Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário
Mais segmentos relatam temor de prejuízos e crise
Uma semana após o anúncio da sobretaxa de 50% sobre todas as exportações brasileiras, feito pelo presidente americano Donald Trump, as diversas cadeias produtivas ainda tentam assimilar o choque, estimar possíveis prejuízos e organizar uma reação coordenada com autoridades, entidades de representação e empresários. O Portal SNA tem se debruçado sobre o impacto da taxação, que deve vigorar a partir de 1 de agosto, sobre diversos segmentos agropecuários, em especial aqueles que escoam parte considerável de sua produção para os Estados Unidos, a exemplo do suco de laranja, pescados, carne bovina e café.
Cabe salientar que o ineditismo da decisão do republicano causou forte abalo em cultivos que já vinham sofrendo por questões não tributárias, caso do café, que teve safras recentes abaixo do esperado em função da irregularidade de chuvas nas principais regiões produtoras e cotações oscilantes no mercado internacional, entre outros fatores. Foi uma das commodities com preço mais elevado internamente, na alta inflacionária de gêneros alimentícios em meses recentes, conjuntura que também recebeu atenção deste Portal.
Com o passar dos dias, outros segmentos muito dependentes das exportações para os americanos também verbalizam sua preocupação e calculam a viabilidade de seus negócios, caso a nova alíquota entre de fato em vigor. É o que acontece como o setor florestal, cujos produtos de alto valor agregado (madeira processada, papel, celulose e painéis) têm os Estados Unidos como principal destino.
Nesse sentido, além da taxação direta sobre as indústrias exportadoras, há o receio de um efeito cascata sobre segmentos secundários que dependem de embalagens e insumos de madeira, como o alimentício e o automotivo. A Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci) mobilizou o setor para buscar soluções. De acordo com a entidade, os americanos respondem por 40% das exportações brasileiras de madeira.
Em 2024, as exportações brasileiras de produtos florestais para os Estados Unidos totalizaram US$ 1,6 bilhão, de acordo com dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX). A preocupação vai além, pois, desde março, por ordem de Trump, Departamento de Comércio dos Estados Unidos iniciou uma investigação para avaliar se a dependência de madeira importada representa um risco à segurança nacional do país. A análise no impacto das importações foi uma ordem de Trump, com base na seção 232 da Lei de Expansão Comercial dos Estados Unidos, criada em 1962. O Brasil é um dos países investigados. O resultado pode levar à imposição de tarifas adicionais, cotas de importação ou outras medidas restritivas.
Força tarefa para buscar alternativas e articular resposta adequada
O governo federal montou uma força tarefa, sob o comando do Vice – Presidente e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin. Ele vem se reunindo com lideranças empresariais, órgãos de classe, bancadas parlamentares e diplomatas, para traçar a melhor estratégia de resposta e buscar alternativas aos produtos brasileiros que tem como principal destino os Estados Unidos. O Ministério da Agricultura, como o Portal SNA mostrou, já coordena um movimento para mapear opções entre os parceiros comerciais do país, bem como prospecta novos mercados que já vinham em tratativas avançadas.
No grupo com que Alckmin vem se reunindo, figuras do setor agropecuário assumem destaque, e exercem interlocução importante para minimizar possíveis perdas. É o caso de Roberto Perosa, da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Após reunião com Alckmin e Carlos Fávaro, Ministro da Agricultura, Perosa declarou em coletiva de imprensa que há 30 mil toneladas de carne bovina nos portos brasileiros para serem embarcadas aos Estados Unidos ou em navios a caminho do país. O volume representa entre US$ 150 milhões e US$ 160 milhões em exportações do setor que podem ser impactados com a tarifa de 50% que os norte-americanos querem aplicar a partir de 1 de agosto.
Já a aplicação da Lei de Reciprocidade, regulamentada por decreto pelo governo no início da semana, parece não ser uma opção prioritária. A aposta, por enquanto, é na articulação entre os setores público e privado, com a ajuda de entidades norte-americanas. Pavel Cardoso, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), outro que também se reuniu com Fávaro e Alckmin, disse a jornalistas após o encontro que a saída é através da diplomacia, respeitando o histórico de relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.
A Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), através de seu presidente, deputado federal Pedro Lupion (PP – PR), fez eco a essa avaliação. Segundo ele, em coletiva de imprensa, a Lei de Reciprocidade poderia ter implicações extremamente severas, especialmente nas questões de propriedade intelectual, de royalties e patentes, afetando tanto as empresas brasileiras, quanto as americanas. Por isso mesmo, sua aplicação deve ser reservada à última instancia, quando não for possível mais nenhum diálogo. Lupion também enfatizou que a FPA tem conduzido suas próprias negociações, conversado com especialistas, membros do corpo diplomático, empresas e setores que são diretamente afetados.
O Senado Federal prepara uma comitiva para ir aos Estados Unidos ainda este mês, no intuito de dialogar diretamente com autoridades americanas. A senadora Tereza Cristina (PP – MS), que integra a FPA e já foi Ministra da Agricultura, é cotada para compor o grupo que tentará uma reversão do cenário junto ao governo Trump.
Com informações da Abimci, Abiec, Abic, Ministérios da Agricultura, do Desenvolvimento e Comércio (SECEX) e FPA.
Fonte: SNA