O capim pé-de-galinha (Eleusine indica) é uma espécie pertencente à família Poaceae (Gramineae). De acordo com Lorenzi (2014), trata-se de uma espécie anual ou perene, formando touceiras densas de 30 a 50 cm de altura. Possui porte ereto, e suas raízes são fortemente enraizadas no solo. Sua inflorescência é do tipo espiga, longas e estritas verticiladas no ápice do colmo (Embrapa).
Figura 1. Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica).
Lorenzi (2014), afirma ainda, que sua reprodução ocorre exclusivamente através das sementes, as quais são facilmente dispersas pelo vento. Andrade Junior et al. (2018), destacam que o capim pé-de-galinha produz aproximadamente 40 mil sementes por planta. Possui o colmo achatado e a inflorescência terminal digitada que caracteriza a espécie. Seu ciclo de desenvolvimento é anual e varia de 120 a 180 dias. Pode ser encontrada infestando culturas como soja, milho, sorgo, trigo, algodão, entre outras (HRAC, 2022).
Figura 2. Sementes de E. indica.
De acordo com Andrade Junior et al. (2018), o capim pé-de-galinha é originário da África e de regiões temperadas e tropicais da Ásia, mas é encontrado em todo o mundo, incluindo áreas tropicais, subtropicais e temperadas. Nas Américas, sua distribuição estende-se dos Estados Unidos até a Argentina, incluindo o Brasil. Os autores destacam que essa espécie tem sido identificada como invasora em mais de 60 países, afetando mais de 50 culturas diferentes. Além disso, serve como hospedeira para vários agentes fitopatogênicos que também atacam plantas cultivadas, como Helminthosporium spp., Meloidogyne incognita, Rotylenchus reniformis e Pratylenchus pratensis.
Takano et al. (2017), destacam que as características peculiares da espécie como mecanismo fotossintético do tipo C4, rápido crescimento e grande produção de sementes, as quais são capazes de germinar em diversas condições de solo, incluindo alta salinidade, pH elevado ou baixo, compactação e ampla variedade de temperaturas, conferem a essa espécie uma vantagem competitiva no ambiente.
No mundo são registrados 37 casos de resistência de Eleusine indica à herbicidas, de acordo com Heap (2023), o primeiro relato de resistência de E. indica no Brasil ocorreu no ano de 2003 na cultura da soja, a resistência aos inibidores da ACCase (Acetil-CoA carboxilase) aos ingredientes ativos cihalofop-butil, fenoxaprop-etila e setoxidim. Em 2016, foi registrado no Brasil o primeiro caso de resistência aos Inibidores da EPSP’s (Inibidores da Enolpiruvil Shiquimato Fosfato Sintase) ao glifosato na cultura do milho, soja e trigo.
Já em 2017, foi registrado o primeiro caso de resistência múltipla a dois mecanismos de ação, aos inibidores da ACCase e aos inibidores da EPSP’s, aos ingredientes ativos fenoxaprop-etila, glifosato e haloxifop-metil. Essa resistência múltipla foi observada nas culturas do feijão, milho, algodão e soja.
Figura 3. Casos de Resistência de E. indica no Brasil.
Franco et al. (2017), afirmam que embora E. indica apresente resistência de baixo nível (RBN) ao herbicida glifosato, isso acarreta falhas de controle dessa espécie em lavouras de soja. Essa situação torna o manejo de plantas daninhas mais complexo, principalmente em áreas onde o glifosato é o herbicida utilizado no controle de plantas daninhas.
Em áreas infestadas por capim-pé-de-galinha, podem ocorrer perdas na produção superiores a 80%, dependendo da densidade populacional, cultura e demais características ambientais. Por isso, o manejo e controle eficiente dessa planta daninha é indispensável (HRAC, 2022). Calegarim et al. (2019), observaram que a presença de capim pé-de-galinha reduziu a produção da soja em média 88,8%.
Benedetti et al. (2009), observaram que até 25 dias após a emergência, a convivência de E. indica com a cultura da soja, não causou interferência significativas de produção, já a partir de 25 dias após emergência (DAE) a cultura da soja passou a ser afetada negativamente. Takano et al. (2016), afirmam que durante o período entre 38 e 43 dias após a emergência, a planta de capim pé-de-galinha apresenta rápida emissão de novos perfilhos, acompanhado por um acúmulo exponencial de matéria seca e aumento substancial na taxa de crescimento. Nesse contexto, os autores recomendam que para um manejo eficaz de E. indica, ele deve ser realizado antes dos 38 dias após sua emergência, devido ao crescimento exponencial que ocorre após esse período, visando evitar a produção de sementes e sua disseminação na área de cultivo e para outras áreas.
Para o controle de E. indica e manejo de resistência a herbicidas, é importante preconizar pela rotação de mecanismos de ação de herbicidas, utilizando as doses recomendadas de herbicidas, além disso, o uso de pré emergentes é essencial, quando o controle for realizado em pós emergência, deve-se controlar nos estádios iniciais de desenvolvimento da planta daninha, preferencialmente quando as plantas apresentarem até um perfilho. Tekano et al. (2017), destacam que o uso de herbicidas residuais é determinante para o manejo do capim pé-de-galinha, uma vez que a maioria dos herbicidas aplicados em pós emergência controlam apenas plantas pequenas. Além do uso de herbicidas, é importante o uso de culturas de cobertura do solo, que dificultam a germinação das sementes presentes no solo e demais práticas recomendadas para o manejo de resistência a plantas daninhas.
Figura 4. Recomendação para o Manejo de Resistência a Plantas Daninhas.
Veja mais: Caruru (Amaranthus hybridus)
Referências:
ANDRADE JUNIOR, E. R.; CAVENAGHI, A. L.; GUIMARÃES, S. C.; SCOZ, L. B. CAPIM-PÉ-DE-GALINHA (Eleusine indica) EM MATO GROSSO: RESISTÊNCIA A HERBICIDAS INIBIDORES DA ACCASE E INDICAÇÃO DE SÍTIOS DE AÇÃO ALTERNATIVOS. Circular técnica n. 38, Instituto Mato-Grossense do Algodão, 2018. Disponível em: < https://upherb.com.br/ebook/circular_tecnica%20IMA%2038.pdf >, acesso em: 29/08/2023.
BENEDETTI, J. G. R. et al. PERÍODO ANTERIOR A INTERFERÊNCIA DE PLANTAS DANINHAS EM SOJA TRANSGÊNICA. Scientia Agraria, v. 10, n. 4, p. 289-295. Curitiba – PR, 2009. Disponível em: < https://revistas.ufpr.br/agraria/article/download/14801/10003 >, acesso em: 29/08/2023.
CALEGARIN, J. A. et al. INTERFERÊNCIA DO CAPIM-PÉ-DE-GALINA NA CULTURA DA SOJA. Congresso Brasileiro de Fitossanidade, Curitiba – PR, 2019. Disponível em: < http://fitossanidade.fcav.unesp.br/seer/index.php/anaisconbraf/article/view/432/346 >, acesso em: 29/08/2023.
EMBRAPA. CAPIM-PÉ-DE-GALINHA (Eleusine indica). Disponível em < http://panorama.cnpms.embrapa.br/plantas-daninhas/identificacao/folhas-estreitas/capim-pe-de-galinha-eleusine-indica >, acesso em: 29/08/2023.
FRANCO, J. J. et al. COMPETITIVIDADE RELATIVA DE BIÓTIPOS DE CAPIM PÉ-DE-GALINHA COM A CULTURA DA SOJA. Revista Caatinga, v. 30, n. 2, 2017. Disponível em: < https://periodicos.ufersa.edu.br/caatinga/article/view/4068 >, acesso em: 29/08/2023.
HEAP, I. BANCO DE DADOS INTERNACIONAL DE ERVAS DANINHAS RESISTENTES A HERBICIDAS. Online, 2023. Disponível em: < http://www.weedscience.org/Pages/Species.aspx >, acesso em: 29/08/2023.
HRAC. CAPIM-PÉ-DE-GALINHA: SAIBA MAIS SOBRE ESSA PLANTA DANINHA. Comitê de Ação a Resistência aos Herbicidas, 2022. Disponível em: < https://www.hrac-br.org/post/capim-p%C3%A9-de-galinha-saiba-mais-sobre-essa-planta-daninha >, acesso em: 29/08/2023.
LORENZI, H. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO E CONTROLE DE PLANTAS DANINHAS: PLANTIO DIRETO E CONVENCIONAL. Instituto Plantarum, ed. 7. Nova Odessa – SP, 2014.
TAKANO, H. K; OLIVEIRA JR, R. S.; CONSTANTIN, J. COMO LIDAR COM A RESISTÊNCIA DE CAPIM-PÉ-DE-GALINHA. Revista Cultivar, Grandes Culturas ed. 220, 2017. Disponível em: < https://revistacultivar.com.br/artigos/como-lidar-com-a-resistencia-de-capim-pe-de-galinha >, acesso em: 29/08/2023.
TEKANO, H. K. et al. CRESCIMENTO, DESENVOLVIMENTO E PRODUÇÃO DE SEMENTES DE CAPIM-PÉ-DE-GALINHA. Sociedade Brasileira da Ciência das Plantas Daninhas, v. 34, n. 2, p. 249-257. Viçosa – MG, 2016. Disponível em: < https://www.scielo.br/j/pd/a/ghDFZ8G4XGG5wF8rjWYvcsm/?format=pdf&lang=en >, acesso em: 29/08/2023.
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Redação: Vívian Oliveira Costa, Eng. Agrônoma pela Universidade Federal de Santa Maria.