Autores: Prof. Dr. Argemiro Luís Brum e Jaciele Moreira
As cotações da soja em Chicago, após baterem nos melhores níveis desde o final de janeiro passado (o primeiro mês fechou o dia 14/10 em US$ 9,40/bushel), acabaram cedendo no restante da semana, fechando a quinta-feira (17) em US$ 9,31/bushel, contra US$ 9,23 uma semana antes.
O movimento altista inicial se deu pela certa euforia com o acordo parcial entre EUA e China, após as reuniões dos dias 10 e 11 de outubro. Igualmente, a confirmação de uma safra menor nos EUA, conforme o relatório do USDA do dia 10/10, alimentou a tendência.
Entretanto, com o passar dos dias o mercado realizou ajustes técnicos, com vendas de posições compradas. Ajudou para isso o fato de que os operadores se deram conta de que o acordo sino-estadunidense, por enquanto, é apenas parcial, não surgindo grandes novidades a respeito durante o restante da semana. Além disso, se um acordo final for firmado nas bases deste acordo parcial, a manutenção das tarifas até aqui existentes tende a se confirmar.
O que o acordo parcial permitiu é que não haja, por enquanto, novos aumentos destas tarifas, como cogitava os EUA, além de obrigar a China a importar mais produtos estadunidenses, especialmente na área agropecuária. Portanto, estamos diante de um “miniacordo” como o mercado vem definindo. Insuficiente para dar sustentação às cotações em Chicago. Afora isso, um acordo parcial desta forma não melhora o quadro em favor do crescimento mundial, apenas impede que o mesmo piore no curto prazo.
Em paralelo, o mercado assistiu a sinais de queda na demanda chinesa por soja, ainda sob efeito da peste suína africana. O rebanho suinícola chinês teria caído em 41,1% em setembro deste ano, em comparação a setembro de 2018. Entretanto, o recuo em Chicago não foi maior porque a safra estadunidense será bem menor neste ano, devido a problemas climáticos já conhecidos.
A esse respeito, as condições das lavouras estadunidenses melhoraram nesta segunda semana de outubro. Segundo o USDA, até o dia 13/10 a área colhida chegava a 26% do total, contra a média de 49% para esta época do ano. Mesmo assim, o percentual anunciado ficou acima do que o mercado esperava. As lavouras a serem colhidas, até a data em questão, apresentavam 54% em condições entre boas a excelentes, 32% regulares e 14% entre ruins a muito ruins.
Houve aumento de um ponto percentual nas lavouras boas a excelentes em comparação à semana anterior, e dois pontos acima do que o mercado esperava. Por sua vez, o esmagamento de soja nos EUA, segundo a Associação NorteAmericana dos Processadores (NOPA), atingiu a 4,15 milhões de toneladas em setembro, contra 4,57 milhões em agosto deste ano e 4,37 milhões em setembro de 2018.
Por outro lado, as inspeções de exportação de soja por parte dos EUA, na semana encerrada em 10/10, atingiram a 954.881 toneladas, ficando um pouco abaixo das expectativas do mercado. Com isso, no acumulado do ano comercial atual, iniciado em 1º de setembro, o volume chega a 5,16 milhões de toneladas, contra 4,8 milhões em
igual momento do ano anterior.
Já no Brasil, os preços se mantiveram firmes e com viés de alta, puxados por Chicago e, principalmente, pelo câmbio, o qual voltou a bater em R$ 4,16 nesta semana. Assim, os efeitos de prêmios mais baixos nos portos brasileiros foram, em boa parte, absorvidos pelas outras duas variáveis formadoras do preço. Neste sentido, os prêmios nos portos brasileiros giraram entre US$ 0,60 e US$ 0,95/bushel.
Desta forma, o balcão gaúcho fechou a semana em R$ 78,45/saco, voltando a se aproximar dos valores nominais praticados no ano passado, nesta época (em meados de outubro de 2018 o balcão gaúcho praticava o preço de R$ 79,06/saco). Quanto aos lotes, o mercado gaúcho registrou valores entre R$ 85,50 e R$ 86,50/saco.
Nas demais praças nacionais os preços médios dos lotes oscilaram da seguinte forma: R$ 86,00 no centro e norte do Paraná; R$ 84,50 no oeste paranaense; R$ 75,00 em Sorriso (MT); R$ 78,00 em São Gabriel (MS); R$ 79,50 em Goiatuba (GO); R$ 86,00 em Campos Novos (SC); R$ 77,00 em Pedro Afonso (TO); e R$ 79,50/saco em Uruçuí (PI).
No ano passado, nesta época, quem sustentava os preços internos da soja era o prêmio, que oscilava entre US$ 2,28 e US$ 2,67/bushel (na média, 219,4% acima do que está sendo praticado na atualidade), já que o bushel em Chicago valia US$ 8,85 (4,8% mais baixo do que hoje) e o câmbio era de R$ 3,70 por dólar, ou seja, 12,4% mais valorizado do que hoje.
Enquanto isso, o plantio da nova safra de soja brasileira atingia a 9% da área esperada até o dia 11/10, contra 11% na média histórica. O Paraná havia semeado 25% da área, contra 32% na média; Mato Grosso 16%, ficando dentro da média; Mato Grosso do Sul 7%, contra 17% na média; Goiás 6%, contra 5% na média; São Paulo e Minas Gerais 4%, contra 3% e 2% na média respectivamente. Os demais Estados produtores não registravam, ainda, estatísticas a respeito. (cf. Safras & Mercado)
Enfim, a projeção de safra na América do Sul, para 2019/20, alcança 194 milhões de toneladas, contra 189 milhões no ano anterior e 174 milhões dois anos atrás. Do total regional projetado, o Brasil contribuiria com 125,7 milhões, a Argentina com 53 milhões, o Paraguai com 10,2 milhões, a Bolívia com 2,9 milhões e o Uruguai com 2,2 milhões de toneladas. (cf. Safras & Mercado).
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Fonte: Informativo CEEMA UNJUÍ, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum (1) e de Jaciele Moreira (2).
1 – Professor do DACEC/UNIJUI, doutor em economia internacional pela EHESS de Paris França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA.
2- Analista do Laboratório de Economia da UNIJUI, bacharel em economia pela UNIJUÍ, Tecnóloga em Processos Gerenciais – UNIJUÍ e aluna do MBA – Finanças e Mercados de Capitais – UNIJUÍ e ADM – Administração UNIJUÍ.