Por Argemiro Luís Brum

As cotações da soja, nesta semana, reagiram um pouco em Chicago. O primeiro mês cotado fechou a quinta-feira (24) em US$ 9,96/bushel, contra US$ 9,88 uma semana antes.

Não existem muitos motivos para altas em Chicago, salvo o receio de novas medidas de protecionismo comercial caso Trump ganhe as eleições em novembro. Isso será baixista na sequência, porém, no curto prazo faz acelerar as vendas da oleaginosa estadunidense, aumentando a demanda local.

Dito isso, 81% da área de soja dos EUA havia sido colhida até o dia 20/10, contra a média histórica de 67% para a data.

Por outro lado, na semana encerrada em 17/10 o volume embarcado de soja pelos EUA atingiu a 2,4 milhões de toneladas. O mesmo é um pouco abaixo do registrado no mesmo período de 2023, que foi de 2,6 milhões. Em todo o atual ano comercial, as vendas atingem, atualmente, 7,9 milhões de toneladas, contra 8,1 milhões no mesmo período do ano anterior.

Já os prêmios de exportação da soja, nos EUA, estão nos níveis mais altos dos últimos 14 meses, pois os comerciantes de grãos estão se adiantando para vender a safra de grãos recorde que está em finalização de colheita, antes das eleições presidenciais nos EUA, pois o resultado das mesmas é uma incógnita, podendo haver tensões comerciais com a China caso Trump venha a ganhá-las, como já ocorreu quando de seu primeiro mandato entre 2017 e 2020.

O risco é, logo à frente, os EUA ficarem com excesso de soja em estoque em um momento em que os preços locais são os mais baixos em quatro anos. “As ameaças de tarifas nos discursos de campanha do candidato à presidência Donald Trump estão levando alguns importadores chineses a evitar os embarques dos EUA a partir de janeiro. Em vez disso, esses compradores estão reservando soja brasileira, e pagando até 40 centavos de dólar por bushel a mais do que pagariam nos Estados Unidos, em uma mudança sazonal antecipada que está encolhendo a janela de exportação dos EUA.” (cf. AgResource Co).

Já o plano da candidata Kamala Harris é de manter as tarifas praticamente como estão agora. Para se ter uma ideia da preocupação pré-eleição, a mesma soja carregada nos EUA, em novembro, estaria disponível por 27 centavos de dólar por bushel a menos do que hoje, o que representa uma economia em torno de US$ 14.000,00 por barcaça de 1.500 toneladas carregada.

E no Brasil, os preços subiram puxados pelo câmbio, o qual atingiu a R$ 5,70 por dólar em alguns momentos da semana, se aproximando do recorde dos últimos anos. Assim, a média gaúcha fechou a semana em R$ 125,82/saco, enquanto as principais praças locais negociaram o produto entre R$ 126,00 e R$ 129,00/saco. Já nas demais regiões do país, os preços oscilaram entre R$ 124,00 e R$ 142,00/saco.

Ainda em termos de preço, ao se considerar que o câmbio volte a um patamar mais próximo do normal no momento da nova colheita gaúcha (março/abril), ou seja, em torno de R$ 5,00 a R$ 5,20, de um prêmio que aponta para US$ 0,30/bushel em abril/25, e um bushel a US$ 9,00 no mesmo mês, o preço líquido da soja no Rio Grande do Sul poderá se estabelecer entre R$ 89,00 e R$ 93,00/saco.

Caso o bushel se mantenha ao redor dos atuais US$ 9,70, o câmbio ceda menos e venha a R$ 5,40, e o prêmio fique nos US$ 0,30 indicados, o saco de soja chegaria em torno de R$ 103,00. Lembrando que, se o câmbio desvalorizar acima desses valores, o preço em reais da soja melhora, porém, os custos de produção futuros sobem na mesma proporção e até mais. Com isso, em muitos casos, mesmo com uma produtividade normal, muitos produtores podem não conseguir pagar todos os seus custos de produção.

Tomando-se o caso do Mato Grosso, maior produtor de soja do Brasil, segundo estudo do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea), os custos de produção da soja, para 2024/25, deverão totalizar R$ 7.118,38/hectare naquele estado. No entanto, a receita estimada de R$ 6.507,98/hectare para a nova safra não cobre todas as despesas, resultando em um déficit de R$ 610,40, considerando uma produtividade média de 57 sacos/hectare. Esta é uma realidade que, guardadas as proporções de comparação, atinge o conjunto do país. Mais uma vez, para mitigar o problema, os produtores terão que gerenciar muito bem seus custos de produção e a comercialização da nova safra.

Por sua vez, o esmagamento de soja brasileiro, em 2024, está estimado em 54,6 milhões de toneladas. Para 2025 está sendo esperado um esmagamento de 55,5 milhões de toneladas de soja no país. Quanto às exportações, o total poderá chegar a 107 milhões de toneladas no próximo, caso a safra futura fique entre 165 e 172 milhões de toneladas como vem sendo projetada (cf. Safras & Mercado).

Em se confirmando uma safra futura nos níveis indicados, a oferta total da oleaginosa (produção+estoques+importações) poderá crescer 11% sobre 2024, atingindo a 175,2 milhões de toneladas, fato que poderá elevar os estoques finais, em 2024/25, em 181%, atingindo a 9,2 milhões de toneladas. Já a produção brasileira de farelo de soja chegaria a 42,7 milhões de toneladas, com aumento de 2%. Considerando exportações de 22 milhões e consumo interno de 20,3 milhões, os estoques finais em 2024/25 subiriam 18% para este subproduto, atingindo a 2,6 milhões de toneladas.

Enfim, a produção de óleo de soja, pelo Brasil, chegaria a 11,1 milhões de toneladas. Considerando as exportações, o consumo interno e o uso do mesmo para biodiesel, os estoques deste subproduto, em 2024/25, poderão recuar 35%, ficando em 275.000 toneladas. Lembrando que a fabricação de biodiesel no Brasil consumirá 6 milhões de toneladas de óleo de soja neste novo ano comercial (cf. Safras & Mercado).

Enfim, destaca-se que o plantio da nova safra continua atrasado, tendo atingido a 18% da área esperada no dia 17/10. No ano passado, nesta época, o mesmo atingia a 30% da área (cf. AgRural). Importante se faz registrar que neste mês de outubro o regime de chuvas no Centro-Oeste, Sudeste e Norte/Nordeste brasileiros está voltando ao normal.

Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).



 

FONTE

Autor:Informativo CEEMA UNIJUÍ

Site: Dr. Argemiro Luís Brum/CEEMA-UNIJUÍ

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