Por Argemiro Luís Brum

O primeiro mês cotado em Chicago, para a soja, registrou uma melhora nesta semana. O fechamento desta quinta-feira (20) ficou em US$ 10,45/bushel, contra US$ 10,30 na semana anterior.

Durante a semana, a Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas dos EUA informou que foram esmagadas 5,45 milhões de toneladas de soja em janeiro, volume abaixo das expectativas do mercado que era de 5,57 milhões. Em relação a janeiro de 2024, o aumento foi de 7,9%. Em dezembro, o esmagamento havia sido de 5,62 milhões de toneladas. Já os estoques de óleo de soja naquele país ficaram, no último mês, 15,4% mais baixos do que o registrado um ano antes. Mesmo assim, os estoques marcam seu maior volume em seis meses, mas o menor para janeiro em 10 anos.

Por sua vez, na Argentina, as primeiras informações vindas de um Crop Tour que lá vem sendo realizado, apontam que, assim como no sul do Brasil, existe muita variabilidade na qualidade das lavouras de soja. Em algumas regiões o quadro é razoável e em outras o mesmo é crítico.

Já no Brasil, com o câmbio se mantendo ao redor de R$ 5,70 por dólar, e os prêmios sem grandes mudanças em relação à semana anterior, os preços se estabilizaram, porém, o viés é de baixa conforme a colheita vai avançando. Com isso, se a média gaúcha fechou a semana em R$ 125,13/saco, as principais praças locais trabalharam com valores entre R$ 124,00 e R$ 125,00/saco. Nas demais regiões brasileiras os valores giraram entre R$ 101,00 e R$ 118,00/saco.

Segundo a Pátria AgroNegócios, até o início da presente semana a colheita no Brasil chegava a 27,2% da área total esperada, contra 30,7% na mesma época do ano passado e 28,5% na média histórica para a data. Nas regiões centro e norte do país a colheita avançou melhor, apesar das chuvas, e no sul do país, as chuvas do dia 17/02 não recuperam o que já foi perdido, porém, estanca as perdas. O problema é que nova onda de calor se iniciou, sem previsões de chuva significativa, pelo menos até meados da próxima semana.

Mesmo com estas quebras (no Rio Grande do Sul já há estimativas – Agroconsult – se aproximando de nossos números indicados no comentário passado, apontando um total a ser colhido de 16 milhões de toneladas apenas). Para o Brasil, o recorde deve se estabelecer mesmo assim, mas há disparidades, com as indicações de volume final entre 166 e 171 milhões de toneladas (Conab e Agroconsult). Neste último número, caso se confirme, o ganho seria de 15,8 milhões sobre a safra anterior. Em termos nacionais, a área semeada teria sido de 47,6 milhões de hectares, com a produtividade média esperada em 60 sacos/hectare. Mas no Rio Grande do Sul a média, por enquanto, está projetada em 39 sacos (35% abaixo da média nacional) (cf. Rally da Safra Agroconsult).

Em outras regiões brasileiras a produtividade é bem melhor, com 66,5 sacos/hectare no Mato Grosso e 70 sacos estimados na Bahia, por exemplo.

Entretanto, no Mato Grosso do Sul, segundo a Aprosoja local, em muitas regiões daquele estado 47% das lavouras se apresentam em condições ruins. Enquanto isso, destaque para o fato de que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) ter decidido frear a intenção de aumentar a mistura de biodiesel no diesel fóssil. Em dezembro de 2023 o Programa Combustível do Futuro havia previsto passar para 15% (B15) a mistura, porém, com a recente decisão do Conselho a referida mistura irá permanecer em 14% não havendo previsão de revisão. Isto vem causando indignação ao setor produtivo do biodiesel nacional.

Enfim, em relação ao mercado mundial de soja, tem-se que a China diminuiu sensivelmente sua dependência para com a soja dos EUA a partir de 2018, em função da guerra comercial que Donald Trump provocou em seu primeiro mandato na presidência dos EUA, assim como em função da peste suína africana que se abateu sobre os rebanhos chineses. Assim, “para os exportadores dos EUA, os níveis préguerra comercial de 2018 nunca foram recuperados, e as remessas de soja dos EUA para a China, nos últimos três anos civis, caíram 12% em relação à média de 2015- 2017.

Enquanto isso, a China aumentou suas importações em 13% durante esse período, fato que favoreceu ao Brasil. Tanto é verdade que, neste período, o Brasil aumentou suas exportações de soja para a China em 51%, enquanto as exportações totais de soja pelo nosso país cresceram 61%. Em comparação, as exportações de soja dos EUA para todos os destinos caíram 2% no mesmo período, pois o foco na demanda doméstica aumentou. Em média, nos últimos três anos, cerca de 72% das exportações de soja do Brasil foram para a China, em comparação com 76% entre 2015-2017. Essa enorme dependência de um único cliente é uma das grandes vulnerabilidades do programa de exportação do Brasil. Enquanto isso, cerca de 53% das exportações de soja dos EUA foram destinadas à China nos últimos três anos civis, em comparação com a média de 59% nos três anos anteriores à guerra comercial.

Já na União Europeia, segunda grande região em importações de soja, com 8% do total global, o quadro é de estabilidade. Lembrando que até o início dos anos 2000 a Europa, para a soja, era a atual China, particularmente para o Brasil. Os europeus adquiriam, na época, cerca de dois terços das exportações brasileiras da oleaginosa, incluindo o farelo. Dito isso, as exportações de soja, dos EUA para a EU, chegaram a 11% do total das vendas de soja estadunidense nos últimos três anos. Mas tanto para os EUA quanto para o Brasil, o comércio de soja com a UE pode estar em risco porque os europeus estão publicando uma política que tem potencial para diminuir as importações agrícolas tratadas com produtos químicos proibidos na Europa. Enfim, “as exportações totais de soja brasileira são quase 80% maiores em volume do que a dos EUA, mas ambos os países, nos últimos três anos, exportaram volumes semelhantes para destinos diferentes da China e da UE.

Essa diversidade relativamente maior entre os clientes dos Estados Unidos pode ser sua única vantagem atual sobre os negócios em expansão do Brasil (cf. Karen Braun, da Reuters). E, nesse momento, a grande incógnita, para o futuro do mercado da soja, está sendo os novos arroubos protecionistas vindos de Donald Trump em seu segundo mandato na presidência dos EUA.

área semeada, contra 44% na média histórica para esta época do ano.

Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹

1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).



 

FONTE

Autor:Informativo CEEMA UNIJUÍ

Site: Dr. Argemiro Luís Brum/CEEMA-UNIJUÍ

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