. L. et al. ECOFISIOLOGIA DA SOJA: VISANDO ALTAS PRODUTIVIDADES. Santa Maria, ed. 2, 2022.

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