Autor: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
As cotações da soja, em Chicago, ensaiaram uma recuperação nesta semana, porém, a mesma não encontrou sustentação. O anúncio do relatório de oferta e demanda do USDA, no dia 12/07, trouxe algum suporte para as cotações, porém, a informação de que a demanda geral de soja vem recuando, na esteira de uma possível recessão mundial, trouxe para baixo novamente as cotações.
Assim, o fechamento desta quintafeira (14) ficou em US$ 16,10/bushel, contra US$ 15,91 uma semana antes, considerando o primeiro mês cotado. Porém, importante se faz destacar que, a partir de agora, o primeiro mês cotado passa a ser agosto. E o fechamento deste mês, neste dia 14/07, ficou em apenas US$ 14,71/bushel.
O relatório, para a soja, para o ano 2022/23, reduziu as projeções de safra e estoques finais nos EUA. A produção está, agora, projetada em 122,6 milhões de toneladas, com recuo de quase 4 milhões sobre o relatório de junho, enquanto os estoques finais foram reduzidos para 6,3 milhões, perdendo 1,3 milhão em relação ao anunciado em junho.
Mesmo assim, o USDA reduziu o preço médio ao produtor estadunidense, neste ano comercial, para US$ 14,40/bushel. Já em termos mundiais, o relatório apontou uma safra de 391,4 milhões de toneladas, considerando o recuo na produção estadunidense, enquanto os estoques mundiais ficam projetados em 99,6 milhões de toneladas, sendo reduzindos em menos de um milhão de toneladas sobre junho. As produções brasileira e argentina foram mantidas em 149 e 51 milhões de toneladas respectivamente. Enquanto isso, as importações chinesas foram reduzidas em um milhão de toneladas, mais uma vez, ficando em 98 milhões para o novo ano comercial 2022/23.
Dito isso, o USDA informou que, no dia 10/07, as condições das lavouras estadunidenses de soja apontavam uma nova piora. As lavouras entre boas a excelentes recuaram para 62% do total. Todavia, ainda superiores aos 59% do ano passado nesta época. Outros 29% estavam regulares e 9% entre ruins a muito ruins.
Cerca de 32% das lavouras estão em fase de florescimento, contra 38% na média histórica para a data. Quanto aos embarques estadunidenses de soja, na semana encerrada em 07/07, o volume atingiu a 356.716 toneladas, ficando abaixo do esperado pelo mercado. Em todo o ano comercial atual o volume soma 52,2 milhões de toneladas, ainda 10% abaixo do registrado um ano antes.
De forma geral, os números do relatório estadunidense apertaram mais a oferta que poderá vir da nova safra dos EUA. Com isso, qualquer problema climático nas regiões de produção, até o momento da colheita, no final de setembro e durante o mês de outubro, tende a reverter a tendência de baixa em Chicago, a qual vem se consolidando nestas últimas semanas.
O fato é que a volatilidade no mercado em geral das commodities, incluindo a soja, continua muito grande mundo afora. O novo aumento no índice inflacionário dos EUA, com o mesmo ultrapassando os 9% anuais, aumenta a preocupação do mercado quanto a uma possível recessão naquele país, provocada pelo governo, via alta dos juros básicos, para conter a alta dos preços. Além disso, novas variantes da Covid-19 estão surgindo.
A China está com constantes lockdowns em suas principais cidades, freando ainda mais sua recuperação econômica. A tendência de novas altas dos juros dos EUA, leva os especuladores, especialmente os Fundos, a venderem contratos de commodities nas diferentes bolsas e buscarem comprar os títulos públicos do governo estadunidense. Além disso, a continuidade da guerra entre Rússia e Ucrânia, se fez aumentar o preço das mercadorias básicas mundo afora, agora causa inquietação pela sua persistência, o que vem causando pressões recessivas na economia dos países desenvolvidos.
Vale destacar, neste contexto, que os preços internacionais do petróleo, depois de um bom tempo, recuaram abaixo dos US$ 100,00/barril, ajudando a derrubar os preços dos óleos vegetais. Por fim, as importações de soja por parte da China, recuaram 23% em junho, na comparação com o ano anterior, ficando em 8,25 milhões de toneladas. Isso ocorreu porque os preços da soja estavam muito elevados e a demanda está mais fraca no país asiático, com os consumidores buscando outras alternativas.
Já em junho as compras chinesas, em 9,67 milhões de toneladas, haviam ficado abaixo do volume de maio. Em relação ao ano passado, a realidade do mercado chinês mudou totalmente, segundo traders lá instalados. Por exemplo: mesmo com a melhoria em suas margens de produção atualmente, os suinocultores chineses enfrentaram grandes perdas durante boa parte do primeiro semestre do ano e vêm reduzindo o número de rebanhos.
Além disso, junto as indústrias esmagadoras de soja chinesas, as margens de esmagamento continuam relativamente baixas, e os importadores estão apenas comprando o que precisam, não querendo acumular grandes estoques, já que as margens futuras são negativas. Desde meados de abrilpassado os esmagadores chineses vêm tendo margens negativas. Neste momento, meados de julho, estariam perdendo US$ 103,00 para cada tonelada esmagada.
No total, a China importou 46,28 milhões de toneladas de soja nos primeiros seis meses de 222, uma queda de 5,4% em relação ao período correspondente do ano anterior.
Enquanto isso, no Brasil, devido a um câmbio que elevou o Real para R$ 5,45 por dólar durante a semana, os preços melhoraram um pouco, mesmo com Chicago pressionando para baixo. A manutenção de prêmios elevados, diante da menor oferta de produto local, também tem ajudado. Com isso, a média gaúcha, no balcão, subiu para R$ 177,54/saco nesta semana, enquanto as principais praças do Estado trabalharam com R$ 175,00. Nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 159,00 e R$ 173,00/saco.
Neste contexto de preços menores, a comercialização caminha mais lentamente. Para a safra 2021/22, até o dia 08/07, o país havia comercializados 74,3% da mesma, enquanto a média histórica, nesta época do ano, indica vendas que deveriam estar em 77,6% do total colhido, sendo que no ano passado as vendas daquela safra atingiam 79,2% nesta data. Já para a safra futura 2022/23, as vendas antecipadas atingiam 15,7%, contra a média de 19,3%, enquanto no ano anterior as mesmas chegavam a 21,5%. (cf. Safras & Mercado)
Por sua vez, a Abiove informa que as exportações brasileiras de soja, em 2022, deverão ser menores do que o inicialmente previsto, ficando em 76,8 milhões de toneladas, caindo 9,3 milhões sobre o verificado no ano anterior. Já a frustrada safra passada foi ajustada para 125,8 milhões de toneladas, o que significa um volume 9,4% menor do que o recorde de 2021. Quanto ao esmagamento, o país deverá atingir ao recorde de 48,3 milhões de toneladas. Com isso, a produção de farelo de soja, do país, em 2022, está estimada em 37 milhões de toneladas, com ligeiro aumento sobre 2021.
Já a produção de óleo de soja deverá somar 9,8 milhões de toneladas, com crescimento na comparação com 2021, que atingiu a 9,64 milhões, apesar de uma mistura menor de biodiesel, no diesel, no país em 2022.
O consumo total interno de óleo de soja deve cair 100 mil toneladas, na comparação anual, para 7,9 milhões de toneladas, com a redução no biodiesel sendo parcialmente compensada pela demanda para outros usos (óleo refinado para alimentação, gorduras destinadas a indústrias químicas).
Neste contexto, a exportação de óleo de soja do Brasil foi estimada em 2,15 milhões de toneladas em 2022, ante 2 milhões na previsão anterior e 1,65 milhão em 2021, com o país atendendo uma demanda adicional de países que antes compravam o óleo de girassol ucraniano, entre outros fatores. E a exportação anual de farelo de soja também foi revisada para cima, para 18,5 milhões de toneladas, contra 17,2 milhões em 2021.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1)
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).