A ferrugem-asiática da soja, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi é considerada uma das doenças mais severas que incide sobre a cultura da soja. Sua capacidade de causar danos é tão significativa que pode resultar em perdas de até 90% na produção de soja. As plantas de soja podem ser afetadas pela ferrugem-asiática ao longo de todo o seu ciclo de desenvolvimento (Godoy et al., 2023).
Os sintomas iniciais da ferrugem manifestam-se através de pequenos pontos escuros, com no máximo 1 mm de diâmetro, que aparecem no tecido sadio das folhas. Esses pontos possuem uma coloração que varia de esverdeada a cinza-esverdeada, acompanhadas por protuberância, conhecidas como urédias, que se formam na face inferior das folhas. Com o tempo, as urédias adquirem coloração castanho-clara a castanho-escura e se abrem através de minúsculos poros, liberando os esporos hialinos que se acumulam ao redor desses poros e são posteriormente dispersos pelo vento (Henning et al., 2014).
Figura 1. Ferrugem-asiática da soja.
As condições favoráveis para o desenvolvimento da doença, de acordo com Henning et al. (2014), incluem temperaturas entre 18 e 26,5° C e a presença de água livre na superfície das folhas, com o mínimo de seis horas, sendo que a infecção atinge seu máximo com 10 a 12 horas de molhamento foliar. Tendo em vista as variações climáticas previstas para a safra 2023/24, com a influência do fenômeno El Niño no clima, que tende a intensificar a ocorrência de chuvas na Região Sul do País, essas condições podem potencializar a ocorrência da ferrugem-asiática da soja durante essa safra.
O agente causal da ferrugem asiática é um parasita obrigatório e sobrevive no período de entressafra principalmente em plantas voluntárias de soja. Essas plantas, também conhecidas como plantas guaxas, consistem na principal fonte de inóculo primário da doença (Gallotti & Casa, 2012). De acordo com o Consórcio Antiferrugem (2023), na região Sul do país já foram identificados alguns casos de ferrugem-asiática em soja voluntária, no Rio Grande do Sul, foram registrados nos municípios de Cruz Alta, Erechim, Guaíba, Mato Castelhano, Não-me-Toque, Santa Bárbara do Sul, Santiago, São Sepé, Serafina Corrêa e Tupanciretã.
Figura 2. Casos de ferrugem asiática da soja.

Considerando que a ocorrência de precipitações desempenha um papel fundamental na deposição dos esporos, bem como na criação do período de molhamento foliar necessário para o estabelecimento da doença, é preciso atenção constante durante essa safra que inicia, dadas as condições climáticas que podem propiciar um ambiente favorável para o estabelecimento da doença nas lavouras. É de extrema importância redobrar a atenção nas lavouras próximas às regiões onde já foram identificados casos de ferrugem em soja voluntária, uma vez que essa presença indica a possibilidade de disseminação de esporos.
O monitoramento constante da cultura da soja ao longo de todo o seu ciclo é essencial, e para mitigar o risco de danos causados pela ferrugem, recomenda-se utilizar cultivares de ciclo precoce e realizar o plantio no início da época recomendada (Martin et al., 2022).
Para minimizar o risco de danos à cultura da soja, de acordo com Seixas et al. (2020), é importante implementar uma série de estratégias de manejo na cultura de forma integrada. Dentre elas, a prática do vazio sanitário, que envolve a eliminação de plantas voluntárias de soja e a ausência de cultivo de soja na entrada por um período mínimo de 60 dias, sendo fundamental para reduzir a presença do patógeno no ambiente de cultivo. O uso de fungicidas deve ser feito de forma criteriosa, com base em critérios técnicos, levando em consideração a ocorrência de ferrugem na região de cultivo, as condições climáticas favoráveis à doença, as condições de aplicação e a incidência de outras doenças.
Além disso, de acordo com as novas recomendações para o manejo de doenças na cultura da soja, conforme o Comitê de Ação à Resistência de Fungicidas – FRAC (2023), é fundamental adotar medidas de controle que incluam o uso de estratégias químicas eficientes para o manejo das fontes de inóculo, com o objetivo de reduzir a progressão das doenças e evitar o risco de casos de resistência a fungicidas. Nesse sentido, recomenda-se combinar o uso de produtos multissítios com produtos sítio-específicos, como Estrobilurinas, Triazóis e Carboxamidas, bem como o uso de produtos biológicos em programas de aplicação como uma estratégia para elevar o nível de controle das doenças na cultura da soja.
Veja mais: Ferrugem-asiática da soja
Referências:
CONSÓRCIO ANTIFERRUGEM. Consórcio Antiferrugem Parceria público-privada no combate à ferrugem asiática da soja, 2023. Disponível em: < http://www.consorcioantiferrugem.net/#/main >, acesso em: 09/10/2023.
FRAC. NOVAS RECOMENDAÇÕES PARA O MANEJO DE DOENÇAS EM SOJA. Comitê de Ação a Resistência a Fungicidas, Holambra – SP, 2023. Disponível em: < https://www.frac-br.org/_files/ugd/6c1e70_5494e2a5f1204eafa26ec81bce3aec6f.pdf >, acesso em: 09/10/2023.
GALLOTTI, G. J. M.; CASA, R. T. SOBREVIVÊNCIA DE Phakopsora pachyrhizi EM PLANTAS VOLUNTÁRIAS DE SOJA NAS REGIÕES DO PLANALTO NORTE E PLANALTO SERRANO DE SC. Revista Agropecuária Catarinense, v. 25, n. 2, 2012. Disponível em: < https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/rac/article/download/653/555/4425 >, acesso em: 09/10/2023.
GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEM-ASIÁTICA DA SOJA, Phakopsora pachyrhizi, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Embrapa, Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154837/1/Circ-Tec-195.pdf >, acesso em: 09/10/2023.
HENNING, A. A. et al. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS DE SOJA. Embrapa, Documentos 256. Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 09/10/2023.
MARTIN, T. N. et al. INDICAÇÕES TÉCNICAS PARA A CULTURA DA SOJA NO RIO GRANDE DO SUL E EM SANTA CATARINA, SAFRAS 2022/2023 E 2023/2024. 43° Reunião de Pesquisa de Soja da Região Sul, Editora GR. Santa Maria – RS, 2022. Disponível em: < https://www.embrapa.br/documents/1355291/77681724/Indica%C3%A7%C3%B5es+T%C3%A9cnicas+para+a+cultura+da+soja+no+Rio+Grande+do+Sul+e+em+Santa+Catarina%2C+safras+2022-2023+e+2023-2024/59dc57b3-4122-de8a-1009-6f061aa8c47f >, acesso em: 09/10/2023.
SEIXAS, C. D. S. MANEJO DE DOENÇAS. Sistemas de Produção 17, Tecnologias de Produção de Soja, cap. 10. Embrapa Soja, Londrina – PR, 2020. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/223209/1/SP-17-2020-online-1.pdf >, acesso em: 09/10/2023.
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