A cotação da soja, em Chicago, para o primeiro mês, reagiu durante esta semana. Após bater em US$ 9,61/bushel no dia 06/08, a mesma chegou a US$ 10,23 no dia 13/08, porém, perdeu força na sequência e fechou a quinta-feira (14) em US$ 10,08/bushel, contra US$ 9,71 uma semana antes. Dois motivos explicam o movimento: a revisão, mesmo que pequena, para baixo na produção de soja dos EUA em 2025/26, anunciada no relatório de oferta e demanda do dia 12/08; e principalmente o discurso de Trump afirmando que as negociações comerciais com a China podem levar o país asiático a quadruplicar as importações de soja estadunidense logo adiante.
Sobre o relatório, os principais pontos, considerando a safra 2025/26, são a redução na estimativa de produção estadunidense (colheita a partir de final de outubro), ficando a mesma, agora, em 116,8 milhões de toneladas, ou seja, 1,2 milhão a menos do que o indicado em julho. Com isso, os estoques finais estadunidenses recuam para 7,9 milhões de toneladas, perdendo cerca de 500.000 toneladas sobre o indicado em julho. Já a produção mundial de soja ficaria em 426,4 milhões de toneladas, também recuando 1,2 milhão sobre o mês anterior, enquanto os estoques finais mundiais descem para 124,9 milhões de toneladas, com recuo igualmente de 1,2 milhão de toneladas sobre julho. Mas a média para o bushel de soja ao produtor estadunidense ficou mantida em US$ 10,10 para este novo ano comercial. A produção brasileira e argentina estão projetadas, respectivamente, em 175,00 e 48,5 milhões de toneladas. E as importações chinesas foram mantidas em 112 milhões.
Dito isso, a qualidade das lavouras de soja nos EUA, no dia 10/08, recuou para 68% entre boas a excelentes, ficando no mesmo nível do ano anterior, sendo que 71% das mesmas estão com formação de vagens.
Pelo lado das exportações, na semana encerrada em 07/08 os EUA embarcaram 518.066 toneladas da oleaginosa, superando a expectativa do mercado e acumulando, no atual ano comercial, um total de 48,4 milhões de toneladas, ou seja, 11% acima do registrado no mesmo período do ano anterior.
E no Brasil, os preços melhoraram um pouco mais na esteira, especialmente, da melhoria dos prêmios, já que o câmbio chegou a cair abaixo de R$ 5,40 por dólar em alguns momentos da semana. Assim, a média gaúcha voltou ao patamar dos R$ 124,00/saco, enquanto as principais praças locais estabeleceram seus preços nestes níveis no interior. No restante do país, o intervalo de preços médios subiu para valores entre R$ 117,00 e R$ 127,00/saco, com algumas praças sem cotação.
Em termos dos prêmios, nos portos nacionais, os mesmos estiveram nos níveis mais altos desde 2018, puxados pela forte demanda da China aqui no país. Por enquanto, apesar das declarações de Trump, os chineses ainda pouco compraram soja dos EUA, dando preferência ao Brasil e a Argentina.
Aliás, esta situação começa a preocupar o mercado, pois as margens de esmagamento estão piorando na China. Somente nesta semana, a China comprou cerca de 28 navios de soja da safra velha do Brasil, com prêmios altos, tendo subido 30 centavos de dólar nas principais posições. Na semana anterior, foram 26 navios e um ganho nos prêmios de 15 centavos. Segundo analistas da Agrinvest Commodities “a situação atual éinsustentável assim como está”. Afinal, aqui no Brasil também as margens de esmagamento das indústrias nacionais não estão em um bom momento. “Os preços do farelo de soja testam suas mínimas em diversos anos e os valores do grão estão elevados – em especial por conta dos prêmios historicamente altos – o que deve fazer, portanto, que o esmagamento seja menor do que o inicialmente estimado no Brasil” (cf. Granel Corretora), além do problema de encontrar soja de qualidade para atender a demanda externa. “Se a China continuar só comprando no Brasil e o ritmo for esse, o qual supera até mesmo o ritmo das vendas por parte dos produtores nacionais, somado à questão da falta de soja padrão exportação no Arco Norte, a tendência é de os prêmios dispararem e a soja estadunidense não sair do lugar. Com margem muito negativa para a indústria, a tendência é faltar óleo, faltar biodiesel e por aí vai.” (cf. Agrinvest Commodities). A solução seria a China voltar a comprar soja estadunidense, o que levaria a um recuo nos prêmios brasileiros e melhoraria as margens de nossas indústrias, as quais aumentariam o esmagamento. Mas isso leva a um menor preço ao produtor caso o câmbio e/ou Chicago não compensar.
Lembrando que a colheita da nova safra de soja nos EUA deve iniciar em outubro, aumentando a oferta naquele país e pressionando Chicago para baixo. Enfim, é bom lembrar, no que diz respeito a declaração de Trump de que “a China poderá quadruplicar suas compras de soja dos EUA”, que na guerra comercial estabelecida pelo presidente estadunidense em seu primeiro mandato, “a China não cumpriu o acordado na fase um, quando o assunto era o volume de produtos agrícolas que teria que comprar dos Estados Unidos”. Mas a ansiedade do mercado é tanta, para que as cotações em Chicago subam, que bastou a fala para que o mercado reagisse imediatamente como vimos nesta semana. A questão é: será que continua ou é apenas momentâneo? Ora, se a China não vier às compras nos EUA, o aumento de agora em Chicago não terá sustentação, salvo se venha a ocorrer um problema climático sobre a safra atual do país norte-americano.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).