As cotações da soja, em Chicago, degringolaram nesta semana, chegando aos menores valores em quase dois anos. O bushel do grão, para o primeiro mês cotado, fechou a quinta-feira (18) em US$ 13,33, contra US$ 14,43 uma semana antes. Ou seja, em cinco dias úteis perdeu mais de um dólar, algo raro de ser visto. Esta cotação atual é a mais baixa desde o final de dezembro de 2021.
Os principais motivos para este movimento, que tinha se iniciado há algumas semanas seriam: redução nas compras globais da China em virtude de sua política de substituição de farelo de soja nas rações; redução no preço mundial do petróleo, o que ajuda a puxar para baixo o preço do óleo de soja (o mesmo fechou em apenas 46,41 centavos de dólar por libra-peso no dia 17/05, o menor valor em Chicago desde meados de fevereiro de 2021); o farelo de soja igualmente se mantém em níveis relativamente baixos, flertando constantemente com o rompimento do piso dos US$ 400,00/tonelada curta; a produção brasileira chegou ao mercado com um recorde, anulando as quebras no Rio Grande do Sul e na Argentina; a evolução do plantio nos EUA é positiva, com o clima transcorrendo muito bem até o momento; e os juros básicos nos EUA tendem a subir um pouco mais nas próximas reuniões do Banco Central estadunidense, levando os especuladores em Chicago a venderem posições de commodities e comprarem títulos públicos; enfim, o relatório de oferta e demanda do USDA, anunciado em 12/05, trouxe as primeiras estimativas para a produção 2023/24 nos EUA e no mundo, e as mesmas são, igualmente, positivas.
Em relação, especificamente a este relatório, a projeção para a colheita estadunidense de soja, em outubro/novembro, adianta um volume de 122,7 milhões de toneladas, contra 116,4 milhões na colheita anterior. Com isso, os estoques finais dos EUA, em 2023/24, chegariam a 9,1 milhões de toneladas, contra 5,9 milhões no ano anterior. Desta forma, o preço médio, estimado aos produtores estadunidenses de soja, para este novo ano comercial, cai para US$ 12,10/bushel, contra US$ 14,20 na projeção de 2022/23. Ou seja, uma queda superior a dois dólares por bushel em um ano. Já no cenário mundial, a produção total seria de 410,6 milhões de toneladas, ultrapassando a marca de 400 milhões de toneladas pela primeira vez na história, e indicando um aumento de 10,8% sobre o volume colhido no ano anterior. Com isso, os estoques finais mundiais chegariam a 122,5 milhões de toneladas no novo ano comercial, ou seja, um aumento de 21,2% sobre o ano anterior. A futura produção do Brasil está estimada em 163 milhões de toneladas, enquanto a da Argentina ficaria em 48 milhões. Já as importações chinesas de soja subiriam para 100 milhões de toneladas, crescendo apenas dois milhões em relação ao ano anterior.
Dito isso, o plantio da soja, nos EUA, alcançou a 49% da área no dia 14/05, contra a média histórica de 36% para esta data. Deste total semeado, 11% já havia germinado na data indicada.
Por outro lado, os embarques de soja estadunidenses, na semana encerrada em 11/05, atingiram a apenas 147.897 toneladas, ficando abaixo do esperado pelo mercado. O total embarcado no atual ano comercial chega a 48 milhões de toneladas no momento, o que representa 1% a menos do que o registrado em igual período do ano anterior.
Pelo lado da demanda, tem-se que a China aumentou muito as inspeções em cargas de soja importada, prolongando os tempos de liberação do produto. Estes novos procedimentos alfandegários chineses tornam ainda mais lento e custoso o escoamento do produto em território chinês, retardando o comércio com aquele país. Isso atrasa o processamento da soja e aumenta o custo do farelo de soja na China, encarecendo as rações para os suinocultores locais. Desde o início de abril o farelo de soja teria visto seu preço aumentar em 14%, o que leva os criadores a buscarem outra alternativa como fonte de proteína, reforçando a estratégia do governo daquele país neste sentido.
“No principal porto para a soja da China, Rizhao, que movimentou mais de 10 milhões de toneladas no ano passado, todos os navios que chegaram nos últimos dois dias foram inspecionados, disseram dois comerciantes chineses com conhecimento da situação. Anteriormente, apenas um em cada cinco navios seria amostrado, disse um dos comerciantes, acrescentando que leva até dez dias úteis antes que as cargas possam ser descarregadas após a inspeção. Cerca de 30 navios transportando ao redor de 1,8 milhão de toneladas de soja estão atualmente esperando em ancoradouros fora dos portos chineses, incorrendo em custos crescentes por atraso no desembarque do produto. As taxas pagas aos armadores, por não descarregar a carga no prazo acordado, pode chegar a 20.000 dólares por dia para um navio panamax transportando 60.000 toneladas de soja.” (cf. Reuters)
E aqui no Brasil os preços da soja, apesar do forte recuo em Chicago e de um câmbio que permanece, majoritariamente, entre R$ 4,90 e R$ 5,00 por dólar, os preços da soja se estabilizaram e até subiram um pouco em algumas praças. Isso se deve à melhoria dos prêmios nos portos brasileiros. Em Paranaguá, por exemplo, o prêmio para maio está em US$ 1,00/bushel negativo, ou seja, quase metade do que estava há poucas semanas atrás. Para agosto já há indicativo de prêmio positivo, com Paranaguá sinalizando US$ 0,25/bushel positivo.
Assim, a média gaúcha fechou a semana em R$ 128,28/saco, enquanto as principais praças do Estado negociaram a oleaginosa a R$ 121,00/saco. Nas demais praças nacionais o preço da soja girou entre R$ 112,00 e R$ 122,00/saco.
Isso confirma a tendência de certa melhoria de preços para o segundo semestre para a soja brasileira, porém, será preciso contar com a forte queda em Chicago e o recuo do câmbio, dois fatos que podem neutralizar, em boa parte, a melhoria dos prêmios. Essa melhoria nos prêmios, segundo corretores, já está fazendo com que o mercado, para setembro próximo, pague R$ 150,00/saco nos portos, contra pouco mais de R$ 140,00 atualmente. (cf. Brandalizze Consulting) Para o produtor, o movimento, se continuar, poderá trazer a elevação de alguns reais ao saco de soja. Por outro lado, sempre haverá, até outubro, a incógnita climática sobre a safra dos EUA, fato que pode mudar o rumo em Chicago, auxiliando à recuperação de preços no segundo semestre. Mas atenção, por enquanto, ainda é muito cedo para se definir se a maioria dos produtores terá ganhos em carregar a soja até lá, considerando os juros praticados no país (ver comentário passado). Importante se faz lembrar que um volume significativo de soja e milho ainda não foi comercializado, o que irá pressionar os preços e prêmios no segundo semestre, fato que se soma ao grave problema de logística que nosso país possui. E no Centro-Sul brasileiro, com a entrada de uma safrinha de milho recorde, os produtores pressionarão para vender a soja a fim de abrirem espaço em seus armazéns e silos. Assim, continuará havendo pressão baixista sobre os preços, a qual se confrontará com os elementos altistas já citados.
Enfim, as exportações de soja, pelo Brasil, em maio, deverão atingir a 15,8 milhões de toneladas, segundo a Anec. A safra recorde no país e a forte quebra na produção argentina estão levando a vendas maiores, tanto do grão quanto do farelo, por parte do Brasil. A atual projeção para maio representa um aumento ao redor de 5,5 milhões de toneladas em comparação com maio do ano passado. No caso do farelo de soja, a exportação deverá ser também a maior já vista em um mês, somando 2,6 milhões de toneladas.
Em tal contexto, a Abiove estima que o Brasil poderá exportar mais de 21 milhões de toneladas de farelo de soja em 2023, e atingir a quase 94 milhões de toneladas em grãos da oleaginosa. O aumento na produção de farelo se deve a um esmagamento maior para atender a demanda de óleo de soja a fim de produzir o biodiesel, já que o Brasil aumentou a mistura deste produto vegetal no diesel de petróleo neste ano.
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).