A incidência de doenças foliares na cultura da soja pode ocasionar perdas significativas de produtividade na cultura, essas doenças se destacam como o grupo que requer o maior uso de controle químico nos programas de manejo. Entre as doenças foliares mais relevantes, incluem-se a ferrugem-asiática (Phakopsora pachyrhizi), o complexo de doenças de final de ciclo, como o crestamento de Cercospora (Cercospora spp.) e a mancha-parda (Septoria glycines), a mancha- alvo (Corynespora cassiicola) e o oídio (Erysiphe diffusa) (Meyer et al., 2023).

A ferrugem-asiática da soja é considerada a doença mais severa que acomete a cultura, podendo provocar perdas significativas de até 90% nas lavouras de soja. Isso ocorre devido à desfolha precoce, comprometendo a formação, enchimento de vagens e o peso final dos grãos (Godoy et al., 2023). O complexo de doenças de final de ciclo (DFC), que incluem a cercospora e a mancha-parda, podem ocorrer de forma isolada ou ainda, simultaneamente na lavoura, as doenças podem estar presentes durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura e, o principal dano ocasionado também é a desfolha precoce (Godoy et al., 2023).

A mancha-alvo é uma doença favorecida pela ocorrência de chuvas bem distribuídas, ocasionando danos de até 40% de produtividade em cultivares suscetíveis (Godoy et al., 2023). Com relação ao oídio, a infecção pode ocorrer em qualquer estádio de desenvolvimento da cultura, as condições favoráveis para seu desenvolvimento incluem a baixa umidade relativa do ar e temperaturas amenas, em torno de 18° e 24° C (Henning et al., 2014).

O uso de bioinsumos tem se expandindo na agricultura brasileira, impulsionado por benefícios diretos e indiretos, frequentemente associados a baixos custos de investimentos. A aplicação de produtos biológicos se destaca como uma ferramenta no manejo de doenças na soja, para o controle de doenças na parte aérea na cultura da soja, o gênero Bacillus é o único que apresenta registro até o momento (Seixas et al., 2022).

Figura 1. Fungicidas microbiológicos a base de Bacillus spp. registrados por alvo biológico, na cultura da soja.

Fonte: Seixas et al. (2022).

Com o objetivo de avaliar o efeito da associação de fungicidas químicos e biológicos no controle de doenças foliares da soja, os experimentos cooperativos realizados na safra 2022/2023 buscam preencher a lacuna de trabalhos de experimentais de campo sobre o assunto, bem como a sua relevância para a sustentabilidade no sistema produtivo da soja. Os experimentos foram realizados em duas épocas de semeadura, com o propósito de avaliar as diferentes condições de pressão de inóculo. Eles foram conduzidos em 20 locais distribuídos pelos estados do Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Tocantins e Bahia.

Os protocolos de pulverização dos ensaios foram desenvolvidos combinando aplicações de fungicidas biológicos e químicos, tanto de forma isolada como em misturas de tanque. As aplicações dos fungicidas biológicos foram realizadas no estádio V4 de desenvolvimento da soja, em associação com o glifosato, com a segunda aplicação entre 45-50 dias após a emergência (DAE). Nos ensaios da segunda época de semeadura, uma terceira aplicação de fungicidas biológicos foi realizada 14 dias após a segunda aplicação. Foram implementados programas de fungicidas químicos que incluíram aplicações iniciadas aos 45-50 DAE, compreendendo três aplicações com intervalos de 18 dias nos ensaios da primeira época de semeadura e quatro aplicações com intervalos de 14 dias no protocolo da segunda época.

O programa 1, da primeira época de semeadura, foi composto por picoxistrobina (60 g ha-1) & benzovindiflupir (30 g ha-1) (Vessarya® 0,6 L p.c. ha-1) + adjuvante Quid® (0,2 L ha-1) na primeira aplicação. Azoxistrobina (94 g ha-1) & tebuconazol (112 g ha-1) & mancozebe (1194 g ha-1) (Tridium® 2,0 L p.c. ha-1) + adjuvante Strides® (0,25 % v v-1) na segunda aplicação. E na terceira aplicação por difenoconazol (75 g ha-1) & ciproconazol (45 g ha-1) (Cypress® 0,3 L p.c. ha-1) + clorotalonil (1080 g ha-1) (Bravonil® 1,5 L p.c. ha-1).

Figura 2. Tratamentos combinando fungicidas biológicos e químicos para controle de doenças foliares da soja dos ensaios da primeira época de semeadura, realizados na safra 2022/2023.

Fonte: Meyer et al. (2023).

O programa 2, da segunda época de semeadura, foi composto por bixafen (62,5 g ha-1) & protioconazol (87,5 g ha-1) & trifloxistrobina (75 g ha-1) (Fox® Xpro 0,5 L p.c. ha-1) + adjuvante Aureo (0,25 % v v-1) na primeira aplicação. Piraclostrobina (65 g ha-1) & epoxiconazol (40 g ha-1) & fluxapiroxade (40 g ha-1) (Ativum® 0,8 L p.c. ha-1) + adjuvante Mees (0,25 % v v-1) na segunda aplicação, azoxistrobina (94 g ha-1) & tebuconazol (112 g ha-1) & mancozebe (1194 g ha-1) (Tridium® 2,0 L p.c. ha-1) + adjuvante Strides® (0,25 % v v-1) na terceira aplicação. E na quarta aplicação por difenoconazol (75 g ha-1) & ciproconazol (45 g ha-1) (Cypress® 0,3 L p.c. ha-1) + clorotalonil (1080 g ha-1) (Bravonil® 1,5 L p.c. ha-1).

Figura 3. Tratamentos combinando fungicidas biológicos e químicos para controle de doenças foliares da soja dos ensaios da segunda época de semeadura, realizados na safra 2022/2023.

Fonte: Meyer et al. (2023).

Nos ensaios de primeira época de semeadura, a média de severidade de DFC atingiu 31,6 % na testemunha sem aplicação no tratamento T1. No tratamento T2, utilizando apenas o programa de controle químico, houve uma redução significativa na severidade da doença. A adição de difenoconazol no tratamento T3, bem como a incorporação de produtos biológicos nos tratamentos T4 a T8, resultaram em um aumento de 16% a 18% no controle de DFC em comparação com o tratamento T2.

A média de severidade da ferrugem-asiática, foi de 27,4% na testemunha sem aplicação T1.  O tratamento T4, que incluiu B. subtilis + programa de controle químico, demonstrou um controle superior em relação ao tratamento T2 (somente com o programa de controle químico), além disso, todos os outros tratamentos tiveram níveis de controle semelhantes aos observados nos tratamentos T2 e T4.

Em relação à mancha-alvo, a severidade foi de 18,6% no tratamento T1 (testemunha sem aplicação). O tratamento T2 (controle químico padrão) teve um efeito significativo na redução da severidade da doença. No entanto, esse efeito foi superado pelos tratamentos T5 (B. subtilis + B. pumilus + B. velezensis + programa de controle químico) e T8 (Cerevisane + programa de controle químico). Os tratamentos T4 (B. subtilis + programa de controle químico) e T3 (programa de controle químico com uma aplicação de fungicida químico em V4) foram semelhantes ao tratamento T5, mas não mostraram diferenças em relação ao tratamento T2.

A incidência de doenças provocou a redução de 19% na produtividade no tratamento T1 (testemunha sem aplicação). Todos os demais tratamentos resultaram em um aumento na produtividade. Contudo, não foi observado um efeito significativo da adição do tratamento químico no estádio V4 no tratamento T3, nem em qualquer dos produtos biológicos proposto no programa de fungicidas.

Figura 4. Severidade de doenças de final de ciclo (DFC), ferrugem-asiática (Ferrugem), mancha-alvo (M. Alvo) e respectivos percentuais de controle (C) em relação ao tratamento T2, produtividade (Prod.) e percentual de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos, nos experimentos da primeira época de semeadura. Média de seis locais para severidade de DFC, quatro locais para ferrugem-asiática, cinco locais para mancha-alvo e 12 locais para produtividade. Safra 2022/2023.

Fonte: Meyer et al. (2023).

Nos ensaios de segunda época de semeadura, a severidade média de DFC foi de 30,5% no tratamento T1 (testemunha sem aplicação) e de 12,7 % no tratamento T2 (somente com o programa de controle químico). O único tratamento que apresentou controle superior em relação ao tratamento T2 em foi o T3 (programa de controle químico mais uma aplicação de fungicida químico em V4). O tratamento T4 demonstrou um efeito semelhante ao T3, mas também foi semelhante ao tratamento T2. Não foi observado incremento de controle das doenças com a associação de nenhum dos produtos biológicos.

Quanto à ferrugem-asiática, a severidade média no tratamento T1 (testemunha sem aplicação) atingiu 56%. Não foram observadas diferenças significativas no controle entre os tratamentos fungicidas, seja com ou sem a associação com produto químico em V4 (T3), ou qualquer um dos produtos biológicos.



Na mancha-alvo, a severidade média no tratamento T1 foi de 30%. No tratamento padrão T2, observou-se a redução na severidade da doença. O tratamento químico em V4 (T3), assim como qualquer um dos produtos biológicos, não mostrou diferença significativa em relação ao tratamento T2. No entanto, o tratamento T8 (Cerevisane + programa de controle químico) apresentou um controle inferior ao tratamento T2, que consiste apenas no programa de controle químico.

Com relação as avaliações de oídio, foi observada uma severidade média de 30,1% no tratamento T1. O tratamento padrão T2, reduziu a severidade da doença. Tanto o tratamento químico em V4 (T3) quanto qualquer um dos produtos biológicos, não demonstraram diferenças significativas em relação ao T2.  Se tratando da produtividade, no tratamento T1, foi observada a redução de 25% devido a incidência de doenças. Os tratamentos T3 e demais tratamentos com produtos biológicos não apresentaram diferenças significativas entre si ou do tratamento padrão T2.

Figura 5. Severidade de doenças de final de ciclo (DFC), ferrugem-asiática (Ferrugem), mancha-alvo (M. Alvo), oídio e respectivos percentuais de controle (C) em relação ao tratamento T2, produtividade (Prod.) e percentual de redução de produtividade (RP) em relação ao tratamento com a maior produtividade, para os diferentes tratamentos, nos experimentos da segunda época de semeadura. Média de seis locais para severidade de DFC, sete locais para ferrugem-asiática, três locais para mancha-alvo e oídio, e 13 locais para produtividade. Safra 2022/2023.

Fonte: Meyer et al. (2023).

Os resultados dos ensaios demonstraram a eficiência no controle de doenças foliares durante a primeira época, melhorando o desempenho ao manejo exclusivo com o manejo químico e com desempenho semelhante ou até superior ao acréscimo do difeconazol aplicado no estádio V4.

No entanto, nos ensaios realizados em segunda época, não foi observado acréscimo em eficiência ao manejo químico padrão. Em ambas as épocas de semeadura, foi possível observar aumento em termos de produtividade com manejo químico padrão, mas não houve melhora em eficiência com o acréscimo do controle químico em V4 ou com o uso de produtos biológicos.

Confira os resultados completo dos ensaios cooperativos aqui!


Veja mais: Eficiência de Fungicidas para o Controle das Doenças de Final de Ciclo da Soja, na Safra 2022/2023 



Referências:

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEM-ASIÁTICA DA SOJA, Phakopsora pachyrhizi, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Circular técnica 195, Embrapa. Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154837/1/Circ-Tec-195.pdf >, acesso em: 25/10/2023.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA MANCHA-ALVO, Corynespora cassiicola, NA CULTURA DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Circular Técnica 194, Embrapa, Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154756/1/Circ-Tec-194.pdf >, acesso em: 25/10/2023.

GODOY, C. V. et al. EFICIÊNCIA DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DAS DOENÇAS DE FINAL DE CICLO DA SOJA, NA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DOS ENSAIOS COOPERATIVOS. Circular técnica 193, Embrapa. Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1154333/1/Cir-Tec-193.pdf >, acesso em: 25/10/2023.

HENNING, A. A. et al.  MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE DOENÇAS EM SOJA. Documentos 256, 5° ed., Embrapa Soja, Londrina – PR, 2014. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/105942/1/Doc256-OL.pdf >, acesso em: 25/10/2023.

MEYER, M. C. et al. AVALIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE FUNGICIDAS QUÍMICOS E BIOLÓGICOS NO CONTROLE DE DOENÇAS FOLIARES DA SOJA SAFRA 2022/2023: RESULTADOS SUMARIZADOS DA REDE DE EXPERIMENTOS COOPERATIVOS. Embrapa, circular técnica 198. Londrina – PR, 2023. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/doc/1157438/1/Circ-Tec-198.pdf >, acesso em: 25/10/2023.

SEIXAS, C. D. S. et al. BIOINSUMOS PARA O MANEJO DE DEONÇAS FOLIARES NA CULTURA DA SOJA. Bioinsumos na cultura da soja, cap. 19. Disponível em: < https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/234840/1/Bioinsumos-na-cultura-da-soja.pdf >, acesso em: 25/10/2023.

Foto de capa: Maurício Stefanelo – Ceres Consultoria.

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