Por Argemiro Luís Brum
As cotações da soja voltaram a bater em níveis abaixo de US$ 10,00/bushel durante esta semana, porém, não se sustentaram e subiram no final da mesma, puxadas pela possibilidade de a China voltar a comprar a oleaginosa dos EUA. Assim, o fechamento desta quinta-feira (17) ficou em US$ 10,21/bushel, contra US$ 10,12 uma semana antes.
O relatório de oferta e demanda do USDA, para o ano 2025/26, anunciado no dia 11, foi baixista, mesmo indicando uma futura safra estadunidense em 117,8 milhões de toneladas, após 118,8 milhões no ano anterior. Considerando o recuo de 4% na área semeada, o volume a ser produzido é bastante positivo, pressionando para baixo as cotações. Além disso, os estoques finais nos EUA, para este novo ano, foram aumentados para 8,4 milhões de toneladas, ganhando 400.000 toneladas sobre o indicado em junho. A produção e os estoques mundiais foram aumentados em cerca de um milhão de toneladas, respectivamente para 427,7 e 126,1 milhões de toneladas. Além disso, o mesmo manteve a futura produção de soja no Brasil em 175 milhões de toneladas e na Argentina em 48,5 milhões. As importações da China também foram mantidas em 112 milhões. Já o preço médio, a ser pago aos produtores estadunidenses da oleaginosa, foi reduzido para US$ 10,10/bushel em 2025/26.
Na semana encerrada em 10 de julho, os embarques de soja dos EUA foram de 147.045 toneladas, enquanto o mercado esperava algo entre 200.000 e 500.000 toneladas. Com este volume, o total embarcado na safra 2024/25 chega a 46,4 milhões de toneladas, 10% acima do registrado no mesmo período do ano anterior.
Por sua vez, segundo a Associação Nacional dos Processadores de Oleaginosas dos EUA, o esmagamento de soja naquele país, em junho, ficou em 5,05 milhões de toneladas, se estabelecendo um pouco acima das expectativas do mercado. O volume foi recorde para o mês de junho e é 6% maior do que o registrado em junho de 2024. Além disso, anunciou-se que os estoques de óleo de soja, nos EUA, estão nos mais baixos níveis desde 2004.
Ainda no mercado externo, além do retorno dos tarifaços de Donald Trump sobre diversos países, chamou a atenção a aplicação de 50% de tarifas unilaterais sobre a importação dos produtos brasileiros. O agronegócio nacional será muito atingido, incluindo o óleo de soja em particular. Esse anúncio levou a uma desvalorização do Real ao redor de 2% na semana, ajudando a melhorar um pouco os preços internos da soja. Ao mesmo tempo, os prêmios se mostram mais firmes no momento. Dito isso, circula a notícia de que a China deverá voltar a comprar soja nos EUA, pois não há alternativa diante de sua demanda, apesar das tarifas aplicadas pelos EUA. Segundo o mercado, o dilema chinês seria “quanto de soja a China quer comprar dos EUA versus quanta soja a China precisa comprar dos EUA”. No primeiro semestre de 2025, as compras chinesas de soja somaram 49,4 milhões de toneladas, 1,8% a mais do que no mesmo período do ano passado. Somente no mês passado, foram 12,3 milhões de toneladas, sendo a a maior parte do Brasil, sendo que em junho a Argentina também apareceu como exportadora do grão aos chineses (Cf. Administração Geral das Alfândegas da China).
Do começo de junho ao início de julho, a China comprou 183 navios de soja, sendo 109 do Brasil e 74 da Argentina, e nada dos Estados Unidos. Há um ano, neste mesmo período, as compras chinesas somaram 198 navios, sendo apenas 16 da Argentina (cf. Agrinvest Commodities). “O Brasil ainda não consegue suprir integralmente a necessidade chinesa de soja. Há um déficit de 25 a 30 milhões de toneladas que a China precisaria comprar em outras nações. Ocorre que, atualmente, Argentina e Paraguai, apesar dos recentes movimentos, ainda não possuem expressão suficiente nas exportações da matéria-prima in natura. Pelo contrário, a Argentina foi a terceira maior importadora de soja do planeta em 2024, com foco no esmagamento” (cf. Pátria Agronegócios). Daí a necessidade de comprar dos EUA, apesar do contencioso tarifário entre os dois países. “Neste ano a China ainda depende da soja dos EUA entre 15 a 20 milhões de toneladas. Não tem como ela sobreviver, exclusivamente, da importação da soja brasileira. Grosso modo, algumas estimativas têm apontado que o Brasil deve exportar 108 milhões de toneladas de soja e a China deve importar 112 milhões. E do que o Brasil exporta, destes 108 milhões, 75% têm como destino o país asiático. Portanto, o Brasil não teria como atender 100% da demanda chinesa. Ela vai ter que acabar comprando soja dos Estados Unidos”.
E no Brasil, puxados também pelo câmbio e os prêmios, os preços melhoraram um pouco. A média gaúcha subiu para R$ 122,05/saco, enquanto as principais praças atingiram a R$ 121,00. Nas demais regiões do país os preços oscilaram entre R$ 107,00 e R$ 119,00/saco.
Já a área a ser semeada com soja no Brasil, em 2025/26, está estimada em 48,2 milhões de hectares, com um crescimento de apenas 1,2%. Se o clima ajudar e a produtividade média atingir a 3.749 quilos/hectare (62,5 sacos/ha), o Brasil poderá colher praticamente 180 milhões de toneladas no próximo ano (179,9 milhões), segundo Safras & Mercado. A dúvida é quanto a reação dos produtores diante de custos de produção mais elevados, incluindo juros altos e a falta de crédito.
Enfim, reforçar que as importações chinesas de soja atingiram um recorde em junho, chegando a 12,3 milhões de toneladas (um aumento de 10,4% sobre um ano antes). Deste total, 9,73 milhões vieram do Brasil (79,1%), enquanto os EUA embarcaram apenas 724.000 toneladas (5,9%), sendo que o restante veio da Argentina e outros países. No primeiro semestre do ano, a China importou um total de 49,4 milhões de toneladas de soja, um aumento de 1,8% em relação ao ano anterior, segundo dados da Administração Geral de Alfândega do país asiático. Espera-se, para julho, importações de 10,5 milhões de toneladas, contra 9,8 milhões realizadas em julho do ano passado.
Fonte: Informativo CEEMA UNIJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUÍ, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUÍ).