As cotações do trigo em Chicago, para o primeiro mês cotado, chegaram a ultrapassar os US$ 7,00/bushel durante a semana, porém, não se sustentaram e o fechamento desta quinta-feira (30) ficou em US$ 6,92/bushel. Mesmo assim, acima do registrado uma semana antes, que foi de US$ 6,62.
O mercado trabalhou na expectativa dos relatórios do USDA, a serem divulgados no dia 31/03. As projeções privadas dão conta de que a nova safra de trigo estadunidense poderá ficar entre 18,51 e 20,21 milhões de hectares semeados, com a média chegando a 19,77 milhões. Isso está abaixo dos 20,03 milhões indicados em fevereiro, durante o Fórum Outlook do governo dos EUA, porém, acima da área semeada no ano anterior, que foi de 18,51 milhões de hectares. O analista privado Farm Futures avança uma área de 18,51 milhões, ou seja, idêntica a do ano anterior.
Dito isso, no lado da comercialização do cereal, a Rússia está considerando que os preços mundiais do trigo estão, agora, muito baixos e vem avaliando formas de diminuir suas exportações, visando forçar uma alta das cotações. Esse movimento também ajudou à subida do bushel nesta semana em Chicago.
Por sua vez, os EUA embarcaram, na semana encerrada em 23/03, a um total de 392.484 toneladas de trigo, com este volume ficando dentro das expectativas do mercado. No acumulado do ano comercial atual, os embarques chegam a 16,7 milhões de toneladas, ou seja, 1% abaixo do registrado em igual período do ano anterior.
E na Europa, a produção total de trigo deste ano foi aumentada para 144,5 milhões de toneladas junto aos 27 países da União Europeia, mais o Reino Unido. No ano anterior o volume chegou a 142,3 milhões. As maiores colheitas são esperadas principalmente na Espanha, Itália, Hungria e países dos Bálcãs. (cf. Cocera)
Para a colza, a região deverá colher 21,1 milhões de toneladas e para o milho o volume a ser colhido foi reduzido para 62,3 milhões, contra 64,5 milhões da previsão anterior, porém, ainda bem acima da frustrada safra anterior, que ficou em 52,5 milhões de toneladas.
E no Brasil, os preços do trigo se mantiveram com viés de baixa. Enquanto a média gaúcha permaneceu em R$ 78,26/saco, e as principais praças do Estado em R$ 78,00, no Paraná houve novo recuo, agora de dois reais por saco, com a média ficando entre R$ 83,00 e R$ 84,00.
A ausência de compradores, com os moinhos indicando estarem abastecidos, é um dos elementos principais das baixas.
Dito isso, o primeiro levantamento de intenção de plantio, para a nova safra de trigo brasileira, dá conta de uma área total de 3,46 milhões de hectares, com um avanço de 5,1% sobre a do último ano. O custo de produção menor e a manutenção de preços relativos ainda firmes estariam no centro deste comportamento. (cf. Safras & Mercado)
Mas este movimento tende a ser mais expressivo no Paraná, já que no Rio Grande do Sul, além da forte queda nos preços, há dificuldades para se escoar o produto da últimas safra.
No Paraná, o milho safrinha é plantado em municípios mais ao norte. Na safra passada, o milho roubou área de trigo. Neste ano, o movimento deve ser contrário. Na metade sul, onde não é possível o plantio do milho safrinha, as áreas plantadas no ano passado foram grandes, inclusive em municípios que não têm tradição em plantio. Na próxima temporada, é possível que haja um leve declínio. A estimativa é de um aumento estadual de 4,5% na área de trigo. Já no Rio Grande do Sul, o mercado estaria esperando um aumento de 5% na área semeada, baseado na venda de sementes, que está em bom ritmo. (cf. Safras & Mercado)
Pelo sim ou pelo não, em tal contexto, e em clima positivo, o país poderá alcançar novo recorde de produção, atingindo a 12,07 milhões de toneladas, com o Rio Grande do Sul subindo para 6,25 milhões e mantendo-se como maior produtor nacional, seguido pelo Paraná com 4,08 milhões de toneladas (+4,6%), Santa Catarina com 473.000 toneladas (+2,8%), São Paulo 455.000 toneladas, Minais Gerais 400.000 toneladas, Goiás/DF com 230.000 toneladas, Bahia com 100.000 toneladas e Mato Grosso do Sul com 82.000 toneladas. (cf. Safras & Mercado) Mas tudo isso dependerá essencialmente do clima, o qual, com a entrada do fenômeno El Niño, no lugar do La Niña, tende a ser bem diferente neste 2023, em relação aos últimos três anos. A possibilidade de ocorrência de mais chuva e temporais se torna concreta para este ano, além das geadas no inverno.
Enfim, o Conselho Nacional de Biossegurança (CNBS) tem até o dia 5 de abril para decidir sobre o plantio, no Brasil, de trigo transgênico. O plantio foi aprovado no dia 1º de março pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Em não tomando uma posição até lá, o plantio fica liberado automaticamente. Por sua vez, o referido Conselho recebeu ofício de organizações da sociedade civil pedindo o cancelamento da liberação do cultivo de trigo transgênico HB4 e a importação de farinha de trigo transgênico HB4.
É bom dizer que o presidente da CTNBio lembrou que a farinha de trigo transgênico já está liberada para consumo no Brasil desde 2021. Esse trigo poderia ser produzido na Argentina ou em qualquer outro país e trazido para o Brasil. Ele é tolerante a um herbicida denominado glufosinato de amônio. Esse herbicida já vem sendo utilizado pelos agricultores, não no momento do plantio, para controlar plantas daninhas, mas como dessecante, no final do ciclo, já com os grãos de trigo formados, para matar a planta. “Para ser colhida, a planta do trigo precisa estar morta, precisa estar seca”.
Segundo ainda o referido presidente, não é novidade utilizar esse herbicida na cultura do trigo, pois o mesmo já vem sendo utilizado em larga escala, principalmente nos Estados da Região Sul do país. Visando dirimir dúvidas deste porte, a Embrapa Trigo está fazendo, no momento, avaliações a campo do material geneticamente modificado. (cf. Notícias Agrícolas)
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Fonte: Informativo CEEMA UNIJUI, do prof. Dr. Argemiro Luís Brum¹
1 – Professor Titular do PPGDR da UNIJUI, doutor em Economia Internacional pela EHESS de Paris-França, coordenador, pesquisador e analista de mercado da CEEMA (FIDENE/UNIJUI).